O problema da diarreia pós-desmame continua a ser de grande importância prática para os produtores de leitões, provoca sofrimento e perdas de animais e pode ter efeitos substancialmente negativos na rentabilidade devido à redução do rendimento e da conversão. As estirpes enterotóxicas de Escherichia coli são a causa principal da diarreia pós-desmame e tornou-se notório que os seus efeitos no intestino podem ser contestados por dietas optimizadas. Após a proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento, desenvolveu-se um amplo leque de estratégias nutricionais para enfrentar melhor o problema das desordens digestivas em condições de campo. No que diz respeito às dietas optimizadas, os aditivos da ração estão a emergir como alternativas aos antibióticos clássicos, ainda que o seu efeito "antimicrobiano" não seja, provavelmente, o único modo de acção quando se metem as concentrações habituais na ração: podem actuar mais como "reguladores do microbioma". Em muitos estudos tem-se visto que o seu uso pode ter um efeito positivo no rendimento animal, provavelmente porque afectam a função e a saúde intestinal.
Os ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) têm 1-4 átomos de carbono e os seus sais têm um papel importante. O seu uso na ração para leitões é muito comum. Em contraste com os ácidos livres, os sais dos ácidos orgânicos são inodoros, têm uma volatilidade baixa e uma elevada solubilidade na água. Em comparação com os ácidos livres, a adição de sais é mais fácil de manejar na produção da ração para animais.
Os ácidos gordos de cadeia média (AGCM) utilizam-se como ácidos livres, como triglicéridos e como sais de destilados de ácidos gordos. Os ácidos gordos de cadeia média encontram-se naturalmente como parte dos triglicéridos na gordura do leite e em várias gorduras vegetais como o óleo de côco, de palmiste ou o da semente de Cuphea.
O modo de acção exacto dos ácidos gordos de cadeia curta e média ainda está em discussão. Parece multifactorial e depende da concentração na dieta, da composição do alimento e da situação específica do microbioma nas explorações, que é um factor importante mas ainda bastante desconhecido.
Vários estudos mostraram que os efeitos anti-bacterianos dos ácidos gordos de cadeia curta e média são particularmente relevantes quando o quimo está a pH's baixos. Tanto os AGCC como os AGCM são ácidos orgânicos débeis, ou seja, a pH's altos estão presentes, basicamente, sob a forma de sais, o que reduz a sua penetração através da parede celular bacteriana. Isto é considerado um pré-requisito importante para a sua eficácia anti-bacteriana. A redução do pH dentro da bactéria provoca um dano irreversível a enzimas bacterianas importantes, o que pode chegar a inibir o crescimento ou provocar a morte bacteriana.
Vários estudos mostraram que o uso de AGCC e AGCM e triglicéridos pode reduzir significativamente a diarreia na fase pós-desmame. Pode-se assumir que o efeito estabilizador dos ácidos orgânicos no tracto digestivo já se produz no tracto digestivo superior, ou seja, no estômago. Os AGCM com 6-12 átomos de carbono têm efeito anti-bacteriano se as concentrações na ração são relativamente altas. Os triglicéridos com AGCM apresentaram efeitos na saúde dos leitões e na sua microbiota intestinal, tanto no estômago como no intestino delgado. Para além dos efeitos dos ácidos gordos na microbiota intestinal e na saúde intestinal, produzem substratos interessantes para o metabolismo intermediário dos leitões. Foi demonstrado, por exemplo, que o ácido butírico é um substrato importante para o metabolismo energético dos enterócitos.
Os AGCM são rapidamente absorvidos, independentemente da secreção biliar, e podem ser utilizados no tecido intestinal e no fígado para produção de energia. A rápida absorção dos AGCC e AGCM iniciou um interessante desenvolvimento que levou aos ácidos "protegidos" ou "encapsulados". O objectivo é conseguir uma maior eficiência no tracto digestivo inferior, o que se foi demonstrado em diversos estudos.
O impacto dos AGCM, que está menos estudado do que o dos AGCC, está resumido na tabela 1.
Tabela 1: Efeitos nutricionais e fisiológicos dos triglicéridos de cadeia média (TCM)
e dos ácidos gordos em leitões (Zentek et al. 2011)
Digestão e absorção |
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Metabolismo |
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Morfologia e fisiologia intestinal |
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Microbiota intestinal |
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Rendimento dos leitões |
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A maior parte do trabalho publicado mostra claramente que o uso de ácidos gordos em suínos tem benefícios para a saúde e que a maioria tem um efeito conservante para a ração, sendo que o rendimento dos animais, em geral, é influenciado positivamente. Em resultado disso, agora estão fortemente consolidados na indústria da alimentação animal.