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Caso clínico: Actino-PRRS

A presença de dispneia na exploração e elevada incidência de pleuresias no matadouro foram causadas por Actinobacillus em associação com PRRS

5 Julho 2010
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Descrição da Exploração





Exploração de ciclo fechado de 250 porcas situada numa zona de forte densidade suína da Bretanha francesa com maneio em 7 bandas cada 3 semanas e desmame aos 28 dias. As doses de sémen são obtidas na própria exploração. Em relação ao alimento, também se fabrica na exploração. As primíparas de substituição são adquiridas no exterior certificadas como indemnes para o PRRS.

Distribuição dos pavilhões



Características dos pavilhões

Pavilhões
Características
Maternidades
M1
– 10 lugares de porcas em lactação
M2 – 60 lugares de porcas em lactação
Gestantes
G1
– 140 lugares de porcas gestantes, 4 vsrrascos
G2 – 70 lugares de porcas gestantes
Baterias
PD1
– 740 lugares sobre grelha total (parques de 30 leitões)
PD2 – 400 lugares sobre grelha total (parques de 30 leitões)
Engorda
E1 – 700 lugares de engorda sobre grelha total, alimentação líquida (parques de 15 porcos)
E2 – 400 lugares de engorda sobre grelha total, alimentação líquida (parques de 15 porcos)
E3 – 400 lugares de engorda sobre grelha total, alimentação líquida (parques de 15 porcos)

Profilaxias realizadas:

PRRS:
  • Vacinação das porcas banda a banda (na maternidade) mediante vacina viva.
  • Vacinação das primíparas na quarentena.
Mycoplasma:
  • Vacinação dos leitões aos 8 dias de vida e ao desmame.



Aparecimento do Caso





Após a detecção, no mês de Agosto de 2008, de lesões de pleuresia no matadouro e presença de dispneia em porcos a partir de 100 kg sem mortalidade, o suinicultor decide entrar em contacto com o veterinário.

Exames


Resultados dos controlos no matadouro:

Pneumonia Pontuação média: 4,5/28
% pulmões superiores onde = 8 : 25%
Pleuresia % pulmões afectados : 32,5%

As amostras de pulmões são recolhidas no matadouro e isola-se Actinobacillus pleuropneumoniae (B1S2) sensível à associação trimetoprim/sulfamidas.

Exames serológicos:

Recolhem-se amostras de sangue de porcos de crescimento/engorda de 14, 17, 20 e 26 semanas de vida (8 para cada idade) e realizam-se serologias para PRRS (ELISA IDEXX) e Mycoplasma (ELISA IDEXX) enquanto que para as amostras de porcos de 26 semanas de vida se realiza também ELISA para Actino 2.

  • Perfil PRRS (limiar de positividade: 0,4)




  • Perfil Mycoplasma (limiar de positividade: 0,4)



  • Serologias Actino 2 (limite de positividade: 0,5)


Conclusão a partir dos resultados dos exames
  • PRRS: o vírus encontra-se presente mas a sua circulação é débil (2 porcos ?/32, 6% de 65 a 110 kg) de forma que provavelmente não explica os problemas respiratórios observados. De todas formas, deve-se ter em conta a situação de risco já que o vírus se encontra circulante e a população não está protegida.
  • Mycoplasma: circulação no final da engorda (a partir dos 80 kg) que pode favorecer ou agravar os sinais respiratórios.
  • Actinobacillus: forte seroconversão para Actino 2. Este gérmen por ele só explica os sinais respiratórios observados no final da fase de engorda.

