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Caso clínico: A dificuldade em diagnosticar uma patologia respiratória em leitões desmamados

Descrição da Exploração A exploração, de ciclo fechado com 800 mães, encontra-se localizada numa zona com baixa densidade suína em França. A distribuição é a seguinte: O maneio...

Descrição da Exploração



A exploração, de ciclo fechado com 800 mães, encontra-se localizada numa zona com baixa densidade suína em França. A distribuição é a seguinte:


O maneio da zona de maternidades e da zona de baterias e engorda realiza-se de forma separada por duas equipas de pessoal diferentes.
Mantém-se o princípio de "marcha à frente".
O maneio realiza-se mediante 20 bandas com desmame às 3 semanas.
A substituição de primíparas F1 faz-se a cada 6 semanas. Estas são alojadas numa quarentena separada dos demais edifícios.
A alimentação distribui-se em forma de sopa, com fabricaco do alimento na própria exploração.


Aparecimento do Caso



Desde há vários anos a exploração apresenta bons resultados de produtividade, com uma média de 27 a 28 leitões desmamados por porca presente.
A engorda encontra-se actualmente sob controle, em particular após a introdução da vacinação contra o circovirus nas porcas.
Os índices de perdas na engorda situam-se em 2%.

Mortalidade semanal na engorda (Objectivo: menos de 10 mortes/semana)


Desde há várias semanas o suinicultor constata a presença importante de tosse nos leitões, dando-se aproximadamente aos 15 dias pós-desmame. Se bem que o índice de mortalidade seja baixo, os tratamentos antibióticos individuais para tentar limitar as pneumonias são elevados.

O resultado do último controle dos pulmões efectuado no matadouro é o seguinte:

  • 75 pulmões
  • % pulmões indemnes: 89,33
  • % pulmões com lesões extensas (> 5/28) : 1,33
  • Nota global : 0,32/28
  • % pleuresias: 0
  • % abcessos: 1,33


Primeira Visita à Exploração



Várias salas de transição (período de desmame + 3 semanas) encontram-se afectadas com:

  • tosses fortes e numerosas: 60 tosses em 2 minutos numa sala de 200 leitões
  • numerosas dificuldades respiratórias
  • diminuição do consumo de alimento

Medicação utilizada:

  • Tratamento"preventivo" durante os primeiros 10 dias de transição com doxiciclina mediante bomba dosificadora mas sem resultados sobre o aparecimento de tosse.
  • Tratamento "curativo" durante 5 a 7 dias com tilmicosina mediante bomba dosificadora, observando-se uma sensível melhoria ao cabo de 3 a 4 dias de tratamento.

Uma semana antes da visita realizou-se uma necropsia de um leitão doente tratado e enviou-se um pulmão para o laboratorio para realizar histologia e procura de presença de virus gripal. Os resultados são os seguintes:

  • Pulmão com hepatização rubra (pontuação 12/28) e edema interlobular
  • Imunohistoquímica para gripe: negativa
  • Pneumonia catarral com ausência de lesões características de pneumonia enzoótica
  • Ausência de bronquiolite necrosante que sugira presença de gripe


Primeiras Medidas



Após estes resultados decide-se recolher novas amostras e enviamos para o laboratório a amostra de um animal de 42 dias de vida com presença de tosse e problemas respiratórios.

Durante a visita pode-se verificar o carácter localizado dos sintomas respiratórios na transição, com apenas alguns casos no crescimento que correspondiam a leitões que já tossiam quando entraram e pouca presença de tosse na engorda enquanto que no efectivo reprodutor havia ausência total de tosses ou de hipertermias.

Por outro lado, se bem que durante a visita se tenha podido comprovar como o ambiente das salas era normal, decide-se realizar um controle completo do sistema de aquecimento e de ventilação.

Enquanto se esperava pelos resultados decide-se introduzir o seguinte plano profilático:

  • Vacinação monodose contra Mycoplasma aos 28 dias de vida
  • Tratamento com doxiciclina mediante bomba dosificadora numa dose de 10 mg/kg PV durante 10 dias após o desmame
  • Tratamento com tilmicosina mediante bomba dosificadora numa dose de 20 mg/kg PV durante 7 dias a partir do início dos sintomas


