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50 dias de Trump

Embora o afluxo de notícias possa fazer parecer o contrário, na realidade, só passaram 50 dias desde a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América.

Estes dados permitem-nos relativizar um pouco este turbilhão de volatilidade e ciclotimia em que os mercados estão mergulhados. No início do ano, previmos que 2025 seria um ano em que o mercado seria movido por tweets e, mais uma vez, todo o mercado está novamente dependente dos 280 caracteres publicados na rede social X pelo Presidente Trump.

Vejamos a perspetiva com dois gráficos. No primeiro, a evolução dos futuros do milho na bolsa de Chicago. A seta vermelha aponta para a tomada de posse de Trump a 20 de Janeiro.

Como podemos ver, durante as primeiras semanas do governo, o mercado de futuros manteve a tendência de subida que vinha a desenvolver-se nos últimos meses. De repente, o início da guerra comercial e a imposição de tarifas começaram a gerar receios no mercado, provocando liquidações de fundos que fizeram baixar o preço.

Por outro lado, vejamos a evolução do par eurodólar.

Neste segundo gráfico, podemos ver a evolução do eurodólar. A primeira seta vermelha corresponde à data das eleições americanas, 5 de Novembro de 2024. Como podemos ver, o euro continuou a sua tendência descendente face ao dólar. A segunda seta vermelha corresponde à tomada de posse de Trump e, como podemos ver, desde a publicação de vários tweets a anunciar a imposição de tarifas, o dólar tem vindo a desvalorizar-se significativamente. As tarifas foram anunciadas, suspensas, reimpostas... sobre produtos canadianos e mexicanos, bem como sobre produtos europeus e chineses.

Para esclarecer, um pouco de teoria macroeconómica: a imposição de tarifas a curto prazo gera um aumento dos preços (inflacção), a indústria local tem de comprar produtos mais caros (devido ao custo da tarifa) ou menos eficientes (produtos locais que até há pouco tempo eram mais caros) para poder continuar a produzir. Em suma, trata-se de um custo para o consumidor final. Por outro lado, as políticas proteccionistas desvalorizam as divisas. A ideia subjacente é que, a longo prazo, esta desvalorização favorece a industrialização e a produção local (neste caso, dos Estados Unidos), o que acaba por atenuar os efeitos negativos das tarifas. No curto prazo, para já, podemos dizer que a incerteza e o medo retiraram uma boa parte dos ganhos do ano passado a índices como o sp500 e o Nasdaq.

As consequências a nível local fizeram-se sentir através de uma descida dos preços dos produtos importados nos portos espanhóis, devido tanto ao impacto da moeda (a descida do dólar, que é a moeda de comércio internacional) como à liquidação de fundos nos mercados de futuros. Em suma, os preços do milho, do trigo, da cevada e do bagaço de soja baixaram. A nível local, a falta de consumo por parte dos produtores de alimentos para animais também contribuiu para a queda dos preços locais. Embora se trate de uma tendência sazonal típica dos finais de Janeiro e Fevereiro, este ano o consumo foi mais afectado. Os compradores locais tiveram também a vantagem de dispor de ofertas de trigo e de milho de origem nacional mais baratas do que o preço de reabastecimento nos portos. Para dar um exemplo, foi possível comprar milho destinado a Lleida a 240 euros/t, quando o preço no porto era de 238 euros/t. Em suma, tudo favoreceu a tendência de descida dos preços até à data.

Ainda assim, muitas incógnitas permanecem no horizonte. No momento em que escrevo, estão a decorrer “conversações de paz” com o apoio da Arábia Saudita para pôr fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Em suma, este ano teve um início agitado e parece que vai continuar a ser agitado nos próximos meses, pelo que teremos de reunir forças para lidar com as notícias do dia a dia! Para recordar, hoje é “apenas” o 70º dia do ano 2025.

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