Descrição da exploração
1. Descrição da exploração:
Trata-se de uma exploração nova que começa do zero, com 450 porcas que funciona em bandas cada 3 semanas (60 partos por lote).
As instalações estão bem equipadas e as porcas têm um elevado estado sanitário: Livres de PRRS, ADV, App, rinite, sarna...
Foi aproveitado uma engorda antiga para a transformar em gestação confirmada com porcas livres:
São cumpridas na integra as normas de bem estar animal: As porcas dispõem de abundante espaço (3,6 m2 por porca, quando o mínimo legal é de 2,25m2), com mais de 50% do solo compacto. O sistema de alimentação nesta zona é de queda lenta, com 6 porcas por grupo.
Plano vacinal:
• Aujeszky cada 4 meses à totalidade do efectivo.
• Parvo-Mal Rubro 14 dias post-parto. • Coli 3 semanas antes do parto e primíparas 6 semanas antes e repetição às 3. • Nulíparas: trivalente (Parvo/MR/ADV) 1 mês antes da cobrição devem estar vacinadas e revacinadas. • Autovacina contra epidermite exudativa nos primeiros lotes de primíparas 4 e 7 semanas antes do parto. |
A exploração funcionou correctamente até agora, dentro dos possíveis problemas que causam os primeiros partos de uma exploração onde 100% das porcas são primíparas.
|
As porcas parem e desmamam muitos leitões, em parte porque foram cobertas com mais de 160 kg e mais de 9 meses de vida (sistema dinamarquês).
Mesmo sem provocar partos, o número de nascidos mortos é muito baixo, o que poderia estar relacionado com o facto de que as porcas fazem exercício por estarem livres, o que tonifica a musculatura abdominal.
Aparecimento do caso
No dia 28 de Agosto fazemos uma visita rotineira à exploração e comunicam-nos que 2 porcas abortaram.
Dispomos de serologias recentes de leitões que nos indicam que a exploração continua livre de PRRS e Aujeszky. Comprovamos a temperatura rectal das porcas abortadas e não apresentam febre. Pensamos que se trata de abortos casuais e não damos muita importância ao assunto.
No dia seguinte telefonam-nos de urgência porque outra porca abortou. Voltamos a colher amostras de sangue de leitões e porcas em diferentes estados de gestação. No dia seguinte volta a abortar uma porca. Ambas porcas não apresentavam aumento de temperatura.
|
Os abortos são no final da gestação, 2 correspondem a um lote de produção (a encarnado) e os outros 2 ao seguinte (a azul).
Evolução do caso
Dado que as analises de leitões que dispunhamos indicavam que a exploração continuava a ser negativa a PRRS e Aujeszky, suspeitamos que pode haver algun tipo de problema com a vacinação de Parvo e Mal Rubro. Perguntamos se as 2 doses de vacina trivalente em nulíparas teriam sido suficientes.
Nas novas análises que realizamos, pedimos análises de PRRS, Aujeszky, Parvo e Mal Rubro em porcas e de PRRS e Aujeszky nos leitões. É colhido sangue em leitões de todas as idades disponíveis (1/4/7 semanas de vida).
A 5 de Setembro recebemos os resultados: a exploração continua a ser negativa a PRRS e Aujeszky e as porcas estão bem vacinadas de Parvo e Mal Rubro.
A 7 de Setembro temos um parto adiantado de uma porca com 110 dias em que todos os leitões nascem mortos. Estava coberta de dia 20 de Maio.
Estamos uma semana mais ou menos tranquilos, mas a partir de 13 de Setembro voltamos a ter abortos:
|
Voltam a ser abortos de final de gestação e a maioria do mesmo lote (encarnado). As porcas não têm febre mas apreciamos uma certa perda de condição corporal.
