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A pandemia da COVID-19 “infectou” o mercado do porco

Em Portugal a cotação desceu na Bolsa do Porco 0,09€/kg carcaça nesta segunda quinzena de Abril.

4 Maio 2020
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30 de Abril de 2020

Com o evoluir da situação da COVID-19, o mercado do porco em Portugal viu-se fortemente afectado devido à redução da procura interna. Após a loucura das compras de pânico, que ocorreram em Março, passou a haver menor procura de carne de porco para o consumo doméstico a que se junta o encerramento do canal Horeca (restaurantes e cantinas), a inexistência de festas de cariz popular e de eventos desportivos de grandes massas (jogos de futebol), em que os cozidos à portuguesa, feijoadas, bifanas e entremeadas são refeições de eleição. Tudo isto tem grande efeito na procura de carne de porco.

Tendo em consideração esta forte redução da procura e o facto de se implementarem medidas de contenção e de mitigação de risco de contágio pelo SARS COV-2 nos matadouros, alguns deles (para não dizer todos) estão com supressão de dias de abate. Nalguns matadouros é de 1 dia por semana e noutros é de 2 dias a menos. Os porcos começam a ter peso a mais e, se esta situação durar por muito mais tempo, há grande receio de que os porcos atinjam pesos nunca vistos.

Com toda esta instabilidade em Portugal (e no resto da U.E. como veremos adiante) a cotação desceu na Bolsa do Porco 0,09€/kg carcaça nesta segunda quinzena de Abril. Desde o início da descida, a cotação já teve uma correcção de 0,16€/kg carcaça na Bolsa do Porco. Em todo o caso, as informações que circulam dão conta de que as descidas aplicadas pelos matadouros são superiores às indicativas da Bolsa do Porco.

Que evolução de espera para o mercado do porco? O período de Maio a Outubro, o típico do turismo, deveria fazer aumentar os consumos de carne de porco. Em todo o caso, este ano deverá haver muito pouca movimentação de turistas europeus a virem a Portugal passar férias. Por outro lado, ficam nos seus países de origem, o que poderá estimular os consumos de carne de porco nesses países durante o verão, quando habitualmente os consumos se reduzem drasticamente nessa altura.

Por outro lado, a China tem andado a pressionar os preços de compra da carne de porco na Europa, isto porque tem estado a comprar mais carne aos Estados Unidos a autênticos preços de saldo. Este comportamento chinês tem influenciado negativamente a evolução dos preços do porco na U.E.. Em todo o caso, os Estados Unidos, como veremos a seguir, não irão ter capacidade de continuar a fornecer, durante muito tempo e com muita quantidade de carne, o mercado chinês e a única região de produção que é capaz de fornecer a China com as quantidades que este país necessita consumir é a União Europeia. As perspectivas não são más, mas veremos se se concretizam.

Os suinicultores dos Estados Unidos estão a sofrer uma crise como nunca tiveram. De acordo com uma reportagem da agência Reuters, a situação é mesmo muito grave. Senão vejamos:

- Já aqui, na 3tres3, demos conta do encerramento de vários matadouros de suínos nos Estados Unidos que representam aproximadamente 20% da capacidade de abate total do país (Smithfiels, Cargill, Tyson, JBS) o que provoca atrasos no escoamento dos porcos do país;

- Perante estas dificuldades alguns suinicultores estão a provocar abortos às porcas para que estas não produzam mais leitões e outros produtores estão a sacrificar os animais (porcos de abate), nas suas explorações destruídos os cadáveres. Há cerca de 700 mil porcos por semana que não têm possibilidade de serem abatidos e que terão que ter este trágico destino;

- No Estado do Iowa há produtores que estão a abater, para destruir, à volta de 125 leitões por semana. O preço dos leitões nos Estados fronteiriços com o Canadá estão a 0 (zero) dólares;

- Estima-se que os suinicultores norte-americanos percam cerca de 5 mil milhões de dólares, ou seja, 37 dólares americanos por porco (cerca de 34€/porco)

- O preço da carne de porco e seus derivados nos supermercados tem estado a subir, mas os produtores não conseguem fazer chegar os seus produtos às lojas para serem vendidos aos público, por problemas de matadouros fechados, logística de transporte, fata de outros factores de produção (como exemplo veja-se o caso dos ovos, há falta de cartão para fazer as caixas para embalar e expedir os ovos o que tem implicado o abate de galinhas poedeiras).

