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Agentes infecciosos identificados em fetos de suíno abortados

O PCV-2 e o PRRS são as causas infecciosas mais frequentes dos abortos. Também se detecta que, independentemente da causa, a maioria dos abortos acontecem durante os meses frios.

O gráfico circular representa a percentagem de abortos na primeira e na segunda etapa da gestação, respectivamente. O gráfico de barras representa a sazonalidade dos abortos.
O gráfico circular representa a percentagem de abortos na primeira e na segunda etapa da gestação, respectivamente. O gráfico de barras representa a sazonalidade dos abortos.
25 Novembro 2016
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Artigo

Cristian Salogni et al. Infectious agents identified in aborted swine foetuses in a high-density breeding area: a three-year study. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, 28 (5), pp. 550-554

 

Que se estuda?

Este estudo determinou a presença de agentes patogénicos causadores de abortos a partir de um número elevado de fetos abortados que foram enviados para o laboratório por explorações de reprodutoras de uma região de elevada densidade suína do norte de Itália.

 

Como se estuda?

O estudo avaliou 1625 fetos de 549 porcas de 140 explorações convencionais que tinham sido enviados para o laboratório de diagnóstico do norte de Itália durante um período de 3 anos (2011 a 2013) para a investigação de falhas reprodutivas. Em todos os fetos procurou-se PCV2 e PRRSv mediante rtPCR; Aujeszky, parvovirus, enterovirus, PSC e vírus da encefalomiocardite mediante isolamento e anticorpos contra a Aujeszky e parvovirose mediante ELISA competitivo. Isolarom-se e identificaram-se bactérias do encéfalo, pulmões e fígado de todos os fetos mediante culturas em ágar. Não se realizaram análises para Leptospira spp. devido à extrema dificuldade em conseguir uma identificação fiável.

 

Quais são os resultados?

As amostras de Outono (28,2 %) e Inverno (35,5 %) estiveram sobre-representadas sem poderem ser associadas a algum dos agentes patogénicos detectados em concreto. A maioria das amostras (71 %) eram provenientes de abortos que tinham ocorrido durante a segunda metade da gestação. Em 323 dos 549 casos investigados (58,8 %) detectou-se, no mínimo, um agente etiológico. Em 30 % dos referido casos detectou-se mais de um agente patogénico. Nos 323 casos positivos, os agentes detectados mais frequentemente foram o PCV2 e o PRRSv: PCV2 138, PRRSv 108, E. coli 64, Strep sp. 63, parvovirus 20, Aujeszky 6, Staphylococcus sp. 5, vírus da encefalomiocardite 3, Pasteurella sp. 3, Shigella sp. 1 e Yersinia sp. 1 vez. Não se detectou PSC nem enterovirus.

 

Que conclusões se retiram deste trabalho?

Muitas infecções são simultáneas, ainda que restringidas a um pequeno número de agentes patogénicos. O facto de que tanto o PRRSv como o PCV2 se tenham encontrado mais frequentemente indica que estes dois agentes estavam muito disseminador nessas explorações. A sua presença pode indicar que, ou não estão controlados (PRRS), ou que o seu impacto nas reprodutoras está infra-avaliado (PCV2). A vacinação contra o PCV2 utiliza-se pouco nesta região. Pelo contrário, a baixa detecção de parvovirose e de Aujeszky seguramente está relacionada com uma vacinação regular e efectiva. O autor insiste na importância de um protocolo que garanta uma recolha consistente de amostras para poder obter resultados fiáveis em casos de abortos e quando se investiguem falhas reprodutivas. A maioria das amostras enviadas foram de casos que aconteceram durante a segunda metade da gestação. Isto pode estar relacionado com o facto dos fetos que morrem durante o primeiro e segundo terço da gestação serem reabsorvidos ou serem pequenos, pelo que não ficam disponíveis para análise. Finalmente, as investigações sanitárias como a descrita neste artigo são úteis para tomar decisões sobre medidas de maneio para controlar a falha reprodutiva.

 

Enric MarcoA visão a partir do campo por Enric Marco

Um dos problemas mais difíceis de diagnosticar em clínica de suínos são os abortos. Em muitos casos, quando vemos abortos a causa já não está presente, pelo que o diagnóstico é impossível. Alguns trabalhos cifram em mais de 60% a proporção de abortos que ficam sem um diagnóstico.

O presente trabalho pode-nos ajudar a tentar reduzir a frequência ou o impacto dos mesmos. Após uma extensa investigação, fornece-nos dados interessantes. A maioria dos casos de abortos acontecem durante os meses frios, independentemente de qual seja a sua causa. Que os problemas apareçam com mais frequência nos meses frios, não deixa de ser uma indicação de que possivelmente os alojamentos, aos em que às gestações se refere, não consigam isolar suficientemente o ambiente interior do exterior. O stress térmico pode afectar negativamente a resposta imunitária dos porcos colocando as gestações num estado de maior vulnerabilidade. Em consequência, a melhoria das condições de alojamento na gestação deveria ser uma prioridade nas explorações com problemas reprodutivos durante os meses fros. Possivelmente, nestes casos, um aumento na quantidade de ração diária forneceida, colocaria as porcas gestantes numa situação mais favorável já que lhes permitiria reduzir o impacto negativo de um ambiente frio.

O gráfico circular representa a percentagem de abortos na primeira e na segunda etapa da gestação, respectivamente. O gráfico de barras representa a sazonalidade dos abortos.
O gráfico circular representa a percentagem de abortos na primeira e na segunda etapa da gestação, respectivamente. O gráfico de barras representa a sazonalidade dos abortos.

Do trabalho também se retira a conclusão que, entre as causas infecciosas de abortos, a Circovirose Suíina (PCV-2) e o Sindroma Respiratório e Reprodutivo Suíno (PRRS) são os mais frequentes. Evidentemente com estas descobertas definir um melhor controlo de ambas doenças no efectivo reproductor devería ser uma prioridade em zonas densas (como a do estudo). No que respeita à Circovirose Suína, a vacinação está muito disseminada em leitões mas ainda são poucas as explorações que vacinam as porcas e, quando o fazem, nunca é a pensar na redução de problemas reprodutivos, mas sim em reduzir os problemas observados na fase de crescimento dos leitões. Quiçá um maior uso da vacinação contra o PCV2 nas reprodutoras reduzisse a frequência em que este agente etiológico é diagnosticado em abortos. Para reduzir a frequência de diagnóstico do vírus PRRS nos casos de abortos, as medidas que se deverão adoptar são mais complexas e devem incluír a vacinação do efectivo reprodutor, a melhoria da biossegurança da exploração para evitar a entrada de novas estirpes virais e a aplicação de medidas de maneio orientadas para reduzir as circulações víricas que se produzem no que denominamos "zonas quentes": reposição e zonas de baterias.

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