Medidas Propostas



  • Vacinação de porcas 4 primíparas às 6 e 3 semanas do parto com autovacina a partir da estirpe de Actinobacillus pleuropneumoniae.
  • Tratamento sequêncial dos porcos no final da engorda com trimetoprim e sulfadiazina (2 dias consecutivos cada 10 dias a partir dos 80 kg a uma dose de 25 mg/kg/d de sulfadiazina e 5 mg/kg/d de trimetoprim)





Evolução do Caso




Graças ao tratamento a situação estabiliza-se rapidamente mas aos 4 meses (Dezembro 2008), o suinicultor volta a por-se em contacto com o veterinário já que se constata um aumento importante da mortalidade no início da engorda com sinais respiratórios (tosse e dispneia).



Visita à Exploração





1. Porcas

Não se observa uma degradação dos resultados no efectivo de porcas. Mas observam-se algumas porcas com febre com presença de tosse e dispneia. .

2. Baterias/Engorda

O seguintes sinais observam-se há um mâs (princípios do mês de Dezembro) se bem que se tenham agravado durante os últimos dias:

  • Tosse e dispneia em leitões no final da fase de transição e início da engorda (entre as 8 a 12 semanas de vida),
  • diminuição do apetite e aumento da mortalidade para o mesmo intervalo de idade anterior,
  • forte heterogeneidade dos lotes após as 10-12 semanas de vida,
  • diminuição dos rendimentos zootécnicos (GMD, IC),
  • pelo contrário, as rejeições no matadouro parecem diminuir.

Exames Complementares





Necropsias

Realizam-se necropsias a 2 leitões de 25 kg (10-11 semanas de vida).

  • Aspecto exterior: bom estado geral.
  • Cavidade torácica:
    • pulmões (foto 1): pleuresia, abscessos nos 2 pulmões.
    • coração: nada a destacar.
  • Cavidade abdominal: nada a destacar.
  • Bacteriologia: Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2 sensível a TMP-Sulfa.
  • PCR para PRRS: negativa.



Exames serológicos

Recolhem-se amostras de sangue de 15 leitões de 10 a 11 semanas de vida (1 a 2 por parque da banda de leitões necropsiados apresentando tosse e dispneia desde há 10 dias) assim como de porcos de engorda com 14 semanas.




Conclusões




A exploração é fortemente instável contra l PRRS, a circulação é precoce (final das baterias) e corresponde com a presença de sinais clínicos (tosse, dispneia, diminuição do apetite e mortalidade).

Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2 é em parte o responsável pelos sintomas observados mas é a interacção com o PRRSV a que provavelmente explica a severidade dos sinais clínicos.




Medidas Tomadas



Estabilizar a exploração contra o PRRS
  • estabilização vacinal mediante utilização de vacina viva com injecção em massa (no mesmo dia) duas vezes com um intervalo de 4 semanas em todos os animais da exploração (salvo os leitões lactantes), seguido de dose de "rappel" de 4 em 4 meses nas porcas,
  • suspensão da entrada de primíparas na exploração durante 12 semanas,
  • suspensão momentanea da utilização de doses de sémen recolhidas na própria exploração,
  • reforço das normas de biosegurança:
    • controlo de veículos e visitantes,
    • separação do sector nascimento e baterias/engorda mediante "marcha para a frente" estrita,
    • revisão do circuito que realizam os animais para evitar, no possível, o contacto entre porcas e os leitões nas baterias ou engorda,
    • revisão do circuito do pessoal. A jornada laboral organiza-se da seguinte forma:
      • Manhã: quarentena => maternidades/gestantes => Baterias/Engorda
      • Tarde: DUCHE, quarentena => maternidades/gestantes => Baterias/Engorda
  • utilização de agulhas de uso único (1/porca, 1/10 porcos)
Medidas contra Actinobacillus pleuropneumoniae
  • mantém-se a utilização de uma autovacina em porcas e primíparas,
  • tratamento antibiótico com trimetoprim/sulfadiazina:
    • sobre toda a duração da segunda idade: alimento suplementado com TMP-sulfa (125 ppm/625 ppm),
    • manutenção do tratamento sequêncial no fim da engorda.