Chegam os partos e no princípio do lote encontramos leitões nascidos pequenos, pouco viáveis e com casos de splay-leg (até então praticamente não se tinha visto nenhum). Em geral, verificamos que estas porcas chegam demasiado justas de condição corporal. Em 20 de Setembro voltamos a ter um parto adiantado de uma porca com 109 dias que tem 9 leitões vivos muito pouco viáveis e 7 mortos.
Extraímos sangue das porcas abortadas e inclusive enviamos fetos abortados para que se lhes faça um exame meticuloso. Não se consegue isolar nenhum agente patogeno.
Até ao final do lote a situação volta-se a normalizar, os abortos cessam e os leitões nascidos voltam a ser bons.
Das 9 porcas abortadas ou com partos prematuros, 7 são do mesmo lote e as primeiras porcas paridas com leitões débeis também correspondem ao mesmo lote de produção.
Se se trata de um problema infeccioso, não entendemos porque afecta maioritariamente as porcas de um mesmo lote. As porcas abortadas encontram-se na mesma zona da gestação, mas isso é evidente, dado que são do mesmo lote.
Evolução do caso II
Dado que não identificamos nenhum patogeno, nem as porcas abortadas tinham febre, começamos a pensar que o problema não deve ser de tipo infeccioso.
Como as porcas mais conflitivas do lote (as abortadas e com nascidos débeis) tinham uma condição corporal algo pobre, pensamos que poderia haver algum tipo de problema de competição pela ração nos parques.
Meses antes já tinhamos encontrado pontualmente porcas que não tinham acesso ao alimento porque eram intimidadas pelas dominantes ou porque alguns dosificadores ficavam entupidos (por exemplo, ao descer ração compactado). O problema foi solucionado separando as porcas atrasadas e colocando-as num parque com tolva com alimentação à discrição.
Quando começaram os abortos, voltámos a rever o sistema de alimentação e não observámos nenhum dosificador entupido. Em princípio a ração desce com normalidade. Além do mais, pensamos que se uma porca aborta por culpa de falta de alimento, deve tratar-se de uma situação realmente extrema e as porcas abortadas tampouco tinham uma condição corporal tão má quanto isso.
A exploração volta, pouco a pouco, à normalidade, não há mais abortos nem leitões débeis. Não entendemos o que foi que se passou.
Resolução do caso
Ao fim de um tempo observamos como as porcas com 35 dias de gestação que foram mudadas para a zona da gestação confirmada onde se tinha colocado o lote problemático, apresentam-se nervosas na hora de comer e devemos recuperar umas quantas porcas porque a sua condição corporal diminui drásticamente.
Cada parque dispõe de 6 dosificadores de queda lenta, com um espaço disponível para comer de 0,58 m por porca com semi-separadores entre eles.
Estes dosificadores funcionam com um pequeno motor eléctrico que oferece maior ou menor dosificação em função da dose que é necessária à unidade de controle correspondente.
Neste caso uma unidade de controle regula 5 parques (30 porcas). O sistema é efectivo, dado que os lotes produtivos da exploração são de 60 porcas (funciona em bandas de 3 semanas) e as necessidades nutricionais do lote ao longo da gestação confirmada serão muito parecidas.
Já se tinha verificado que todos os dosificadores deram ração e inclusive que o tempo de fornecimento fora o adequado. Contudo, não se tinha controlado a quantidade de ração que o dosificador oferecia.
Colocamos um saco atado a um dosificador e pomos o sistema a funcionar. Damos conta que onde se deveriam fornecer 3 Kg de ração, na realidade só se fornece escassamente 1. Este facto só sucede nos 30 parques regulados por uma mesma unidade de controle.
Cada unidade de controle tem um transformador para que a corrente que chega a 220 volts seja reduzida para 12 volts. Uma fallha nun destws transformadores faz com que a tensão fornecida seja só de 4,5 volts, com o que o motor dos dosificadores funciona mais lentamente. Este facto provoca que a dose fornecida se reduza consideravelmente.
