Vamos ao grão (e nunca melhor dito!), no dia de hoje já podemos afirmar que em Espanha teremos uma grande colheita, possivelmente a melhor dos últimos anos (exceptuando algumas zonas no Douro). Em quantidades, fala-se de 16-18 milhões de Tm de cereais. Para poder comparar, no ano passado a colheita cifrou-se em 11 milhões de Tm, pelo que este ano teremos entre 5 e 7 milhões de Tm mais. Isto é uma notícia excelente, e para mais quando todavia não temos previsões da colheita de milho, ainda que no que ao milho diz respeito o que podemos dizer é que por falta de água não será…. Creio que podemos ser optimistas em prever uma boa colheita ainda que, como sempre, com algumas nuances.
À data de hoje também podemos afirmar que a colheita será boa ou muito boa em todo o Mediterrâneo (o que inclui também o Norte de África) e também no Mar Negro. Por todas as partes só ouvimos falar de milhões de toneladas a mais em relação ao ano passado. A nível mundial o cenário é também muito favorável, pelo menos no conjunto do hemisfério Norte. Até aqui, um panorama perfeito! E então?
Em Espanha a excelente produção de cereais está a trazer importantes atrasos na colheita. Este atraso pressiona em algumas zonas a sementeira do milho, o que poderá afectar a colheita final, ainda que todavia seja cedo para o dizer. Por seu lado, o atraso gera necessidades não previstas pelo fabricante, que esperava poder contar com maior pressão de venda por esta altura do ano. Este facto traduz-se em subidas imediatas dos preços nos portos. No caso do milho, ainda com a descida no Matif que vimos estes últimos dias, pode tratar-se de uma situação não muito desafogada já que a colheita não chega até Setembro (ainda que comece a chegar milho originário do Brasil em Agosto) e, ainda que a partir de Julho se alterem as fórmulas e se altere o seu consumo a favor do trigo e da cevada, há necessidades mínimas que se deverão cobrir com milho nacional, francês e com o que possa ficar nos portos, já que não vejo claro que possa chegar muito milho agora que escasseiam as ofertas na Ucrânia (afirmam que não têm!) e a segunda colheita do Brasil, com sorte, não chegará senão a meados de Agosto. Ao dia de hoje os preços situam-se à volta dos 240 €/Tm tanto no porto como em alguns destinos. Haverá que ver se com a chegada do verão começam a sair ofertas de Nacional e francês que relaxem a situação nos portos.
Quanto aos outros cereais que possam ficar nos portos: trigo, centeio, cevada, a verdade é que excepto o trigo que ainda tem um mês de margem, o resto dos cereais estão obrigados a baixar o preço devido à iminente colheita de cevada.
A grande incógnita é tentar situar os preços durante a campanha da cevada. Nas próximas 2-3 semanas irá-se-á definindo o preço, começando com preços um pouco caros para ir baixando progressivamente à medida que avance a pressão da colheita. Também quero afirmar que durante os próximos 3 ou 4 meses o consumo de cevada será muito importante (se não é assim, e com a colheita que se avizinha, a cevada pode "pesar" muito durante todo o ano).
Centremo-nos agora na proteína, esta apresenta um panorama desolador e não foi por falta de aviso! Apesar das boas colheitas na América do Sul, os preços continuam anormalmente caros. Ao dia de hoje o preço da farinha de alta proteína cotiza-se em cerca de 470 €/Tm para Junho e 445 €/Tm para Julho. Continuamos a suportar, ou melhor a sofrer, os atrasos nos embarques desde o Brasil, os investimentos do mercado e a falta de coberturas por parte dos fabricantes. Todo isto faz com que não cheguem barcos, e se a este facto acrescentamos os fundos que estão a fazer o "seu sol" com a farinha e com os grãos, leva-me a pensar que não veremos “a grande descida” do preço até Julho ou Agosto. Até então, alguma que outra descida relativa e preços descorçoantes.
Para rematar o girassol e a colza com poucas ofertas para o imediato e logicamente a preços caros.
Em todo este cenário tão pouco favorável só os aminoácidos dão um pouco de luz. Não só têm preços baratos para o que está disponível como também para o segundo semestre do ano, o que me faz pensar que continuarão a ser o substituto da soja, diminuindo a sua incorporação na ração.
6 de Junho de 2013