O capitalismo nas suas origens era um sistema baseado na produção de bens ou serviços. A riqueza que gerava era distribuída de maneira imperfeita (neste ponto poderíamos estar discutindo infinitamente se a redistribuição da riqueza é mais ou menos imperfeita…mas isso é outro artigo!) mas era distribuída, ao fim e ao cabo, entre trabalhadores (via salário), proprietários (lucro) e pela sociedade em geral (via impostos). Este capitalismo, chamemos-lhe tradicional, durante os últimos anos convive com o capitalismo financeiro, que na minha opinião pode gerar muitos lucros mas o que não gera é riqueza. Toda essa massa de dinheiro (seja de fundos de investimento, fundos soberanos, sicavs ou outras engenharias várias) que procura rentabilidade está-se a confirmar em muitos países (Estados Unidos ou Inglaterra, por exemplo) como a parte com mais peso dentro do PIB nacional (ainda que concentra a riqueza em poucas mãos).
Sirva este preâmbulo para reforçar o que comentei o mês passado e também para indicar que os fundos que investiram em matérias-primas nestes últimos meses obtiveram uma rentabilidade próxima a 30% (por exemplo os futuros de grão de soja). Hoje por hoje duvido muito que haja algum outro negócio mais rentável (a não ser, claro, que entremos nos mercados ilegais como drogas ou jogo clandestino). Com isto quero dizer que é quase impossível que os fundos “saiam” dos mercados de matérias-primas e portanto do nosso mercado.
Poderemos repetir até à saciedade que o nosso mercado é menos previsível do que era antes, mas devemos ter os pés na terra e lidar com a realidade. Assim, falemos do que ocorreu este mês de Abril e do que pode ocorrer no futuro.
Os cereais
No que respeita aos cereais parece que se estabilizaram um pouco os preços. O milho situou-se à volta dos 225 €/ton para o resto da campanha. O trigo cerca dos 230 €/ton. Quanto à cevada, esta continua sem que apareça uma oferta fluida e com preços em torno dos 235 €/ton em Lérida. Quanto à nova campanha, o milho está nos 200 €/ton, o trigo escalou para os 216 €/ton e a cevada, por não haver, não há nem cotação. Pelo contrário apareceram ofertas de sorgo europeias a preços muito competitivos em redor aos 195 €/ton para uma entrega Novembro/2012 – Janeiro/2013.
Com este panorama o fabricante consome milho, elevando-o à categoria de produto estrela, algo menos de trigo e quanto à cevada ou não a usa ou incorpora-a nalgumas rações de maneira pouco significativa. É por isso que creio que podemos chegar à colheita com fórmulas similares ante o temor que o agricultor, em princípio, seja reactivo a baixar as cotações de cevada.
Por outro lado, devemos acompanhar de perto o mercado francês de milho, sobretudo para os meses de verão, já que ao dia de hoje não reagiram ante a ampla oferta nos portos, e é possível que todavia tenham uns stocks importantes, pelo menos no que ao Sul de França diz respeito, devido a menores vendas do que é habitual durante toda a campanha.
Quanto à campanha nova a actividade travou, possivelmente devido a que quem já tomou posições atempadas e ante a subida de preços do trigo espera novos acontecimentos.
A proteína
Agora falemos da proteína, verdadeiro cavalo de Troia. Dizíamos que estava complicada, mas o cenário agora está complicadíssimo, e o pior é que creio que vai continuar neste lamentável estado pelo menos este mês de Maio. O preço escalou até aos 400 €/ton e isto basicamente por dois motivos:
- Um motivo local: devido a que nos aproximamos do início da colheita na Argentina, encontramo-nos ante a típica escassez de chegadas de barcos, com o que há pouca oferta (para ser optimista e não dizer que é nula).
- O mercado de Chicago: ante o receio dos cortes nas colheitas do Hemisfério Sul (entenda-se Argentina e Brasil) o mercado só fez foi subir.
Em definitivo, até Junho não creio que se possa regularizar um pouco todo o "buraco", ante as chegadas de barcos de importação. Para mais INRI, fala-se de uma má colheita de colza na Europa, o que provoca que o seu preço se situe à volta dos 297 €/ton e o girassol, para não destoar com este panorama, cotiza-se a 220 €/ton, ainda que a sua procura se tenha limitado de maneira significativa.