Castração cirúrgica com anestesia
A administração de anestesia, geral ou local, acompanhada sempre de um analgésico de larga duração, elimina ou reduz consideravelmente a dor provocada pela castração cirúrgica. Não obstante, a utilização destes produtos apresenta certas limitações. Em primeiro lugar, o seu uso em animais destinados ao consumo humano está sujeito aos límites máximos de resíduos de medicamentos veterinários nos alimentos de origem animal fixados pelo Regulamento da CEE (2377/90). Em segundo lugar, a sua administração aumenta o custo e o tempo necessário para cada castração. Actualmente, não existem protocolos anestésicos específicos para a castração de leitões em condições comerciais.
Ketamina, ketamina + xylacina ou tiletamina administrada por via intravenosa são alguns dos fármacos que se propuseram para induzir anestesia geral durante a castração. Não obstante, estes anestésicos induzem periodos longos de sedação, aumentando o risco de mortes por hipotermia ou esmagamento. A inalação de isofluorano, halotano ou dióxido de carbono (CO2) também induz no animal uma anestesia geral. O uso de isofluorano ou halotano requer um sistema de ventilação apropriado, já que pode ser perigoso para o pessoal. Além do mais, a inalação de halotano pode induzir hipertermia maligna em certas raças de porcos. A anestesia com CO2 pode ser facilmente aplicada em condições comerciais, sem necessidade de um sistema de evacuação para o excesso de gás. Não obstante, a inalação de altas concentrações de CO2 tem sido muito criticada desde o punto de vista do bem-estar animal. Em primeiro lugar, o CO2 é um gás ácido, pelo que a sua inalação provoca irritação da mucosa. Em segundo lugar, é um potente estimulador respiratório que causa hiperventilação e sensação de asfixia antes da perda de consciência.
Em geral, a administração de um anestésico local é o método mais utilizado para eliminar ou reduzir a dor provocada pela castração. A injecção de lidocaína dentro do testículo e do escroto, em volta da área funicular (junto ao cordão espermático), induz a insensibilização da zona e reduz a sensação de dor durante a castração. Em animais anestesiados, o número de vocalizações de alta frequência associadas à dor é inferior que em animais castrados sem anestesia (Figura 1). Se se administra junto com adrenalina, aumenta-se a eficácia do anestésico, difundindo-se melhor pelos tecidos envolvidos e diminuindo a dose efectiva de lidocaína. A analgesia induzida por lidocaína e adrenalina desaparece após 3-4 h, pelo que devem administrar-se junto com outros fármacos que proporcionem analgesia, no mínimo, durante 24h.
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Figura 1. Efeito da castração sem anestesia, com anestesia ou fingida sobre o número de vocalizações emitidas em leitões.
Adaptado de Marx et al., 2003. |
Produção de machos inteiros
Além de eliminar a dor associada à castração, a criação de machos inteiros também apresenta certas vantagens relativamente à produção de machos castrados (Tabela 1). Para que a produção de machos inteiros seja economicamente viável é necessário ter ferramentas para controlar a presença de odor sexual na carcaça. No Reino Unido e Irlanda, onde não se castra praticamente nenhum porco, os animais são abatidos com pesos mais baixos (74 e 71 kg de média de peso carcaça, respectivamente), reduzindo-se assim a incidência de carcaças com odor sexual. Não obstante, ao reduzir o peso da carcaça, os custos de produção por kg de peso vivo aumentam.
Tabela 1. Vantagens e desvantagens da produção de machos inteiros
Vantagens
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Desvantagens
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Maior eficiência alimentar | Aumento de agressões e montas |
Carcaças mais magras | Mais danos na carcaça |
Maior conteúdo em ácidos gordos insaturados |
Maior incidência de DFD |
Menor excreção de azoto | Gordura mais mole |
Menos custos de produção | Maior incidência de odor sexual |
O mecanismo mais efectivo para reduzir os níveis de androstenona parece ser a selecção genética. A androstenona tem uma heredabilidade alta. Não obstante, a selecção em contra desta substância reduz por sua vez a produção de androgénio e estrogénios. Este último, tem um efeito negativo sobre o rendimento produtivo, e nas fêmeas, um atraso na entrada na puberdade.
O mecanismo mais eficaz para controlar os níveis de escatol é através da dieta e as condições de criação. A alimentação húmida, a incorporação de fibra na ração, ou matérias com um alto conteúdo em hidratos de carbono de baixa digestibilidade no intestino delgado, mas facilmente fermentáveis no intestino grosso (pectinas, fécula de batata etc.) resultam numa redução dos níveis de escatol.
O conteúdo de escatol é inferior em porcos alojados no solo de grelha do que no solo contínuo compacto (Kjeldsen, 1993). A pele do porco é muito permeável ao escatol, pelo que uma vez excretado pelas fezes, se o animal entra em contacto com estas, o escatol absorve-se e acumula-se na gordura (Figura 2). Assim pois, é recomendável manter os animais limpos, especialmente durante as últimas semanas antes do abate. Por esta razão, em épocas de calor, a possibilidade de que os animais possam termorregular-se sem necessidade de rebolarem na excreta, reduz consideravelmente os níveis de escatol.
A aplicação das medidas anteriormente descritas reduz consideravelmente a incidência de odor sexual, mas não garante a sua ausência em todas as carcaças.
Figura 2. Efeito da estação do ano, do sexo e da limpeza do animal sobre os níveis de escatol. |
Antonio Velarde. Grupo de Bem-estar Animal, IRTA-Monells. Espanha.