18 de Setembro de 2020
“Finalmente” a Peste Suína Africana chegou à Alemanha. Este acontecimento já era esperado há muito tempo, tendo em consideração a evolução da doença na Polónia e a sua aproximação à fronteira alemã. E agora?
Enquanto a PSA andava pela Polónia e pelos outros Países do Leste da Europa, as preocupações a nível do comércio de carne e da sua exportação para Países Terceiros, não eram muito grandes. Mesmo o aparecimento de focos de Peste Suína Africana na Bélgica em Setembro de 2018, há precisamente 2 anos atrás, não foi uma situação tão complicada porque a Bélgica é um país que, apesar de ser excedentário, não tem o mesmo peso no mercado interno da U.E. nem nas vendas para Países Terceiros como tem a Alemanha e, por outro lado, os matadouros alemães conseguiam abater os porcos belgas, tal como o fazem hoje em dia e já o faziam antes do aparecimento da Peste. E agora, que a PSA atingiu o segundo maior produtor e porcos da Europa e o seu segundo maior exportador, que poderá acontecer?
O receio começa a instalar-se no mercado do porco europeu, pelo menos nestas primeiras semanas e nos países do Norte da Europa após a confirmação, no passado dia 10 de Setembro, de um caso positivo de Peste num javali encontrado morto junto à fronteira entre a Alemanha e a Polónia (Neste momento já são mais 5 casos confirmados todos em javalis), dentro do território alemão, em função das incertezas que pairam no ar quanto ao comércio da carne, principalmente à exportação deste produto para mercado fora da União Europeia. Relembramos que em 2019 a Alemanha exportou mais de 1 milhão de toneladas de carne de porco e seus derivados e que, cerca de metade foram para a China e o mais provável é que agora esta carne comece a ficar no mercado da U.E.
Na realidade, o mercado que estava numa onda de acalmia com tendências de subida das cotações, com manutenções de preços de há 7-8 semanas a esta parte (Alemanha, Espanha) e tendo até havido algumas subidas com significado (Portugal, Holanda e França), vê-se agora embrenhado numa teia de incerteza quanto à normal fluidez da venda de carne.
Senão vejamos: países como a China, a Coreia do Sul e Singapura, logo no dia 11 proibira a entrada de carne de porco oriunda da Alemanha. Perante este facto, e nesse mesmo dia 11 (a Bolsa mais importante para o preço dos porcos na Alemanha é feita à 4ª feira, mas como já havia rumores de se confirmar a PSA naquele país, foi adiada a decisão da Bolsa AMI para 6ª feira dia 11) houve uma descida de 0,20€/kg carcaça no mercado alemão. Os dinamarqueses esperaram pela definição da cotação alemã para marcarem o seu preço e baixaram 0,07€/kg carcaça. A Holanda que tinha subido 5 cêntimos na semana anterior, também desceu esses mesmos 5 cêntimos no dia 11.
Portanto, os mercados mais directamente influenciados pela Alemanha reagiram rapidamente à forte e histórica descida alemã e realinharam as suas cotações.
Em todo o caso, os mercados dos países do Sul da Europa (Espanha, Portugal e França) mantiveram ou acabaram mesmo por subir ligeiramente as suas cotações, como foi o caso da França.
No futuro próximo, e até que se estabilize a situação relativa ao comércio da carne de porco alemã – os alemães continuam a tentar negociar com a China o reconhecimento da zonificação da Alemanha para manterem as autorizações de exportação para o gigante asiático – o mercado europeu sofrerá alguma agitação e turbulência.
É natural que a Europa ande a “duas velocidades” no que concerne ao mercado do porco e da sua carne. Em condições melhores andarão todos os matadouros que estão autorizados a exportar para a China, visto que este país terá que continuar a comprar carne de porco para suprir as necessidades internas do seu mercado e a U.E. é a única zona do globo que tem capacidade de fornecer carne em quantidade e com qualidade e segurança alimentar. Por outro lado, os matadouros que terão que vender carne apenas no mercado interno irão sofrer a forte concorrência da carne alemã barata, caso os alemães continuem sem autorização de exportação para Países Terceiros durante muito tempo. A sua carne, não sendo exportada, terá que ser consumida no mercado interno e já se sabe que quando a oferta é maior do que a procura, os preços baixam.