O stress constante de um grupo de 30 porcas com uma redução muito importante de ração provocou que algumas porcas abortassem. Pensamos que o motivo do aborto é mais devido ao stress que à perda de condição corporal, dado que esta não era tão excessiva.
Onde também se fez notar o problema foi nos partos, dado que ao sofrer uma má nutrição no final da gestação (quando mais se desenvolve o feto), os leitões nascidos foram muito mais pequenos e débeis, aumentando inclusive o splay-leg.
Comentários
Nesta exploração aproveita-se uma antiga engorda para ser transformada em gestação confirmada. Trata-se de uma engorda pouco convencional, tipo “ninho”. A zona interior totalmente coberta e sem grelha; a zona exterior aberta, com grelha e com um simples telhado de fibrocimento com poliuretano injectado. A tolva encontra-se no interior e o bebedouro no exterior.
Como instalação de engorda não é nenhuma maravilha, tem muitos pontos negativos:
• No verão os porcos costumam descansar na zona exterior e defecar no interior (onde não há slat).
• No inverno trata-se de uma instalação extremamente fria e não há possibilidade de colocar estufas para aquecer.
• Vigiar diariamente os animais requer tempo, dado que é necessário entrar em cada parque para inspeccionar os porcos que estão na zona interior.
Transformação da engorda em parques de porcas
Ainda que tenha os seus pontos negativos, a instalação está em boas condições e decide-se aproveitá-la para alojar porcas gestantes em grupo.
O principal problema ao alojar porcas em grupo é encontrar um sistema de alimentação eficiente. Se mantemos o sistema de tolvas original, não poderemos regular a ingesta das porcas, pelo que vão engordar em excesso, vão dar problemas na maternidade e vai disparar o consumo de ração.
Com a finalidade de poder dosificar para garantir uma ingesta mínima de todas as porcas do grupo, decide-se instalar um sistema de queda lenta de ração com dosificadores.
• Cada porca dispõe de um dosificador e semi-separadores cada 0,58 m. que delimitam o espaço de comida.
• Entre a parte interior e a exterior, as porcas dispõem de muito espaço (3,6 m2 por porca) e mais de 50% do solo compacto.
Sistema de queda lenta
Os dosificadores funcionam com um pequeno dispositivo electrônico que regula um motor eléctrico que faz com que a ração caia pouco a pouco.
Um grupo de dosificadores está ligado a uma unidade de controle que determina a sua frequência de alimentação.
As distintas unidades de controle estão ligadas a um programador que porá em funcionamento os dosificadores automaticamente. Neste programador podemos memorizar 8 doses diferentes, especificando a quantidade de ração, o tempo de queda, o número de refeições diárias e o tempo entre refeições.
Podia-se ter colocado uma unidade de controle por parque, mas neste caso temos uma unidade em cada 5 parques (30 porcas). Desta forma reduzem-se custos, mas nestes 5 parques a dose fornecida deverá ser a mesma para as 30 porcas. Dado que os lotes produtivos da exploração são de 60 porcas (funciona em bandas de 3 semanas) e as necessidades do lote ao longo da gestação confirmada serão muito parecidas, o sistema já é eficiente.
Neste caso, a novidade da instalação e a pouca experiência com o sistema, desencadeou o aparecimento de abortos e leitões nascidos débeis num dos lotes de porcas controlados pela mesma unidade de controle.
O problema encontrava-se no transformador que alimenta a unidade de controle. Uma fallha eléctrica fizera com que fornecesse menos volts do que os que deveria, com o que o motor eléctrico do dosificador funcionava a menor velocidade, o que reduzia consideravelmente a dose de ração oferecida. A unidade de controle enganava-nos dado que pensávamos que forneciamos 3 kg, enquanto que na realidade só se dava pouco mais de 1 Kg.
A avaria foi resolvida e hoje em dia o sistema funciona de forma eficiente, dentro dos inconvenientes que tem qualquer sistema de alimentação de porcas em grupo.