Este é a terceira parte da saga que começou a ser publicada em Dezembro de 2012.
Nos dois primeiros artigos era comentada a necessidade de encontrar o melhor dia para o desmame para conseguir as melhores cobrições e a melhor assistência possível aos partos. Dado que a situação produtiva mudou, e muito, devido às melhorias na sanidade, instalações, maneio, alimentação e genética. A mudança mais importante de todos, o que condiciona mais a produção, é a duração da gestação das porcas (mais de 115 dias nas genéticas modernas).
Actualmente há porcas que parem muitos mais leitões que antes, leitões que têm que ser criados. Não há que esquecer que, além de leitões, a porca tem uma elevada capacidade para produzir leite, capacidade que deve ser aproveitada ao máximo.
Imagem 1. Actualmente há porcas que parem muitos mais leitões e muito mais viáveis que antes.
A necessidade de leite é tão grande que estão a ser desenvolvidos diferentes sistemas para poder oferecer leite artificial aos leitões como alternativa.
Estes sistemas são necessários? As porcas modernas são realmente capazes de produzir todo o leite que os seus leitões necessitam?
As altíssimas prolificidades e o maneio cada vez melhor tem demonstrado de forma prática que uma porca com 14 tetas pode "subir" até 16 leitões sem problemas.
Mas, o que é que quer dizer sem problemas? Sem que se desigualem, com bom peso ao desmame, sem diferenças com outros leitões que tenham tido a "sua" própria teta durante toda a lactação.
Tinha sido sempre evidente que cada leitão tem a sua teta, que os primeiros dias de vida instaura-se uma hierarquia entre irmãos que faz com que cada leitão fique com a melhor teta que pode dentro das suas possibilidades.
Actualmente sabemos que isto é apenas meio verdade. Isto é verdade quando há mais tetas que leitões. Mas quando há mais leitões que tetas, e todos eles são fortes e viáveis, as tetas são partilhadas.
Isto permite um aproveitamento completo de toda o leite disponível. As tetas ficam completamente vazias e isto estimula uma maior produção leiteira.
Uma vez convencidos de que as tetas são partilhadas, o passo seguinte a pôr em hipótese é a possibilidade de levantar os separadores da maternidade, permitindo que os leitões das diferentes ninhadas se misturem, permitindo-lhes socializar.
Imagem 2. Sala de partos em que se retiraram as separações entre jaulas parideiras.
A primeira vantagem é evidente, a zona de repouso é muito melhor aproveitada.
Mas há outras? O leite é realmente mais aproveitado? Pode-se chegar ao limite que a porca é capaz de produzir?
No trabalho de fim de curso de Yaiza Ara pode demonstrar-se.
Foram pesados os leitões de forma individual, de 36 ninhadas. Metade de cada sala foi socializada de dois em dois removendo a barreira entre ambas as ninhadas.
Foram realizadas três pesagens para cada leitão:
- Ao processar os leitões (2 a 4 dias de vida).
- Ao desmamar;
- 4 semanas após o desmame.
Procedeu-se à socialização leitões com uma vida média de 11 dias.
Há diferenças significativas entre os pesos dos leitões que foram socializados e os que não foram (Tabela 1).
Tabela 1. Médias mínimo quadráticas (±SE) dos pesos vivos dos leitões em função do tratamento (socializados / controlo).
Socializados | Controlo | P | |
Peso 1 (processado) | 2,14 (±0,03) | 1,93 (±0,03) | 0,01 |
Peso 2 (desmame) | 7,41 (±0,1) | 7,11 (±0,1) | 0,03 |
Peso 3 (4 semanas pós-desmame) | 13,23 (±0,23) | 12 (±0,24) | 0,05 |
Os leitões, além de crescerem mais quando socializam, são um pouco mais homogéneos como se pode ver ao comparar os coeficientes de variação dos pesos (Tabela 2).
Tabela 2. Coeficiente da variação (%) dos pesos dos leitões das ninhadas socializadas e não socializadas.
Socializados | Não socializados | |
Peso 1 (processado) | 23,66 | 25,02 |
Peso 2 (desmame) | 19,32 | 20,86 |
Peso 3 (4 semanas pós-desmame) | 24,98 | 26,95 |
Uma das dúvidas que se colocou no momento de realizar o teste, foi escolher o momento adequado para socializar as ninhadas. Na natureza ocorre a partir dos 10 dias. Pode ser observado que os resultados obtidos após o desmame são melhores quando a socialização é tardia, além dos 10 dias de vida (Tabela 3).
Tabla 3. Médias (±SE) dos pesos vivos em função da idade de socialização.
ESOC ≤ 10 | ESOC > 10 | P | |
Peso 2 (desmame) | 7,23 (±0,08) | 7,39 (±0,13) | NS |
Peso 3 (4 semanas pós-desmame) | 14,38 (±0,08) | 15,23 (±0,21) | ≤0,001 |
Apesar das limitações que o trabalho possa ter (tamanho da amostra, pesos ao início do teste…) parece claro que socializar na maternidade trá vantagens para os leitões, tanto na maternidade como na primeira fase do crescimento.
A porta já está aberta, há que continuar a testar para tentar avaliar o momento óptimo de socialização, número de ninhadas implicadas, etc. e desta forma conseguir aproveitar ao máximo um bem tão precioso nos nossos sistemas produtivos como é o leite das porcas.