As tremuras congénitas (TC; mioclonias congénitas) são uma doença esporádica mas distribuída a nível mundial que afecta leitões recém-nascidos e que se caracteriza por mioclonos. Se bem que a doença seja conhecida desde há mais de 100 anos, os casos mais contemporâneos de TC atribuem-se clinicamente a um vírus não identificado.
Os objectivos deste projecto foram: 1) Identificar o agente patogénico(s) potencial através da sequenciação de nova geração nos casos e 2) desenvolver um modelo inovador de inoculação para reproduzir os TC.
A sequenciação de nova geração foi realizada em tecidos a partir de dois casos de campo de TC. Foi detectado um novo agente. Para o segundo objectivo, foram colocadas aleatoriamente 7 porcas cruzadas identificadas individualmente num de três grupos: 1) falsa inoculação aos 45 (n=1) e 62 dias de gestação (n=1), 2) inoculação com pestivírus aos 45 dias de gestação (n=2) e 3) inoculação com pestivírus aos 62 dias de gestação (n=3). As porcas foram anestesiadas e foi-lhes exteriorizado o útero. Foi usado um aparelho de ultra-sons para visualizar cada feto e injectar em cada vesícula fetal 0,25 ml de PBS (simulado) ou soro com pestivírus. As porcas também foram inoculadas simultaneamente por via intravenosa e intranasal. As porcas pariram normalmente. Os leitões foram registados em vídeo às 0, 24 e 48 horas pós-parto para determinar e pontuar a intensidade dos tremores. Os leitões foram abatidos às 48 horas pós-parto.
A partir destes dois casos de campo foi identificado um novo tipo de pestivírus que anteriormente tinha sido relacionado estreitamente com um pestivírus de morcegos chineses e que agora foi mais estreitamente relacionado com um novo pestivírus suíno. A PCR permitiu detectar o ARN do pestivírus em múltiplos tecidos dos leitões afectados de TC mas não nos leitões não afectados. Os leitões recém-nascidos dos grupos de porcas inoculadas com pestivírus aos 45 e 62 dias de gestação foram afectados por TC com uma prevalência nas ninhadas afectadas que ía de 57 até 100%. A intensidade dos tremores variou de leve a grave. O ARN do pestivírus foi detectado por PCR em numerosos tecidos na necropsia incluindo no soro, sangue completo, cérebro, cerebelo, tronco cerebral, medula espinal, gânglios linfáticos mesentéricos e gânglios linfáticos traqueobronquiais. Nos leitões controlo não foram observados tremores congénitos nem foi detectado ARN por PCR.
Trata-se do primeiro estudo que identifica um novo pestivírus suíno associado com os tremores congénitos e que reproduz com êxito a doença após a inoculação dos fetos no útero.
Development of congenital tremors following novel Pestivirus inoculation. L. Arruda, Paulo Arruda, Drew R. Magstadt, Kent J. Schwartz, Tyler Dohlman, Jennifer A. Schleining, Abby Patterson, and Joseph Victoria. IPVS, 2016.