Sabemos a importância de conseguir consumos máximos de ração por parte das porcas durante a lactação. Isso irá influenciar o tamanho do leitão e especialmente garante o futuro reprodutivo das porcas desmamadas. Por outro lado, ainda existem muitas explorações que estão sujeitas a elevados desperdícios de ração na fase da maternidade.
Os dispositivos que usamos para fornecer a ração às porcas (tulha ou comedouros) condicionam a nossa capacidade de conseguir os consumos máximos. Deveremos adaptar o maneio alimentar em função da cada dispositivo para tirar o máximo proveito dos pontos fortes e tentar corrigir os seus pontos fracos.
Tulhas
Quando dizemos que o nosso objetivo é conseguir consumos máximos de ração, pode-se concluir rapidamente que a melhor solução é instalar uma tulha para que a porca coma quanto e quando quiser. A tulha garante o consumo ad-libitum em cada momento e as porcas ficam muito tranquilas, mesmo entrando nas salas de parto a qualquer hora.
Muitos técnicos consideram apropriado continuar com a alimentação racionada antes do parto e depois aumentar gradualmente a ração diária até ao consumo máximo. Podemos resolver este problema instalando um tubo telescópico na calha de descida do alimentador para conseguir diferentes níveis de enchimento da tulha, ou até mesmo montando um dosificador na calha de descida que por sua vez descarregue na tulha.
Foto 1. Tulha regulada com “comporta” em tigela. Este sistema de regulação da queda de ração é pouco preciso.
Foto 2. Tulha com mecanismo de queda. A regulação é mais precisa que com o sistema anterior. Tigela para o fornecimento água. |
Podemos pensar que, para repartir ração quando temos tulhas basta iniciar o alimentador para que todas as tulhas fiquem cheias. No entanto, não podemos esquecer que antes de as encher devemos verificá-las para detetar porcas que comeram pouco ou que deixaram de comer. O apetite é a nossa principal "ferramenta" para detetar as porcas com problemas. Contudo, quando se utilizam tulhas temos geralmente um controlo menos preciso do consumo de cada uma das nossas porcas.
O desenho da maioria das tulhas também costuma dificultar a sua limpeza quando se acumula ração estragada no prato. Também não podemos esquecer que as porcas em jaulas podem manifestar estereotipias e a contínua manipulação do mecanismo de queda da ração pode conduzir a um aumento do desperdício. Devemos ser muito cuidadosos com a regulação desses mecanismos e estar vigilantes com a presença de ração no solo ou no fosso.
A utilização de tulhas leva também geralmente a que o ponto de abastecimento de água esteja separado do ponto de fornecimento de ração. Consideramos que a tigela típica com chupeta, pelo seu tamanho e fluxo, pode afetar negativamente o “conforto” com que a porca bebe e indiretamente o consumo de água.
Comedouro
Associamos o comedouro a um determinado número de refeições por dia, em que decidimos que a quantidade de ração é distribuída (estabelecemos uma curva de alimentação). Geralmente, no mesmo comedouro existe uma chupeta e a porca come um alimento húmido (se as porcas comem húmido conseguem-se consumos superiores). De tudo isto depreende-se que os comedouros implicam uma maior dedicação:
- Na altura das refeições descarregamos os dosificadores. Podemos automatizar algumas ou todas as descargas.
- De acordo com o que comam as porcas aumentaremos ou não a ração em função da curva estabelecida.
- Se alguma porca perdeu o apetite, convém retirar a ração em excesso para evitar que se estrague no comedouro se este estiver molhado. Devemos reajustar a curva de alimentação dessa porca.
Foto 3. Comedouro grande, com chupeta de elevado fluxo (7 litros/min). Orifício de drenagem lateral para manter o nível de água.
Esta maior dedicação também traz um melhor conhecimento do nível de consumo de cada animal e também um seguimento mais exaustivo do seu estado geral (todos os dias vemos se as porcas se levantam para comer e se alguma mostra claudicação, etc).
Foto 4. Alimentação manual em comedouros muito grandes. A porca dispõe de uma chupeta de fluxo médio mas temos uma torneira em cada lugar para juntar água às refeições ou quando entendermos oportuno.
O tamanho do comedouro é importante. Quantidades elevadas de ração misturadas com água precisam de comedouros grandes (principalmente em sistemas de alimentação líquida).
Foto 5. Chupeta de elevado fluxo colocado num comedouro pequeno. Quando se dá ração temos desperdícios elevados.
Um bom comedouro também pode ajudar a conseguir elevados consumos de água. Para que uma porca beba muito “temos que o colocar num sitio fácil”. Um comedouro grande junto com dispositivos que fornecem um elevado fluxo de água garantem que o comedouro tem sempre um nível bom de água. Nestas circunstâncias a porca pode beber grandes quantidades de água com pouco esforço.
Foto 6. Comedouro com válvula de nível. A porca dispõe a cada momento de um volume significativo de água no comedouro sem ter que fazer um esforço para tirá-la de uma chupeta.
Quando há uma quantidade excessiva de água nos comedouros, deve ser retirada antes de iniciar as refeições, para evitar o desperdício de ração. Isso pode ser devido a esteriótipos mas acontece principalmente quando as porcas passam calor no verão. Nestes casos, há que melhorar o conforto térmico das porcas (sistema de refrigeração). Pode também ter um orifício de drenagem no comedouro que irá determinar o nível máximo de água.
Em alguns casos temos visto soluções “mistas”. Dosificadores que em vez de descarregarem num comedouro fazem-no numa tulha, dosificadores com um mecanismo por impulsos que descarregam num comedouro…
Convém fazer uma boa eleição do dispositivo e do maneio que aplicamos já que:
- Consumos elevados são garantia de bons resultados
- A ração e a mão de obra representam uma percentagem significativa do custo de produção.