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Alimentação de porcas em ad libitum

Atualmente, não podemos alimentar as porcas como faziamos antes, uma vez que estas passaram a ser  animais muito mais produtivos, maiores, sexualmente mais precoces e com menores reservas de gordura que as porcas antigas.

Introdução

As porcas modernas têm maiores necessidades nutricionais, dado que alcançam a puberdade mais cedo, são maiores, têm menores reservas de gordura e são mais produtivas. Além disso têm menor capacidade de ingestão, o que pode afetar o desenvolvimento correto das glândulas mamárias e a  produção láctea (Kim et al, 1999).

Por outro lado, perderam a rusticidade, e precisam de melhores condições ambientais e de um maneio excelente; incluindo o maneio alimentar, tanto na gestação como na lactação.

Alimentar as porcas em ad libitum desde quatro dias antes do parto, ou desde o momento do parto, aumenta a ingestão total de ração durante a lactação, reduz a perda de peso e a gordura dorsal da porca e melhora o desenvolvimento das ninhadas, tanto no crescimento diário como na sobrevivência dos leitões (M.Neil,1996).

O objetivo deve ser que a porca coma tanto quanto possível durante todo o período de lactação.

Se perguntarmos qual é a melhor maneira de o conseguir, encontraremos inúmeras recomendações:

  • Com rações granuladas conseguem-se maiores consumos do que com as farinhas.
  • Administrar ração várias vezes por dia.
  • Juntar água ao comedouro em cada refeição.
  • Condições ambientais adequadas para evitar temperaturas elevadas.
  • Não alimentar em excesso as porcas em gestação.
  • Evitar grandes jejuns nos dias anteriores ao parto.
  • Uso de dietas pré-parto favorecem a saúde intestinal e a dinâmica do parto.
  • Logo que possível, aumente a quantidade de ração oferecida na primeira semana pós-parto.
  • Limpar os comedouros.
  • Prestar atenção individual a cada porca, e não tomar como referência da sala a porca que não come o  suficiente.
  • Sistemas de alimentação ad libitum.

Alimentação ad libitum em lactação

Imagem 1. Alimentação ad libitum em lactação.

 

Consequências de uma má alimentação

Quando as porcas não chegam a alcançar as suas necessidades nutricionais, utilizam as suas reservas energéticas e proteicas para poder manter a produção de leite (Revell et al, 1998). É durante a primeira semana de lactação que detetamos a maioria das deficiências, uma vez que muitas porcas não cobrem as suas necessidades até aos 10 dias após o parto. A primeira consequência será a perda de massa corporal (gordura e proteína).

No gráfico 1 pode observar a perda de peso das porcas, tanto no caso das adultas como no das jovens, à medida que diminui o consumo médio diário.

Alterações do peso corporal das porcas adultas e primíparas de acordo com a ingestão média durante a lactação

Gráfico 1. Alterações no peso corporal das porcas adultas e primíparas de acordo com a ingestão média durante a lactação.
(Ferguson et al, 2010)

Quando a perda de peso é importante, produzem-se uma série de alterações metabólicas que levam a problemas reprodutivos como o agravamento da taxa de partos e diminuição do número de leitões nascidos (Vinsky et al, 2006).

A produção de leite prevalece sempre que a perda de proteínas não exceda os 10% a 12% da  massa corporal. A partir desse momento, a produção de leite diminui e o crescimento dos leitões e a homogeneidade da ninhada são prejudicados (Aherne, 2004).

Porcas recém cobertas com perda excessiva de co 1

Imagem 2. Porcas recém cobertas com excessiva perda de condição corporal durante a lactação.

 

O gráfico 2 representa a relação direta existente entre o consumo das porcas em lactação e o peso da ninhada ao desmame. Quanto maior é o consumo, maior é o peso dos leitões e, pelo contrário, quanto menos come a porca menos pesam os leitões ao desmame.

Peso da ninhada ao desmame segundo o consumo médio da porca em lactação

Gráfico 2. Peso da ninhada ao desmame segundo o consumo médio da porca em lactação. (Ferguson et al, 2010)

 

Curvas de alimentação ad-libitum vs curvas restringidas

A restrição de ração (stair step) na primeira semana de lactação diminui o consumo total de ração durante toda a lactação (Moser et al,1987, Stahly et al 1979).

Em 1998, Belstra já demonstrava que as porcas ad-libitum comiam 106,4 kg durante os 21 dias, em comparação com os 89,9 kg quando eram restringidas durante a primeira semana de lactação (gráfico 3).

