O Clostridium difficile é uma bactéria Gram positiva, anaeróbica e formadora de esporos. A patologia entérica produzida por C. difficile afecta várias espécies incluindo humanos, porcos, cavalos, primatas não humanos, coelhos, ratos, cães e gatos (Arroyo et al., 2005; Debast et al., 2009; Hopman et al., 2011; Keessen et al., 2011a; Norman et al., 2009).
Em suínos, a infecção causada por C. difficile (ICD) é uma das patologias entéricas mais importantes do recém-nascido e é observada principalmente em leitões de 1-7 dias (Hopman et al., 2011; Songer and Anderson, 2006). Os sinais clínicos incluem diarreia amarelada e aquosa e obstipação (Yeager 2007). A colonização intestinal por C. difficile dá-se durante as primeiras horas de vida e, em algumas explorações, quase 100% dos leitões estão colonizados nas 48 horas pós-parto (Hopman et al., 2011). No entanto, a doença clínica só é observada em circunstâncias concretas. A transmissão é oro-fecal e, frequentemente, as bactérias e esporos são endémicos no ambiente da exploração, ainda que tenha sido demonstrado que só aproximadamente 25% das porcas amostradas estavam a excretar activamente C. difficile durante a lactação (Norman et al., 2009). Outros estudos demonstraram que o ar e o meio ambiente são as fontes principais de C. difficile para os leitões recém-nascidos (Hopman et al., 2011). Os esporos de C. difficile são muito resistentes aos agentes físicos e químicos como os utilizados para limpar as explorações bem como a maioria dos desinfectantes mais comuns (Fawley et al., 2007) e podem sobreviver por muitos meses no meio ambiente (Speight et al., 2011). A prevalência de C. difficile nos porcos cai drasticamente com a idade e estudos em diversos países revelaram uma prevalência consistentemente baixa em porcos de matadouro, que oscila entre 0% e 8% (Baker et al., 2010; Hoffer et al., 2010).
Arruda et al. (2013) demonstraram recentemente que, embora a maioria dos casos de C. difficile se produzam na primeira semana de vida, os leitões de 10 dias são tão susceptíveis com os recém-nascidos quando são expostos a estirpes toxigénicas de C. difficile. Foram descritos muitos factores de virulência associados à ICD incluindo proteínas de superficie e exotoxinas, muito embora se considere qua as exotoxinas A e B (TcdA e TcdB, respectivamente) são os principais factores de virulência associados ao aparecimento da doença (Davies et al., 2011). Algumas estirpes de C. difficile também produzem uma toxina binária ribosilante de ADP, no entanto, ainda não foi elucidado sobre o seu papel na patogénese da doença (Davies et al., 2011).
As lesões associadas à ICD concentram-se, essencialmente, no intestino grosso. O edema do meso-cólon (figura 1) é a lesão macroscópica clássica que se observa nos casos de ICD. No entanto, esta lesão não é patognomónica. Yaeger et al demostraram que o edema do meso-cólon nos leitões não é um bom indicador de toxinas por C. difficile (Yaeger et al., 2007). O exame histopatológico dos animais afectados revelou uma colite ulcerativa fibrinopurulenta multifocal ou localmente extensa (figura 2).
Figura 1. O edema do meso-cólon é uma lesão típica dos casos de ICD.
Figura 2. O exame histopatológico dos animais afectados revelou uma colite ulcerativa fibrinopurulenta multifocal ou localmente extensa.
Acredita-se que há muitos factores de risco que contribuem para o ICD, incluindo: a administração de antibióticos, a dose infecciosa, o perfil de toxinas associadas e a idade. Num estudo recente, foi demonstrado que a dose infecciosa está directamente correlacionada com a severidade da doença. As descobertas deste mesmo estudo sugerem que o tratamento antibiótico no primeiro dia de vida não têm um papel importante no desenvolvimento e/ou severidade das lesões por ICD nos leitões (Arruda, et al., 2013). Isto pode ser devido a que a falta de uma microflora intestinal bem estabelecida nos leitões recém-nascidos limita o impacto dos antibióticos sobre a mesma (Arruda, et al., 2013). A taxa de mortalidade associada a surtos de ICD é variável, no entanto, foram descritas taxas tão altas como de 16% (Anderson and Songer, 2008). Nos leitões recuperados foi descrito atraso no crescimento e menor peso ao desmame, uns 0,5 kg menos em média (Songer, 2004).
O diagnóstico da ICD pode ser difícil devido à natureza endémica desta bactéria. Por exemplo o simples isolamento da bactéria ou a detecção da toxina (ELISA) não são suficientes para diagnosticar a doença. Para um diagnóstico adequado da ICD em leitões, recomenda-se um diagnóstico em múltiplas fases incluindo a identificação de casos potenciais (história clínica), ELISAs para a detecção de toxinas e exame histológico de secções do intestino grosso.
Até ao momento não há nenhum produto comercial autorizado para prevenir e/ou tratar a ICD em leitões. Foi demonstrado que a dose infecciosa está directamente associada à severidade da doença, pelo que as práticas que diminuam a dose de exposição dos leitões recém-nascidos poderá prevenir e/ou minimizar a expressão da doença clínica. Finalmente, parece que o uso de C. difficile não-toxigénico (NTCD) como probiótico pode reduzir a severidade das lesões histológicas e a quantidade de toxinas detectadas nos leitões recém-nascidos (Arruda et al., 2016). Em resumo, embora seja grande a importância da ICD em leitões recém-nascidos, continuam a haver grandes lacunas no conhecimento dos conceitos básicos da epidemiologia, patogénese e prevenção em suíno.