Comentários



O caso que nos ocupou este mês e que trata de uma infecção por Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2 e PRRSV apareceu numa exploração de ciclo fechado de 250 porcas situada numa zona de forte densidade suína da Bretanha francesa com maneio em 7 bandas cada 3 semanas e desmame aos 28 dias. As doses de sémen obtêm-se na própria exploração, bem como a alimentação que também se fabrica aí mesmo. As primíparas de substituição adquirem-se fora e estão certificadas como indemnes para o PRRS.

A infecção por Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2, em parte responsável pelos sintomas observados mas em interacção com o PRRSV provavelmente explicam a severidade dos sinais clínicos.

Sobre a etio-patogenia

As doenças respiratórias do porco são complexas e frequentemente resultam de uma "associação de maus factores".

O conceito de "iniciador" e de "oportunista" descrito entre outros por Pommier et al (2006) permite clarificar o presente caso:

  • O iniciador (neste caso o PRRSV) e encontra na origem de um ataque das linhas da frente de defesa (efeitos sobre o aparelho mucociliar, macrófagos alveolares, sistema imunológico, ...) e portanto do desenvolvimento de um ou mais "oportunistas".
  • O principal oportunista no nosso caso é Actinobacillus pleuropneumoniae B1S2

Na perspectiva de uma visão a longo prazo, é necessário actuar primeiro contra o iniciador (plano de estabilização do PRRS) e reduzir ao mínimo os efeitos do oportunista (antibiótico TMP-sulfa).
Nota: Actinobacillus pleuropneumoniae também pode causar doença por si mesmo, não há garantia de que o seu papel na patologia dos animais desapareça com a estabilização do PRRS (neste caso propõe-se reforçar as medidas contra A. pleuropneumoniae). Contudo, é essencial, na nossa opinião, tratar primeiro do PRRS neste caso.

Sobre a circulação do PRRSV

Observa-se uma forte recirculação do PRRS nas baterias/engorda mas provavelmente também na maternidade (porcas com febre, tosse e dispneia) entre os primeiros exames realizados (Agosto de 2008) e os efectuados 4 meses depois (Dezembro de 2008).

As possíveis razões da recirculação são:

  • normas de biosegurança pouco respeitadas em alguns pontos (ausência de "marcha para a frente", utilização de uma agulha para diferentes porcas...),
  • não protecção dos varrascos: os varrascos utilizados para a recolha de sémen não se encontram vacinados contra o PRRS e são introduzidos sem protecção imunitária dentro do efectivo de porcas. Também são utilizados para a detecção do cio de forma que regularmente estão em contacto focinho com focinho com as porcas. Realizaram-se provas serológicas em 4 varrascos antes da aplicação do plano. Os resultados foram todos positivos com índices elevados compreendidos entre 1,4 e 2,5 (IDEXX ELISA, limiar de positividade ? 0,4). Estes resultados mostram que os varrascos tinham sido contaminados na exploração e constituiam em consequência uma fonte de eliminação viral (ar e sémen). Também se pode duvidar da eficácia da vacinação contra o PRRSV banda a banda na gestão da circulação do vírus no efectivo de porcas.
  • o baixo nível de protecção dos porcos nas baterias/engorda (ver os resultados da serologia realizada em Agosto de 2008) também explica porque a reactivação do vírus foi tão violenta.


Sobre o plano de estabilização

  • A vacinação em massa permite uma imunização massiva e rápida do efectivo, com uma forte diminuição da circulação viral entre pavilhões (sobretudo a produção de leitões virémicos ao desmame).



  • A suspensão da entrada de primíparas durante 3 meses é essencial já que estes animais frequentemente são a origem das reactivações virais. Torna-se necessário rever a duração da quarentena para que esta seja, no mínimo, de 9 semanas.
  • A suspensão momentanea da recolha de sémen na exploração iniciou-se já que os 4 varrascos analizados foram serologicamente positivos e, neste caso, a eliminação do vírus através do sémen é imprevisível.


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