Ingestão diária das porcas durante a lactação com um sistema de alimentação restringido comparado com um sistema ad libitum

Gráfico 3. Ingestão diária das porcas durante a lactação com um sistema de alimentação restringido em comparação com um sistema ad libitum. (Belstra et al, 1998)

Ferguson, Simard e Leduc (2010) num estudo comparativo entre diferentes curvas de alimentação concluem que as porcas que comem ad libitum são capazes de comer até 1,29 kg/dia mais do que as porcas com curvas de alimentação menos agressivas (gráfico 4).

Comparação entre ração oferecida e ração consumida diariamente para diferentes curvas de alimentação

Gráfico 4. Comparação entre ração oferecida e ração consumida diariamente para diferentes curvas de alimentação.
(Ferguson et al, 2010)

O efeito da restrição sobre o crescimento dos leitões e sobre os parâmetros reprodutivos na ninhada seguinte pode ser observado na tabela 1, onde se comparam os resultados de porcas ad libitum com porcas restringidas durante a lactação.

Tabela 1. Impacto da restrição alimentar em porcas, sobre o rendimento das suas ninhadas durante os 28 dias de lactação e na próxima lactação. (De Bettio et al 2015)

  Lactação Lactação seguinte
Parâmetros Controlo Restringida Estatísticas1 NPL RPL Estatísticas1
Número de porcas 20 20   20 20  
Tamanho ninhada            
Ao parto 15,1 15,1   15,1 14,1 TL
Ao 7º dia 13,3 13,1   13,4 12,6  
Ao desmame 12,9 12,8   12,4 11,5  
Peso médio dos leitões (kg)            
Ao parto 1,36 1,39   1,45 1,42  
Ao 7º dia 2,53 2,64   3,00 3,02  
Ao desmame 7,40 6,93 TL 7,73 8,05  
Peso ninhada (kg)            
Ao parto 20,50 21,00   21,59 20,02  
Ao 7º dia 33,67 34,53   40,20 38,05  
Ao desmame 95,31 88,56 TL* 96,43 92,87 O
Aumento do peso da ninhada (kg/dia) 2,70 2,43 TL* 2,72 2,66  
Produção de leite (kg/dia)2 8,33 6,99 TL** 8,55 8,75  
Eficiência lactação (%)3 72,93 82,30 TL* 72,23 69,44  

NPL: Alimentação normal lactação anterior
RPL: Alimentação restringida lactação anterior
1 Obtido através de ANOVA (GLM inclui os efeitos da paridade (O), tratamento (TL) e replicação da porca (G) e os suas  interações (TlxO; TLxG).
2 Produção média diária (MP) calculada tendo em conta o aumento de peso da ninhada (DWG), tamanho da ninhada e teor de matéria seca do leite (19%) aplicada à equação de Noblet e Etienne (1989). MP 8kg/dia) = ([0,718 x DWG - 4,9] x número de leitões)/0,19
3 A eficiência da lactação (LE) foi calculada segundo a equação de Bergsma et al. (2009). LE (%) = input energético (derivado do consumo de ração e mobilização corporal) para a manutenção da porca, a manutenção da ninhada e o crescimento.
** P<0,01, *P<0,05, P<0,10

 

As porcas ad libitum produzem 8,33 kg de leite/dia vs 6,99kg no caso das restringidas.

Os leitões pesam 7,40 kg ao desmame vs 6,93kg no caso dos restringidos.

As porcas restringidas na ninhada seguinte perdem um leitão (15,1 vs 14,1).

 

Conclusões

Atualmente, não podemos alimentar as porcas atuais como o faziamos tradicionamente, uma vez que são animais muito mais produtivos, maiores, sexualmente mais precoces e com menores reservas de gordura que as porcas antigas.

As porcas são capazes de aumentar o consumo se se lhes oferece essa possibilidade.

A restrição de ração durante a primeira semana depois do parto diminui a ingestão total durante a lactação.

Algumas das consequências das restrições são:

  • Sobre o ciclo atual
     
    • Perda de condição corporal da porca.
    • Diminuição da gordura dorsal.
    • Diminuição da produção de leite.
    • Diminuição da homogeneidade da ninhada e do crescimento da mesma.
       
  • Sobre o ciclo seguinte
     
    • Diminuição da taxa de partos.
    • Diminuição dos leitões nascidos totais, vivos e homogeneidade do peso ao nascimento.
    • Necessidade de mais ração na gestação para recuperar a condição corporal.

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