Na primeira quinzena de Setembro, os porcos subiram 0,05€/kg carcaça na Bolsa do Porco sendo um indicador da menor oferta de porcos em relação à procura. Em função desta situação, os porcos continuam com pouco peso no nosso país. Veremos que impacto pode ter, no mercado português, o aparecimento de PSA na Alemanha. Sabemos que nos primeiros 6 meses do ano foram exportadas 6600 tons de carne de porco portuguesa para a China e que desde início do ano têm sido enviados uns milhares de porcos nacionais para serem abatidos em Espanha que, apesar de ser auto-suficiente em 170%, o que é um forte sinal de que continua a ter que comprar porcos fora de Espanha para satisfazer as necessidades de fornecimento de carne ao mercado interno e para exportação. A continuar assim, pode ser que a Peste na Alemanha não tenha um impacto negativo no mercado português. Mas claro, este impacto será maior ou menor consoante a influência que o mercado alemão tiver no mercado espanhol
Em Espanha a cotação manteve-se em 1,30€/kg PV (1,733€/kg carcaça). A oferta é inferior à procura e os pesos voltaram a descer com significado e encontram-se idênticos aos pesos do ano passado, quando durante todo o ano de 2020 têm sido 3-4kg mais elevados. Este é um claro sinal de que o mercado espanhol anda fluido e sem problemas de escoamento de carne. Agora teremos que esperar para ver se a Espanha consegue ocupar parte do lugar deixado vago pela Alemanha no mercado internacional ou se, pelo contrário, isso não ocorre e o lugar da Alemanha é ocupado por outros países, principalmente os Estados Unidos.
Na Alemanha a cotação, depois de 9 semanas consecutivas sem alterações, baixou 0,20€ para 1,27€/kg carcaça. Para além de todos os problemas inerentes ao aparecimento do foco de Peste, que traz dificuldades no escoamento de carne, não nos podemos esquecer que o mercado alemão ainda está a sofrer com os porcos atrasados devido ao encerramento do matadouro da Tonnies em Rheda no passado mês de Junho. O peso está nos 97,6kg carcaça, o que é bastante elevado.
Na Holanda a cotação manteve-se em 1,47€/kg carcaça, tendo havido uma subida de 5 cêntimos na primeira semana do mês e uma descida de 5 cêntimos na segunda semana do mês, em função do aparecimento do foco de Peste na Alemanha. O mercado holandês encontra-se bastante expectante com o desenrolar dos acontecimentos na Alemanha visto que é usual irem muitos porcos holandeses para serem abatidos nos matadouros alemães que, agora, poderão “cortar” esses abates devido ao facto de venderem menos carne. Nesse caso, os matadouros holandeses não terão capacidade para absorver toda a produção interna e esse será um problema complicado de resolver.
Na Bélgica a cotação manteve-se em 0,96€/kg.
Na Dinamarca a cotação desceu 0,07€/kg carcaça passando a cotação para 1,38€/kg carcaça. Os dinamarqueses estão expectantes para ver como será o comportamento do mercado alemão para que se possam posicionar da melhor maneira possível para enfrentar as dificuldades que venham a surgir e as oportunidades que se abram no mercado.
Em França, a cotação subiu 0,03€/kg carcaça fixando-se em 1,386€/kg carcaça. Os pesos subiram 220g para 94,58kg (apenas mais 260g que na mesma semana de 2019). O forte ritmo de subida das cotações do MPB francês viu-se travado pela forte descida na Alemanha. Agora há que esperar para definir os próximos passos e decisões na cotação francesa.
Sem o aparecimento do foco de Peste Suína Africana na Alemanha, o comportamento do mercado europeu do porco era de estabilidade e com alguma tendência de subida. Agora, com este novo dado, teremos que aguardar para ver a evolução do eventual aparecimento de mais focos (esta possibilidade é bastante factível e é a mais provável que aconteça) e que restrições ao movimento de animais e ao comércio de carne poderão existir nas próximas semanas.