A fase de pós-desmame é, talvez, uma das mais delicadas da vida produtiva do porco. A separação da mãe e a mudança de alimentação determinam, nesta fase, grande parte dos problemas. A passagem de uma alimentação líquida, quente, altamente digestível e dependente da mãe para outra sólida, fria, menos digestível e em auto-serviço (tolva) provoca uma redução temporária, mas drástica, do consumo de alimento que permitirá que bactérias comensais como E. coli possam expressar os seus factores de virulência provocando quadros de diarreia. Naturalmente, a apresentação dos quadros diarreicos será favorecida sempre que se apresentem alguns dos que são considerados factores predisponentes, como podem ser: a falta de higiene, o frio, dietas de má qualidade, a presença de outras doenças, etc.
Foto 1: Leitões afectados por uma diarreia pós-desmame.
Um correcto controlo da diarreia pós-desmame (DPD) não pode esquecer os factores predisponentes, pois são os pontos críticos da sua prevenção. Há que ter em conta que E. coli é uma bactéria comensal que estará sempre presente nas explorações.
- A falta de consumo durante o pós-desmame é considerado o principal factor predisponente de diarreia. Esta pode ser de poucas horas, na maioria dos leitões, ou alcançar até as 48 horas, nalgum caso individual. A principal causa é considerada a falta de aprendizagem com a dieta sólida. A oferta de ração de iniciação deve começar durante a lactação. Quanto maior seja esta ingesta durante a fase de lactação, menos problemas haverão depois. Alguns trabalhos determinaram que este consumo reduzido durante a primeira semana pós-desmame pode incrementar até 30% o risco de diarreias. Uma oferta fácil e abundante de ração e água facilitará o consumo, do mesmo modo que o fará manter as luzes acesas durante os primeiros 2-3 dias pós-desmame.
Foto 2: Grande oferta de ração e água.
- As únicas medidas eficazes para cortar os ciclos de infecção serão a limpeza e a desinfecção das salas, assim como um maneio estrito Tudo Dentro – Tudo Fora, já que em muitos casos os organismos responsáveis pela diarreia permanecem no ambiente. Uma boa limpeza e desinfecção supõem a total eliminação do material orgânico presente nas salas, de contrário é difícil conseguir que as desinfecções sejam eficazes. Frequentemente são esquecidas as fossas de chorume e os sistemas de fornecimento de água que fazem parte da sala.
- O frio é um bom aliado das diarreias. Um leitão com frio mexe-se menos e, consequentemente, reduz o seu consumo. A sensação de frio é dada pela combinação de temperatura, humidade, velocidade do ar e tipo de solo. Salas com um mau isolamento condensam mais facilmente e geram correntes de ar, mesmo com temperaturas de sala correctas. Neste tipo de situações é quando a probabilidade de ter diarreia é maior, entre outras coisas porque se altera o comportamento normal do porco.
Foto 3: Leitões com frio. | Foto 4: Sala com mau isolamento. |
- Naturalmente a dieta também pode ter a sua implicação, dai que na alimentação destinada a leitões durante a fase de pós-desmame o mais importante seja a sua digestibilidade. As substâncias mal digeridas podem dar lugar a fermentações intestinais que favorecerão a proliferação de E. coli. Há uns anos as dietas destinadas a leitões recém-desmamados eram muito ricas em proteína já que tratavam de conseguir o máximo potencial de crescimento, no entanto hoje sabemos que as dietas muito ricas em proteína podem favorecer as diarreias pós-desmame, dai que se tente manter o nível proteico baixo mas tentando que não haja deficiências nos diferentes aminoácidos. As dietas líquidas, que deveriam ajudar ao consumo do leitão, foram relacionadas com um aumento de processos diarreicos, possivelmente porque os sistemas de administração não são suficientemente adequados.
- O correcto controlo de outros processos infecciosos como o PRRS e a circovirose será também importante na prevenção de diarreias. As circulações virais afectam o correcto funcionamento do sistema imunitário favorecendo que outros agentes patogénicos potenciais apareçam em jogo. Será essencial uma correcta aplicação dos planos profilácticos, assim como um correcto maneio da reposição (no que se refere à sua adaptação) e dos lotes.
Por último, há que fazer referência ao uso rotineiro de medicações. Trabalhos recentes comprovaram que o uso de medicações activas frente a lactobacilos durante a fase de pós-desmame alteram a flora microbiana normal do intestino, favorecendo o crescimento de E. coli. Deveria ser restringido o uso de antibióticos do grupo dos ß-lactâmicos (amoxicilina) aos casos excepcionais e não incluída como medicação de base, tal como sucede em numerosas ocasiões.