O Staphylococcus aureus resistente à meticilina associado à comunidade (CA-MRSA, nas suas siglas em inglês) foi reconhecido na Europa e em todo o mundo em finais de 1990. Na Europa, a estirpe predominante do CA-MRSA pertence ao complexo clonal 80 (CC80) e é resistente à kanamicina/amikacina e ao ácido fusídico. A CC80 foi detectada pela primeira vez em 1993, mas era relativamente rara até finais de 1990. Desde então foi identificado em todo o Norte de África, Médio Oriente e Europa, e de forma esporádica na África sub-saariana. Ainda que se associa fortemente com infecções de pele e tecidos moles, raras vezes se encontra entre os portadores assintomáticos. As estirpes S. aureus CC80 sensíveis à meticilina (MSSA) são extremamente raras, excepto na África sub-saariana. No presente estudo, aplicou-se a sequenciação de todo o genoma de uma colecção mundial de ambos isolados MSSA e MRSA CC80. As análises filogenéticas sugerem, de forma importante, que a linhagem Europeia da CA-MRSA deriva de um ancestral PVL-positivo MSSA da África sub-saariana. Por outro lado, a topologia da árvore sugere uma só aquisição tanto do elemento SCCmec como de um plasmido que codifica o determinante de resistência ao ácido fusídico. Quatro SNP canónicos distinguem a linhagem CA-MRSA derivado e incluem uma mutação não sinónima no gene acessório regulador C (agrC). Estas alterações associaram-se a uma expansão em forma de estrela na Europa, no Médio Oriente e no Norte de África a principios de 1990, incluindo vários casos de importações cruzadas entre continentes provavelmente impulsionadas pelas migrações humanas.
Importância
Com o aumento dos níveis de CA-MRSA na maior parte do mundo ocidental, há um grande interesse na compreensão da origem e dos factores associados com o aparecimento destas linhagens epidémicas. Para rastrear a origem, a evolução e o padrão de disseminação do clone Europeu CA-MRSA (CC80) realizou-se a sequenciação de uma colecção mundial de estirpes da linhagem S. aureus CC80. O estudo determinou que um só descendente de um antepassado sensível à meticilina PVL-positivo circulante na África sub-saariana chegou para se converter no clone CA-MRSA dominante na Europa, no Médio Oriente e no Norte de África. Na transição de uma linhagem susceptível à meticilina para um clone CA-MRSA cheio de êxito, que se tornou resistente ao mesmo tempo ao ácido fusídico, um antibiótico amplamente usado para infecções de pele e tecidos moles, o que demonstra a importância da selecção de antibióticos. Esta descoberta evidencia, também, a importância das aquisições horizontais de genes e sublinha a importância combinada destes factores para o êxito do CA-MRSA.
Stegger M, Wirth T, Andersen PS, Skov RL, De Grassi A, Simões PM, Tristan A, Petersen A, Aziz M, Kiil K, Cirković I, Udo EE, del Campo R, Vuopio-Varkila J, Ahmad N, Tokajian S, Peters G, Schaumburg F, Olsson-Liljequist B, Givskov M, Driebe EE, Vigh HE, Shittu A, Ramdani-Bougessa N, Rasigade J, Price LB, Vandenesch F, Larsen AR, Laurent F. 2014. Origin and evolution of European community-acquired methicillin-resistant Staphylococcus aureus. mBio 5(5):e01044-14. doi:10.1128/mBio.01044-14.