Primeiros Resultados das Análises



Necropsia:
Pulmão afectado por pneumonia e pleuresia (15/28)
Bacteriologia sobre as lesões:
Streptococcus suis 7 ao nível dos pulmões, bronquios e pleuras
Haemophilus parasuis ao nível dos pulmões e bronquios.
Antibiograma
Haemophilus parasuis Streptococcus suis 7
Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
Sensível
Sensível
Espectinomicina
Sensível
Sensível
Beta-lactámicos Aminopenicilinas
Amoxicilina
Sensível
Sensível
Beta-lactámicos de 3ª geração
Ceftiofur
Sensível
Sensível
Vários
Tiamulina
Sensível
Sensível
Fluoroquinolonas
Marbofloxacina
Sensível
Sensível
Enrofloxacina
Sensível
Sensível
Macrólidos
Tilosina
Sensível
Resistente
Espiramicina
Intermédia
Resistente
Tilmicosina
Sensível
Resistente
Macrólidos lincosamidas
Lincomicina
Sensível
Resistente
Fenicóis
Florfenicol
Sensível
Sensível
Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
Sensível
Resistente
Sulfamidas e associação
Trimetoprim + Sulfamidas
Intermédia
Sensível
Tetraciclinas
Doxiciclina
Sensível
Resistente
Tetraciclina
Sensível
Resistente
Análises complementares
Mycoplasma hyopneumoniae por PCR em pulmões e lavado traqueobronquial: Negativo
Virus da gripe por PCR em pulmões e lavado traqueobronquial: Negativo
Histologia: pneumonia purulenta multifocal com ausência de lesões que evoquem presença de PCV2, Mycoplasma ou gripe.

Os resultados obtidos não permitem confirmar a hipótese de presença viral mas confirmam a presença de Streptococcus suis 7 e Haemophilus parasuis.


Novas Medidas



Decide-se iniciar a vacinação das porcas mediante autovacina contra o Haemophilus parasuis identificado como SV2, 4, 5, 6, 7, 12 e 14 em serotipado "Kielstein". O programa vacinal que se aplicará será: vacinação das porcas às 6 e 3 semanas antes do parto em primovacinação após a verificação de eventuais reacções locais e gerais numa amostra de 20 porcas.


Evolução do Caso



Três meses depois a patologia respiratória continua se bem que o suinicultor tenha constatado uma remissão durante várias semanas.

Mortalidade e injecções na fase de desmame + 3 semanas
(Objectivos: menos de 5 mortos/semana = 1,2% e menos de 30 a 40 injecções/semana)

A ter em conta em relação ao gráfico anterior:

Semana 27: 1ª visita e análise de um leitão com problemas respiratórios.
Semana 44: Visita de avaliação da situação sanitária.

Assinalam-se 3 períodos:

Período 1: correspondente à presença de epidermite com aumento da mortalidade.
Períodos 2 e 3: 2 passagens de problemas respiratórios em várias semanas sucessivas.


Nova Visita à Exploração



Na transição n°3 (desmame + 3 semanas) constata-se importante presença de tosse, segundo o suinicultor desde há vários dias. O tratamento com tilmicosina iniciado há 3 dias parece melhorar a situação.
Na transição n°6 (desmame + 4 semanas) detecta-se igualmente importante presença de tosse que se iniciou há 4 a 5 dias. Trata-se de uma sala sem vacinar contra o Mycoplasma devido a um ensaio comparativo com ou sem vacinação.

O exame do sistema de ventilação e aquecimento não mostrou anomalias notáveis.

Neste ponto decide-se recolher novamente amostras apesar do tratamento com tilmicosina em curso:

  • Transição n°6: 2 leitões afectados com presença de hipertermia (41ºC), dispneia e tosse para análise bacteriológico e virológico. Na mesma sala recolhem-se 10 amostras de sangue para determinar a cinética dos anticorpos: Mycoplasma (não vacinados) e gripe.
  • Final da engorda: 10 amostras de sangue de animais não vacinados (ensaio de porcos sentinela contra Mycoplasma) para serologias de Mycoplasma hyopneumoniae.

Durante a visita analiza-se a situação dos leitões procedentes de porcas vacinadas contra Haemophilus parasuis. Apesar da vacinação os porcos tossem sempre. Neste ponto devemos ter em conta um elemento um pouco surpreendente: os leitões desmamados de forma precoce (14 dias) alojados em salas especiais (nursery) não tossem ao atingirem a mesma idade que os leitões da mesma banda presentes na transição.


Novos Resultados das Análises


Necropsias
Leitão n° 1 (10 kg)
Leitão n° 2 (10 kg)
Focinho : ligeira erosão dos cornetos inferiores– Pontuação 2/18
Pulmão: forte pneumonia - 15/28
Focinho: nada a destacar
Pulmão: forte pneumonia - 13/28
Perítoneu: forte inflamação
Bacteriologia
Haemophilus parasuis : n°1 e n°2 (pulmão, focinho, peritoneu)
Streptococcus suis 1-2 : n°1 e n°2 (focinho)
Antibiograma
Haemophilus parasuis
Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
Espectinomicina
Sensível
Beta-lactámicos Aminopenicilinas
Amoxicilina
Sensível
Beta-lactámicos de 3ª geração
Ceftiofur
Sensível
Vários
Tiamulina
Sensível
Tulatromicina
Sensível
Fluoroquinolonas
Marbofloxacina
Sensível
Enrofloxacina
Sensível
Macrólidos
Tilosina
Sensível
Espiramicina
Resistente
Tilmicosina
Sensível
Macrólidos Lincosamidas
Lincomicina
Sensível
Fenicóis
Florfenicol
Sensível
Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
Sensível
Sulfamidas e associação
Trimetoprim + sulfamidas
Resistente
Tetraciclinas
Doxiciclina
Sensível
Tetraciclina
Sensível

Em conclusão: resultados contraditórios e decepcionantes!