Como referi acima, a China irá ter necessidade de importar mais carne do que aquela que importou o ano passado, mas o ano passado não havia a concorrência dos Estados unidos da forma como a temos neste momento. Se analisarmos as importações chinesas na U.E., em Janeiro e Fevereiro deste ano, elas foram superiores em 82,5% do que nos mesmos 2 meses de 2019, passando de 261 mil tons para 476 mil tons, o que representa 53,5% das exportações de carne de porco da U.E. para Países Terceiros.

No que diz respeito às cotações, a sua evolução foi a seguinte:

Em Espanha a cotação desceu 0,067€/kg PV nesta quinzena (-0,089€/kg carcaça) para 1,388€/kg PV (1,851€/kg carcaça). Após a Semana Santa, os pesos subiram 1,9kg. Há dificuldades nos abates e no escoamento dos porcos, pois começam a aparecer alguns trabalhadores positivos à COVID-19 e isso reduz a sua capacidade de abate, para além das medidas de contenção e de distanciamento que têm que existir entre trabalhadores, que implica menos gente a trabalhar nas linhas de abate dificultando a eficiência das linhas. Há pedidos de carne por parte dos clientes de fora da U.E., veremos como a Espanha os poderá satisfazer. Também se espera o regresso ao trabalho no país vizinho e veremos que influência terá no aumento do consumo de carne de porco.

Na Alemanha, a cotação baixou 0,09€/kg carcaça para 1,75€/kg carcaça. A oferta de porcos não é grande, mas a forte redução das vendas de carne fresca e de procura de carne por parte das empresas de transformação levam a uma forte pressão sobre o preço dos porcos, obrigando-o a descer com significado. O peso médio subiu 500g para os 97,1kg. Com menos saídas dos alemães para fazerem férias fora do país, espera-se que aumentem os consumos de carne de porco já que é a carne de eleição utilizada nos tradicionais barbecues.

Na Holanda a cotação desceu 0,09€ para situar a cotação em 1,86€/kg carcaça e na Bélgica a cotação desceu 0,04€/kg PV para 1,17€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação desceu 0,07€/kg carcaça fixando-se em 1,73€/kg carcaça. Os efeitos da crise do coronavírus sentem-se, agora, no comércio da carne de porco fresca. Até aqui, a redução de consumo de carne fresca ia sendo absorvida pela congelação, mas as câmaras frigoríficas quase atingiram o seu limite de ocupação e esse efeito reflecte-se nos preços. Os sinais que os matadouros europeus enviam para o mercado é que não têm compradores para a carne, mas isso não é o que acontece com os matadouros dinamarqueses pois estes têm uma boa carteira de pedidos tanto de mercados de Países Terceiros como do mercado interno da U.E. As vendas para o Japão e o Sudeste Asiático são boas, sendo que as vendas para a China estão mais “paradas”.

Em França a cotação desceu 0,08€/kg carcaça passando a cotação para 1,432/kg carcaça. Os pesos subiram 500g para 96,4kg (mais 300g que na mesma semana de 2019). Aproximam-se duas semanas com feriados (1 e 7 de Maio) o que irá complicar, o já de si complicado, mercado de porco visto que se irão reduzir os abates. Veremos como sairá o mercado francês destas semanas com menos dias de abate.

A actividade económica poderá ser retomada, lentamente, a partir deste mês de Maio, não apenas em Portugal como na grande maioria dos países Europeus. Veremos em que medida, o regresso paulatino ao trabalho, por parte das empresas, irá influenciar positivamente o mercado do porco, se bem que essa melhoria se preveja ser bastante lenta.

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