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Alimentação na gestação: A hora importa?

A hora a que se distribui a ração afecta os rendimentos reprodutivos?

Artigo comentado

Hayford M., Lee, S.H., Ren, P., Pangeni, D., Yang, X. and S. K. Baidoo. 2019. Effects of time of feeding during gestation on sow’s performance. J. Anim. Sci. 2019.97:1234–1241, doi: 10.1093/jas/skz006

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Comentário

Durante a gestação as porcas têm uma alimentação restringida seguindo uma curva de alimentação que pode ter distintas formas. Na prática, para uma mesma ingestão total de ração no global da gestação, há explorações que utilizam uma curva plana ou quase plana (as porcas recebem diariamente a mesma quantidade de ração) enquanto outras utilizam uma curva clássica com um nível elevado nas primeiras semanas, reduz-se consideravelmente na parte central para aumentar de novo no último mês. A quantidade global de ração a administrar e o tipo de curva dependerá da linha genética, do ritmo de crescimento da porca jovem ou da quantidade de reservas que a porca adulta deve recuperar e também das instalações para a gestação confirmada e da logística utilizada para fazer os grupos de porcas após o primeiro mês de gestação. A literatura consultada sugere que, em condições normais, a quantidade total de ração administrada ao longo de todo o período é mais importante que a forma da curva utilizada. Por outra lado, alimentar uma só vez por dia ao início do dia faz com que os animais comam e fiquem tranquilos. Nos sistemas em que se dá ração duas vezes diárias, a partir de meados da manhã os animais estão intranquilos e pedem a outra metade da ração cada vez que notam a presença de uma pessoa.

Os resultados mostram poucas significâncias estatísticas, Com efeito, a hora a que se dá a ração não modificou a evolução do PV das porcas (p>0,8) ao longo do ensaio. Contudo, entre os dias 30 e 109 de gestação, as porcas alimentadas pela tarde (15:30h) aumentaram mais o EGD (3,69 vs 2,12, p<0,04) e perderam mais EGD durante a lactação (-0,70 vs 0,17, p=0,17) do que as porcas que comiam pela manhã. Além disso, as alimentadas à tarde pariram mais um leitão vivo (13,00 vs 12,02, p=0,25) e, partindo do mesmo número de leitões às 24 horas após o parto, desmamaram mais meio leitão (10,87 vs 10,33, p=0,09) com o mesmo peso vivo médio por leitão ao desmame (5,99 vs 6,00, p=0,90). Os autores atribuem a existência de maiores reservas de gordura (EGD) a um nível mais alto de triglicéridos circulantes no plasma observado em humanos que consumem boa parte da sua alimentação durante a tarde-noite. Contrariamente, não dão nenhuma explicação para o meio leitão desmamado a mais e apenas sugerem que pode estar relacionado com a maior produção de leite e colostro das porcas que iniciam a lactação com maior EGD.

Os resultados mostram, aparentemente, que uma medida de maneio tão simples como é dar a ração às porcas gestantes à tarde pode melhorar o rendimento produtivo do efectivo. Contudo, dado que neste ensaio as porcas foram mantidas em jaulas individuais durante toda a gestação, os resultados não são extrapoláveis para condições de explorações de produção onde as porcas são mantidas em grupo a partir do primeiro mês de gestação. Com efeito, com porcas em grupo o momento de se alimentarem pode gerar um stress potencial elevado, em especial quando estão a comer de forma restringida. Por outro lado, com sistemas de alimentação com máquinas, o acesso à ração pode ser praticamente durante todo o dia. Dar a possibilidade das porcas se alimentarem nas horas mais tranquilas do dia, dá a possibilidade aos animais mais vulneráveis de poderem aceder ao alimento quando as demais estão a descansar. Contudo, na prática, algumas explorações que dispõem de máquinas iniciam à tarde o ciclo diário de alimentação.

Resumo do artigo comentado

Hayford M., Lee, S.H., Ren, P., Pangeni, D., Yang, X. and S. K. Baidoo. 2019. Effects of time of feeding during gestation on sow’s performance. J. Anim. Sci. 2019.97:1234–1241, doi: 10.1093/jas/skz006

Métodos: O objectivo deste estudo foi investigar o efeito, no rendimento da porca, de diferentes horários de alimentação usando uma dieta com uma energia similar por kg de peso metabólico (PV0,75). Cento e setenta e quatro porcas [Landrace × Large White, Topigs USA; com 3,81 ± 0,16 partos; peso vivo inicial = 211,57 ± 3,34 kg; gordura dorsal 13,70 ± 0,42 mm] foram agrupadas por paridade e data de parto, foram equilibradas relativamente ao PV e distribuídas aleatoriamente a 1 de 3 tratamentos num desenho de parques completos de forma aleatória. Os tratamentos incluíram uma dieta à base de farinha de milho e soja fornecida uma vez às [07:30 (controlo, T1), 11:30 (T2) ou 15:30 h (T3)], mantendo a quantidade diária em 1,25× energia de manutenção [100 × (PV)0,75] kcal EM/d. As porcas receberam 6.758, 7.434 e 8.110 kcal EM/d durante os dias 30-60, 61-90 ou 91-109 de gestação, respectivamente. A dieta de gestação foi formulada para conter 3.379 kcal de EM/kg, 0,70% Ca, 0,61% de P total, 0,58% Lys DIE, 0,26% Met DIE, 0,45% Thr DIE, 0,12% Trp DIE e 0,48% Met+Cys DIE. O peso corporal e a gordura dorsal foram registadas aos 30, 60, 90 e 109 dias de gestação, 24 h após o parto e após o desmame.

Resultados: Os resultados mostraram que as horas de alimentação avaliadas não alteraram o ganho de PV entre os dias 30-109 de gestação (P = 0,81) ou desde o dia 30 ao desmame (P = 0,87). Do mesmo modo, a alimentação diária das porcas às 11:30 h não alterou o ganho de gordura dorsal nem o rendimento reprodutivo em relação às porcas controlo (P > 0,10). As porcas alimentadas às 15:30 h ganharam mais gordura dorsal em comparação com as controlo (3,69 ± 0,47 vs. 2,12 ± 0,50 mm, P = 0,04) entre os dias 30-109 de gestação. Desde o dia 30 de gestação até ao desmame, os tratamentos não modificaram o ganho de gordura dorsal (P = 0,24). A alimentação diária às 15:30 h teve tendência a aumentar (P = 0,09) o número de leitões desmamados em 0,54 ao o comparar com as ninhadas das porcas controlo.

Conclusão: Em conclusão, o presente estudo demonstra que alimentar as porcas gestantes às 15:30 h alterou o metabolismo energético e de nutrientes, melhorando o seu ganho de gordura dorsal e mostrando um potencial para aumentar o número de leitões desmamados em comparação com uma pauta convencional.

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