Aparecimento do Caso
O caso clínico ocorreu numa exploração do Canadá, situada na província de Manitoba. A exploração de 1500 porcas de um cruzamento comercial de porcas LWxLD é exportadora de leitões de 21 dias e é, até à data, positiva estável ao vírus PRRS, vírus Influenza H1N1 e H3N2 e a micoplasma.
A primeira visita à exploração realiza-se em 29 de Março de 2009. A razão de dita visita é averiguar a causa do anoestro inesperado de um grupo novo de nulíparas que tinham estado a apresentar sucessivos cios até à sua entrada nas boxes de cobrição. Só 3 das 15 porcas ciclaram, quando era a tsua altura de entrar em cio, à sua chegada às boxes de cobrição-gestação confirmada (20%), o resto, não apresentou cio e não foram inseminadas. O proprietário toma a decisão de eliminar as porcas pois considera que talvez tenham passado demasiados cios nos parques e tenham ficado como anoéstricas à chegada às boxes. São revistos os dados de fertilidade em nulíparas, comenta-se o seu maneio e pautas vacinais e toma-se a decisão de examinar os ovários das nulíparas eliminadas no matadouro.
Análises de Factores Causais
1. Causa infecciosa
Descarta-se uma possível causa infecciosa ao analizar os dados produtivos da exploração. Uma produção estável de leitões e uma fertilidade correcta no resto das porcas faz supor que a falha reprodutiva afecta unicamente os animais mais jovens da exploração.
Efectivamente existe uma sucessiva falha de fertilidade nas nulíparas desde há já 3 meses. A taxa de eliminação das mesmas supera os 20% sendo Junho o pior mês chegando a um total de 41%. Este problema foi criando um “engarrafamento” de nulíparas para cobrir que se reflecte no elevado peso de muitas delas.
Idade de entrada |
2. Maneio
Não existiu uma alteração de maneio nem de trabalhadores na exploração e a forma de actuar com as nulíparas é a mesma de sempre, segundo o proprietário. Os animais já entram adaptados a todas as vacinas nesta instalação. Recebem imunização contra o vírus PRRS (soro imunização), micoplasma e erysipelas. Os animais permanecem nos parques de nulíparas fora da gestação e ali começam a ser estimuladas às 26 semanas de vida, aprox. Depois entram noutros parques no pavilhão de controlo cobrição-gestação, onde passam outro cio e depois são colocadas nas boxes, uns 15-20 dias antes de sua suposta entrada em cio, para serem cobertas aí. No pavilhão de cobrição existe um varrasco que despista cio nos parques e outro que o faz nas boxes de nulíparas a cobrir. O macho dos parques tem problemas de locomoção e existe um muito mais jovem que ainda não começou a ser treinado. É o mais adulto dos varrascos o que ultimamente despista cios em toda esta parte do pavilhão de cobrição.
Intervalo entrada - 1ª cobrição |
3. Estudo ovárico
Visita-se o matadouro, recolhem-se os órgãos reprodutores de 8 das porcas eliminadas por suposto anoestro e realiza-se um estudo ovárico.
Resultado do Estudo Ovárico
O estudo ovárico mostra unicamente dois animais com patologia ovárica: a nulípara (#3414) padecia de 3 quistos num dos dois ovários, e a nulípara (#3400) apresentava folículos pequenos, antigos e pálidos não reactivos pelo que se determina que ciclou uma vez há tempo e ficou "parada" sem voltar a apresentar cio. O resto apresentavam múltiplos folículos jovens rosados e corpos lúteos de diferentes tamanhos, portanto aptas, desde o ponto de vista reprodutivo. Só 25% das porcas eliminadas se pode considerar como anoéstricas ováricas.
Todos os pontos a considerar eram correctos mas faltava determinar se existia um maneio adequado na estimulação de cios destes animais. Visita-se a exploração para comunicar os resultados do estudo ovárico.
Resolução do Caso
Um problema de maneio dos lotes de nulíparas estava a produzir uma falha reprodutiva importante no motor de renovação de toda a exploração.
