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Ano arranca com cotação dos porcos elevada e sem alterações

Entrámos no novo ano e a cotação não sofreu qualquer alteração. Ao fim de 8 semanas consecutivas, a Bolsa do Porco continuou a fixar a cotação em 2,252€/kg carcaça.

16 de Janeiro de 2023

Entrámos no novo ano e a cotação não sofreu qualquer alteração. Ao fim de 8 semanas consecutivas, a Bolsa do Porco continuou a fixar a cotação em 2,252€/kg carcaça. O mercado da carne está titubeante e começam a aparecer alguns “preços de arromba” nalguns super e hipermercados. Como se conseguem ter preços de algumas peças nobres a 2,99€/kg quando a cotação dos porcos deveria ser 2,252€/kg carcaça é que é um mistério. Quem souber que dê a resposta, mas alguém está a perder muito dinheiro nesta negociação e, de certeza, não será a empresa de distribuição.

Por outra parte, a oferta nacional de porcos é menor fruto de redução da oferta de porcos de abate em função dos problemas sanitários, da desmedicalização da ração dos leitões e da redução de efectivo, todos eles ocorridos no ano que acaba de findar. Com menos oferta de porcos, há condições para manter preços altos ainda por cima se tivermos em consideração que os custos de produção continuam e continuarão muito elevados em 2023.

Ao se iniciar um novo ano é habitual fazer-se um balanço do ano que termina. No que diz respeito ao preço médio da Bolsa do Porco em 2022, tendo sido 35 semanas do ano passado desde que começou a ser publicada uma cotação de referência, o valor foi 2,271€/kg carcaça. Não sabemos qual o aumento em relação ao ano anterior, pois não era fixada cotação em 2021, pelo que fica “coxa” esta comparação.

No que toca a alguns outros países europeus houve evoluções positivas muito significativas nas cotações médias. Começando pelo país vizinho, em Lérida a cotação média de 2022 foi 1,515€/kg PV, o que representou uma subida 20,9% em relação ao preço médio de 2021. Pelas minhas contas, o preço convertido para carcaça foi de 2,02€/kg. Na Alemanha, a cotação média foi de 1,81€/kg (+35,2% do que em 2021) e em França, o valor foi de 1,725€/kg carcaça (+29,5% do que em 2021 quando a cotação foi de 1,332€/kg carcaça) tendo sido a cotação média mais alta da história do MPB. Se considerarmos que a cotação definida em França é a cotação base para porcos de 50% de músculo e que a classificação média é de cerca de 58%, o preço médio desta classificação, que também está definida no MPB, foi de 1,995€/kg carcaça. Em França o peso médio foi de 95,28kg carcaça, o que representou uma descida de 500g em relação a 2021.

A perspectiva para 2023 é de que a cotação dos porcos se possa manter elevada, até porque há grande redução de oferta em todos os países da U.E devido à redução de efectivo reprodutor e também ao menor número de animais de abate em função de questões sanitárias. Assim, a oferta é menor e cria menos tensão no mercado europeu.

Mas a contrabalançar esta situação há o problema da elevada inflação na Europa e da grande dúvida relativamente às compras de carne de porcos que a China irá fazer na U.E. Com o aumento da inflação e a consequente redução do poder de compra dos consumidores, seguramente esta irá reflectir-se nos consumos de carne, a de porco incluída. Em relação à China, sabemos que é um país deficitário e que necessita comprar carne de porco para abastecer o seu mercado. Em todo o caso, com a grande disseminação da Covid pela sua população há redução de consumos pois as pessoas doentes não vão comer aos restaurantes (um terço do consumo de carne de porco é feita na restauração) e também não saem de casa para fazer compras. Veremos que impacto terá esta situação nas exportações de carne de porco da U.E.

No que diz respeito à evolução das cotações europeias do porco, em Espanha a cotação manteve-se na primeira quinzena de Janeiro em 1,645€/kg PV (2,194€/kg carcaça), apesar da subida dos pesos que fazem com que os porcos estejam 1,1kg acima do peso da mesma semana de 2021 (peso médio nos 93kg). Com o peso a subir e a cotação a não descer, é um claro sinal de que a oferta de porcos é inferior às necessidades dos matadouros. Os produtores, com a ração cara, preferem matar porcos mais pesados para poderem ter um maior valor de venda por porco e assim diluir custos e rentabilizar o negócio. Uma das formas que têm para que os porcos ganhem peso é retê-los nas explorações e não os entregarem aos matadouros, e é isso que tem acontecido. Ainda para mais quando o preço dos leitões está muito caro e não há vontade de esvaziar pavilhões de engorda para os voltar a encher com produto caro.

Na Alemanha, a cotação manteve-se na primeira metade de Janeiro em 2,00€/kg. O peso subiu 300g para os 96,8kg carcaça nesta quinzena. O mercado do porco está equilibrado e não há porcos atrasados nas explorações, mas o mercado da carne está algo parado, já que não há procura de peças por parte da indústria nem por parte dos consumidores.

Nos Países Baixos a cotação baixou 0,09€/kg carcaça para 1,93€/kg carcaça nesta quinzena. Há visões diferentes do mercado neerlandês por parte dos produtores e dos matadouros. Os primeiros dizem que não há porcos a mais, mas os segundos dizem que a carne de vende muito mal e que a cotação deveria descer ainda mais. Os matadouros estão a pedir menos porcos e a obrigar que estes fiquem nas explorações a aumentar de peso, forçando um aumento da oferta e esperando que a descida da cotação dos porcos sejam maior.

Na Bélgica a cotação também baixou, neste caso 0,02€/kg PV para 1,39€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação baixou 0,03€/kg carcaça para 1,61€/kg carcaça na primeira metade de Janeiro. A procura de porcos e de carne é fraca, o que implicou uma descida na cotação para tentar estimular o aumento do consumo, seja interno seja externo, leia-se outros países da U.E. e Países Terceiros.

Em França, a cotação subiu 0,08€/kg carcaça para 1,901€/kg na primeira metade de Janeiro. Os pesos subiram 200g para 96,3kg e são 800g inferiores aos da mesma semana do ano anterior. As tradicionais operações de promoção de carne de início do ano estão a sustentar a procura dos matadouros e a consequente subida da cotação. Não há porcos a mais nas explorações, já que há uma redução da produção e no final do ano a procura de porcos para abate foi elevada deixando a produção desafogada em relação às saídas de porcos das explorações. Este desafogo permite que o mercado possa pender para a produção e daí ter havido esta subida significativa em França.

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