3 de Julho de 2020
Na segunda quinzena do mês de Junho, a cotação do porco subiu 0,07€/kg carcaça na Bolsa do Porco e continuou no caminho que já vem sendo traçado desde há 6 semanas consecutivas. Este comportamento do mercado é demonstrativo de que há mais procura de porcos para abate por parte dos matadouros do que oferta destes por parte dos produtores.
Na realidade, os pesos têm vindo a baixar com algum significado e, com a chegada do calor, os pesos serão ainda mais baixos. Por isso, a oferta tem tendência de ser ainda menor. Aos preços a que os porcos são pagos, mesmo aqueles que são pagos a preços mais baixos, é compensador para os produtores esperar mais uma semana para abater os seus porcos aumentando a rentabilidade e dando mais carne aos matadouros por cabeça abatida, o que também permite o aumento da rentabilidade destes. A descida dos pesos acontece um pouco por toda a Europa como veremos mais abaixo.
Em todo o caso, e com as novas restrições por COVID-19, impostas na zona da Área Metropolitana de Lisboa, onde se concentra quase 40% da população nacional, veremos o impacto que estas medidas poderão vir a ter no consumo de carne de porco. A esta situação deveremos juntar a grande redução de turistas que este ano, durante o verão, irão visitar Portugal e que costumam contribuir para um elevado consumo de carne de porco nesta altura do ano no nosso país.
Por outro lado, continuam a aparecer colaboradores positivos à COVID-19 em unidades fabris que abatem e processam carne. Veremos se as notícias que vão aparecendo na comunicação social também não serão factor de redução no consumo de carne de porco por desconfiança dos consumidores.
Bem sabemos que o coronavírus não se transmite pelos alimentos, muitos menos através da carne crua, visto que esta terá que ser cozinhada para ser consumida, mas sob a óptica dos consumidores, muitas vezes, “mais vale prevenir do que remediar” e estes poderão optar por reduzir o consumo de carne de porco. Esperemos que não. E esperemos que os casos que vão aparecendo em matadouros e salas de desmancha sejam cada vez menos.
O aparecimento, cada vez mais frequente e em maior número, de pessoas infectadas em matadouros e salas de desmancha um pouco por toda a Europa, está a trazer complicações ao comércio da carne de porco, principalmente no que diz respeito à exportação para a China.
O maior matadouro da Europa, o da Tonnies em Rheda na Alemanha, que abate 25 mil porcos/dia e é o grande absorvedor de porcas de refugo para abate em toda a Europa (abate um total de umas 140 mil cabeças semanalmente entre porcos de abate e reprodutores de refugo), encerrou temporariamente devido ao aparecimento de inúmeros colaboradores positivos à COVOD-19 (o encerramento temporário é de 15 dias e no dia em que escrevo este comentário ainda se mantém encerrado).
Para além das dificuldades em abater os porcos noutros matadouros alemães, o que gera um excesso de oferta de porcos para abate, a China “aproveitou” esta situação para proibir as importações de carne de porco deste matadouro e exigir que a carne que dali venha tenha um certificado que refira que é “livre de coronavírus”.
Os chineses estão a comprar, como nunca compraram, carne de porco aos Estados Unidos a preços muitos baixos de matadouros e salas de desmancha que estiveram fechado ou ainda laboram abaixo da sua capacidade, devido ao aparecimento de muitos trabalhadores positivos à COVID-19, e não foi por isso que exigiram o mesmo tipo de declarações a essas unidades.
Na Holanda, tal como na Alemanha, também encerraram 3 matadouros da Vion – Boxtel, Groenlo e Van Rooi-Helmond – que é a maior empresa de abate da Holanda. Neste caso a China também exige as mesmas declarações de que a carne é “livre de coronavirus”, mas o governo holandês, em conjunto com outros governos da U.E. estão a trabalhar no sentido de explicar, à China, que o novo coronavírus não se transmite pelos alimentos nem pelas embalagens.
Em todo o caso, quando estes matadouros alemães e holandeses voltarem a laborar, terão de colocar a sua carne no mercado interno da U.E. e isso poderá ser um problema em termos de preço dos porcos. Por outro lado, sem as vendas destes matadouros para a China, alguns outras empresas europeias terão mais espaço para vender maiores quantidades para o mercado chinês, e este dado poderá equilibrar o mercado interno.
Em Espanha a cotação subiu 0,04€/kg PV nesta quinzena (-0,053€/kg carcaça) para 1,328€/kg PV (1,77€/kg carcaça). Houve menor oferta de porcos e os pesos desceram 1,1kg nesta quinzena. Mesmo assim, encontram-se 3kg acima dos pesos do ano passado. O mercado espanhol sente alguma falta de porcos e está a ir comprá-los a França e alguns a Portugal. Este é um sinal de que os porcos em ambos os países se encontram mais baratos que em Espanha.
Na Alemanha, a cotação manteve-se em 1,66€/kg carcaça. O peso médio baixou 300g para os 97kg o que é um bom sinal. Para já, com o encerramento temporário do matadouro da Tonnies em Rheda, houve opção pela manutenção das cotações, de forma a que não haja agitação no mercado. Quando aquele matadouro voltar a abater porcos e a colocar a carne no mercado, veremos que impactos trará ao comércio europeu da carne de porco.
Na Holanda a manteve-se em 1,66€/kg carcaça. O encerramento dos matadouros holandeses em conjunto com o matadouro da Tonnies na Alemanha, irão trazer complicações à fluidez dos abates de porcos na Holanda. Aumenta a oferta de porcos para abate e, este facto, poderá vir a trazer descidas nas cotações.
Na Bélgica a cotação baixou 0,04€/kg PV para 1,07€/kg.
Na Dinamarca a cotação desceu 0,04€/kg carcaça fixando-se em 1,45€/kg carcaça. Com o enceramento do matadouro alemão, há mais porcos a serem colocados no mercado para abate e isso faz aumentar a oferta e pressiona a cotação em baixa. Para além dos porcos que abate, a Tonnies também desmancha carne de carcaças oriundas de outros matadouros europeus e essa carne terá, agora, que encontrar espaço para colocação no mercado interno da U.E. Todos estes problemas surgem numa altura em que o mercado europeu não é normal, já que o desconfinamento vai acontecendo gradualmente e o consumo é menor que o normal em comparação com os Verões de anos anteriores. Numa situação de mercado normal, estes problemas seriam facilmente resolvidos.
Em França a cotação manteve-se 1,346/kg carcaça. Há 1 mês e meio que não há qualquer alteração na cotação francesa. Os pesos baixaram 1400g para 95,7 (mais 950g que na mesma semana de 2019). Há grande equilíbrio entre a oferta e a procura e isso faz com que as cotações não variem.
O mercado europeu tem sinais positivos, mas também algumas nuvens negras no horizonte. Veremos que chegam alguma tempestade ou se prevalece a bonança estival tão própria do Verão.