Em primeiro lugar, o varrasco adulto despistava cios desde há já vários meses toda o pavilhão de cobrição. Um animal de um tamanho um pouco grande mas ainda aceitável para despistar cio em nulíparas, mas após observá-lo, era definitivamente pouco activo.
Por outra parte, o “engarrafamento” de porcas a cobrir definitivamente estava a elevar a idade à primeira cobrição e este facto forçava os trabalhadores a acelerar as rotinas com as nulíparas pois necessitavam um maior número delas em cada semana de produção.
As pressas e as vontade de cobrir primíparas trabalhando com o mesmo macho para todo o pavilhão de gestação não era efectivo.
Propôs-se ao suinicultor o abate por bem-estar animal do varrasco afectado das patas desde há muitos dias e que começasse a trabalhar de maneira diferente com os dois machos actuales: um varrasco demasiado jovem, e portanto de pouco tamanho, e outro demasiado inactivo e já algo pesado.
Trabalhar com os dois machos ao mesmo tempo foi uma proposta nova mas de efeito rápido; o animal adulto despistava cios pelo corredor das porcas nas boxes e o animal mais jovem era levado ao parque oposto das nulíparas para que existisse contacto entre os machos.
A excitação do varrasco adulto ao despistar cio nas porcas e competir neste ritual com outro macho muito mais jovem melhorou a estimulação destas nulíparas de uma maneira exponencial cada dia de trabalho. A excitação de um varrasco adulto quando “trabalha” em frente de um inexperiente e muito mais jovem é a melhor maneira de criar nele uma competição nestes comportamentos que tanto ajudam as nulíparas a nos demonstrar todo o seu potencial na entrada nos sucessivos cios antes das primeiras montas.
O novo maneio e o esforço dos trabalhadores em melhorar os resultados produtivos das nulíparas ficará reflectido nos seguintes parâmetros: taxa de partos, tamanho da ninhada, além dos anteriormente valorizados como a idade à entrada e intervalo entrada-1ª cobrição.
Intervalo entrada - 1ª cobrição Idade de entrada |
Comentários
O caso clínico produziu-se numa exploração do Canadá, de 1500 porcas, exportadora de leitão de 21 dias.
A razão da visita do veterinário foi averiguar a causa do anoestro inesperado de um grupo novo de nulíparas que tinham mostrado sucessivos cios até à sua entrada nas boxes de cobrição. A análise dos dados de fertilidade da exploração é indicadora de uma falha reprodutiva grave nas nulíparas. Do último lote unicamente ciclaram 20% das nulíparas passadas para as boxes desde os parques.
Como factores causais analizaram-se tanto o maneio das nulíparas (tabelas vacinais e maneio) como o despiste de cio dos varrascos. A inspecção detalhada dos ovários, destas nuliparas que deixaram de ciclar, no matadouro indicou-nos a quase normalidade reprodutiva destes animais até ao momento de as passar às boxes.
A necessidade de cobrir nulíparas da exploração e a falta de “efeito varrasco” nas mesmas tinham ido provocando uma falha na entrada em cio destas fêmeas que pôde ser solucionada com uma alteração na forma de trabalho e motivação/formação do pessoal.
Propôs-se ao suinicultor que començasse a trabalhar de maneira diferente com os dois machos actuais: um varrasco demasiado jovem, e portanto de pouco tamanho, e outro demasiado inactivo e já algo pesado. Trabalharia com eles de maneira simultânea apoiando desta maneira o estimulo do varrasco adulto.
A excitação do varrasco adulto ao despistar o cio nas porcas e competir neste ritual com outro macho muito mais jovem melhorou a estimulação destas nulíparas de uma maneira exponencial a cada dia de trabalho. A excitação de um varrasco adulto quando “trabalha” em frente de um inexperiente e muito mais jovem é a melhor maneira de criar nele uma competição nestes comportamentos que tanto ajudam as nulíparas a demonstrar-nos todo o seu potencial na entrada dos sucessivos cios antes das primeiras montas.
Taxa de partos, tamanho de ninhada, intervalo entrada-1ª cobrição das nulíparas da exploração são os valores que mostraram a melhoria da produção.