Hoje poderia falar do último relatório popularmente conhecido como WASDE (o relatório publicado mensalmente pelo departamento de agricultura dos Estados Unidos) que, em resumo, decidiu que, segundo as suas estimativas de oferta e procura, as coisas estão a ir segundo o previsto. Dito de outro modo, a relação stock final de campanha – produção fica da seguinte maneira: 16,27% para o milho, 25,38% para a soja e 25,79% no caso do trigo. Definitivamente, não há escassez, nem haverá, outra coisa é que o mercado reflectisse estes números.
Poderia também comentar que a comunidade europeia, contando todas as exportações e inclusive as autorizações já concedidas neste mês de Março, terá alcançado 75% das previsões de exportação de trigo para toda a campanha… ou seja, nada novo no horizonte, já que apenas restam 3 ou 4 meses para iniciar a nova campanha.
Então… do que é que posso falar? Vamos centrar-nos em coisas que afectam o mercado. Por exemplo, a confusão que se está a criar na Ucrânia. Afecta-nos por vários motivos: por um lado fomenta a retenção de mercadoria por parte de todo o mundo (perante a incerteza é sempre melhor matérias-primas que dinheiro no banco), segundo pelo medo de um possível bloqueio no Mar Negro que provocaria uma compra de trigo, milho e outros em diversas origens para cobrir as posições compradas na Ucrânia e Rússia, com o consequente aumento de preço das matérias. Terceiro, como a oferta se reduziu drasticamente, os preços subiram e, como existem diferenciais bastante grandes entre os preços comprados e o preço actual, aumenta o medo de possíveis incumprimentos. O quarto ponto a ter em conta seria a subida do petróleo derivada de um aumento das tensões na Ucrânia, com o consequente aumento do frete. Como resultado de tanta incerteza (também podemos somar aqui todos os problemas da Venezuela) as divisas estão a ficar loucas…o que adiciona mais volatilidade ao mercado. Definitivamente tal como diz o ditado espanhol do século XIX “Agua, sol y guerra en Sebastopol” é o necessário para elevar os preços dos cereais.
Em última análise… Onde é que ficamos? Pois realmente num compasso de espera, mas tenso, sem preços definidos e com grandes variações nos mesmos dependendo do último rumor ou da última notícia, ou de como estão as divisas nesse preciso momento. Por parte do fabricante, actualmente, há uma certa calma e tranquilidade, graças a coberturas feitas mais ou menos, pelo menos até Maio e coberturas significativas até Janeiro, pelo menos de milho. Se juntarmos que o mercado nacional até agora não reagiu, o comprador sente-se confortável. Se não fosse pela soja e derivados seria uma situação ideal. Outra coisa é que o mercado, desde há uma semana, cada dia que passa, sobe preços e os únicos compradores que há parece que são só os importadores. Logicamente, se a situação não se acalma, parece que a subida de preços no porto e nos mercados de futuros passará ao mercado nacional.
Temos que ter presente que, na actualidade, e apesar das subidas, a maioria dos produtos cotados no porto estão ao redor de 10 €/Tm abaixo do preço de reposição.
Foquemo-nos na soja. Além da "farra" normal, esta semana juntou-se a falta de físico também em Barcelona, o que encareceu o preço até 467 €/Tm. Segundo parece, esta situação de desabastecimento em Barcelona, será arranjada na semana que vem, também melhorará a situação com a chegada de farinha de importação a Tarragona… vamos lá ver se se consegue acalmar o mercado.
Resumidamente, insisto no facto de que a única defesa possível perante tanta desordem e tanto pavor é cobrir parcialmente as posições a futuro de qualquer matéria-prima cada vez que seja oferecida a preços razoáveis. Dito de outro modo, o comprador ao entrar no mercado imediato tem que poder dizer que não.
O mês que vem há mais e esperemos que melhor.
6 de Março de 2014