Sempre se constata a presença de Haemophilus parasuis em lesões que são histologicamente de origem viral.
Visualmente, as lesões parecem-se com lesões de pneumonia enzoótica mas sem presença confirmada de Mycoplasma.

Por fim, se um virus gripal está presente, certamente é muito "escorregadio" já que não se detecta vários dias depois do início da tosse.


Diagnóstico



Decide-se recolher novas amostras com certa precaução:

  • 5 zaragatoas nasais de 5 leitões da transição recolhidos dentro das 72 h que se seguem após o início da tosse (leitões com febre) com o objectivo de verificar uma vez mais a presença ou ausência de um vírus gripal (influenza) mediante PCR.
  • 10 novas amostras de sangue na mesma banda da que já se recolheram amostras (transição n°6) com o objectivo de evidenciar uma eventual seroconversão em gripe (Elisa) e Mycoplasma (Elisa).

Enquanto se espera pelos resultados decide-se:

  • Dar prioridade à luta contra a hipertermia partindo da hipótese da presença viral e utilizando um tratamento mediante bomba dosificadora à base de paracetamol durante 1 semana.
  • O tratamento com tilmicosina atrasa-se até ao final do tratamento com paracetamol.

Resultados das análises

  • Descobrimento de genoma de um vírus gripal nas zaragatoas nasais.
  • Mediante serologia detecta-se um início de seroconversão para gripe (ELISA; 4/10 positivos).
  • Ausência de seroconversão para Mycoplasma ( 10/10 negativos).

Diagnóstico

Podemos concluir que nos encontramos frente a um caso de patologia respiratória precoce em leitões devida à associação de um vírus gripal e Haemophilus parasuis.


Medidas e Evolução do Caso



Decide-se, em conjunto com o suinicultor, dar prioridade a uma "ruptura" na transmissão do vírus da gripe e manter a autovacinação contra a Haemophilus parasuis nas porcas.

Tomam-se as seguintes medidas:

1) Princípio de "marcha à frente" estrito entre as bandas afectadas e as bandas ainda indemnes con mudança de roupa, utilização dos pedilúvios…
2) Desinfecção dos corredores e ao nível das entradas de ar das salas.
3) Contaminação das primíparas de substituição na quarentena para iniciar uma imunidade específica nos reprodutores. Até ao momento não se pôde realizar a tipagem do vírus.
4) Finalmente, estudo económico do arranque de uma vacinação contra o H1N1 e H3N2 no efectivo reprodutor.


Comentários



Este caso descreve uma patologia respiratória precoce em leitões associando um vírus gripal e Haemophilus parasuis que se deu numa exploração suína francesa de ciclo fechado com 800 porcas situada numa zona de baixa densidade. O caso inicia-se quando o suinicultor detecta uma importante presença de tosse nos leitões, por volta dos 15 dias pós-desmame, que se bem que não esteja a dar mortalidades elevadas, tem feito aumentar os tratamentos individuais. Nas salas afectadas detecta-se tosse, problemas respiratórios e diminuição no consumo de ração.

Este caso clínico apresenta a dificuldade de conseguir um diagnóstico preciso na patologia respiratória. Após muitos esforços, pôde-se evidenciar a presença de um vírus gripal nos leitões.

Ainda que o tipo de vírus não tenha sido determinado (H1N2 ou H1N1), o diagnóstico é suficiente para concluír um caso de associação: virus da gripe e Haemophilus parasuis nas baterias com uma circulação banda por banda, daí a evolução crónica sem extensão a outras fases fisiológicas da exploração.

Esta patologia gripal nas baterias (precoce) frequentemente é subestimada por falta de confirmação no laboratório. É surpreendente ter uma confirmação serológica tão baixa (4 positivos/10) às 6 semanas após o início dos sintomas apesar de uma prevalência (clínica) que parece muito elevada.

Para este ponto a serologia ELISA parece mais interessante que a IHA já que provavelmente é mais precoce. Com efeito, no caso da IHA, não é raro que não se obtenha confirmação até muito tempo depois da clínica (10-12 semanas).

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