A Primavera chegou, e não só ao Corte Inglês. No dia 31 de Março o USDA publicou 3 relatórios (intenções de sementeira nos EUA, stocks trimestrais, exportações semanais dos EUA), neles dava-se realce a exportações semanais muito elevadas de milho e grão de soja e a uma redução dos stocks trimestrais de milho e grão de soja. Isto foi mais do que suficiente para que os fundos voltassem a entrar no mercado, conseguindo arrastar com eles todos os produtos: trigo, farinha de soja, óleo e outros mercados (LIFFE, MATIFF, …). O sentimento altista foi contagioso e toda a gente entrou a comprar, até ao ponto que, em determinado momento, as ordens de compra de contratos de milho somavam 18,8 milhões de toneladas.
Depois do primeiro embate (e do susto) e olhado em perspetiva, os cereais estão a preços parecidos com os de há um mês atrás e às vezes até mais baixos. A cevada é oferecida a 224€/Tm sobre Lérida ou a 228€/Tm na zona de Vic. É certo que durante este mês os importadores tiveram vontade de aligeirar as “posições longas” (stocks) que tinham nos portos, ofereceram cevada, sorgo e inclusive trigo a preços competitivos. Também se somou à oferta o mercado francês principalmente com milho e o mercado nacional (espanhol), tentando liquidar as suas posições longas de cevada e trigo forrageiro, sobretudo Douro e Navarra.
Em resumo, durante este mês foram oferecidas cevadas a 215-220€ /Tm sobre o porto e sobre destino, foi oferecido trigo nacional a 235€/Tm sobre Lérida e o milho francês ou nacional o pouco que sobra foi oferecida a 225-230€/Tm sobre Lérida ou Barcelona.
E agora? Estamos na Primavera e os preços comportam-se como o clima, são variáveis e caprichosos. Na minha opinião o mercado, aproveitando a baixa de preços, cobriu as posições de abril e grande parte de maio. Nos portos, aparentemente, continua a haver mercadoria, sobretudo milho, e continuam a ser oferecidos sorgo e cevada para abril e maio. Pelo contrário, parece que de trigo resta muito menos. Por outro lado, os preços que se oferecem para a nova campanha continuam a ser mais baratos que os atuais: a cevada a 30€/Tm e o trigo a 40€/Tm. Creio que os preços terão tendência para se igualarem, sendo mais fácil que continuem a baixar os atuais, portanto a tendência será baixista. No entanto dois fatores podem ser determinantes para inclinar a balança definitivamente para um outro lado:
- Os stocks que possam existir nos portos;
- A perspetiva de uma boa colheita.
Se nos portos não existir suficiente mercadoria ou as perspetivas de uma boa colheita não se confirmam podemos assistir a um ricochete importante nos preços no melhor momento possível, às portas da nova colheita.
Resumindo, continuo a pensar que o melhor é aproveitar as oportunidades de compra, para cobrir, pelo menos até junho, e rezar para que colheita, sobretudo na Europa, Rússia e Ucrânia seja boa. Temos que ter em conta que se a Rússia e a Ucrânia não baixam os stocks estratégicos até setembro não chegará mercadoria aos portos. Portanto teremos que viver com a colheita nacional, a francesa e o milho que possa existir nos portos.
O complexo da proteína pelo contrário melhorou via prémios e via divisas. Depois de muitos meses o bagaço de soja está sensivelmente nos 300€/Tm. Além do mais estamos de volta a um clássico: estamos em plena guerra de bases. Atualmente são oferecidas bases a menos de -5 €/Tm para junho/dezembro de 2011, níveis a que não chegamos desde o ano passado. Em resumo acredito que a proteína deve de continuar a baixar, independentemente do que queira ou não fazer o mercado de Chicago, pela pressão do Brasil e a Argentina, que estão em plena colheita. O preço do óleo ao redor de 900-950 €/Tm também gerará pressão sobre o bagaço de soja (que, não esqueçamos, muito embora não pareça é um subproduto). A colza e o girassol, além do mais INRI, seguem os passos da soja, perante as perspetivas de uma boa colheita na Europa continuam a baixar de preço sobretudo a partir de agosto.
Escrito em 07/04/2011