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Ano novo e a falar de soja

Durante demasiado tempo a soja esteve cotada entre 450-520 €/ton. Que razões temos para esta mudança na estrutura dos preços?

Como disse um espertinho: o passado já foi, o futuro é incerto e portanto só temos o presente…e assim ficou sentado. Ainda que, o que se disse, esteja certo, o que fazer quando o presente está morto? (no que se refere ao mercado… não se assustem!) No momento de escrever este texto ainda não terminou a época natalícia e é possível que os mercados não respirem até à semana que vem. O único tema que me lembro de falar é do único tema que ninguém consegue compreender: a soja.

Há quase 2 anos que o mercado está à espera de uma correcção mais ou menos importante e, por muito que espere, não só esta descida não se deu, como se pode afirmar que os preços da soja mais baratos que vimos foram por volta de 420 €/ton para posições curtas e 410 €/ton para uma posição Janeiro-Abril ou 360 €/ton para uma posição Maio-Setembro. Durante demasiado tempo a soja foi cotada entre 450-520 €/ton. Que razões há para esta alteração na estrutura dos preços?

  • Ainda que se tenha repetido inúmeras vezes, não devemos esquecer que, por ano, nascem 60/70 milhões de pessoas no mundo. O crescimento económico de algumas superpotências como a China e a Índia disparou a procura de proteína (já que cada vez mais população tem recursos suficientes para a incorporar no menú). O que contribuiu para travar este aumento de consumo de comida é, possivelmente a crise nos países desenvolvidos (Europa e EUA principalmente), devido à crise reduziu-se por volta de 8% o consumo de um dos principais consumidores de alimentos: o balde do lixo.
  • O mercado da soja está concentrado no mercado de Chicago. Isto é assim porque ao contrário dos cereais, a soja exportável é produzida quase exclusivamente em países do continente americano. Isto torna-a mais fácil de manipular ou controlar. Os fundos de investimento encontraram o sapato à sua medida no complexo da soja. Entraram com força e, em momentos pontuais, chegaram a representar 40% do total, pelo que têm uma enorme incidência, com as vantagens e desvantagens que isso acarreta. Ao contrário dos fundamentais, que utilizam o mercado para minimizar riscos das oscilações do mesmo, os fundos procuram conseguir um lucro a curto, ou melhor, a muito curto prazo. Para ajudar, muitos fundos estão indexados a programas informáticos pelo que, quando os mercados chegam a certos níveis, compram, vendem ou trocam posições e, em muitas ocasiões, estão também indexados a outros mercados e outras matérias-primas, lançando mais lenha para a fogueira para dificultar a tomada de decisões do pessoal. A única coisa certa é que a longo prazo a lógica se impõe mas, como já foi dito muitas vezes, é difícil prever quase tudo. Por último, digamos que estos programas tentam minimizar perda, é por isso que as descidas geralmente vão de escada e as subidas sempre em elevador.
  • Outro factor a ter em conta é o preço da carne, ovos e demais derivados. Se há uma forte procura destes produtos, o preço destes tende a subir, pelo que se tentará aumentar a sua produção para aumentar rentabilidades. O aumento de produção obviamente comporta um aumento de procura de matérias-primas para a fabricação de ração (até aqui o a-b-c da lei da oferta e da procura). O que estou a tentar dizer é que a longo prazo, exceptuando momentos pontuais, a um maior preço da carne a nível internacional não devem ser esperados preços excepcionalmente baratos. Isto é aplicável a todo o complexo da proteína, já que os cereais são melhores substitutos uns dos outros.

E para terminar, falemos do que nos espera, ou nos pode esperar, no futuro mais imediato. Em Março supõe-se que o agricultor de EUA tenha que decidir se semeia soja, milho ou trigo. Actualmente é claro que é difícil escolher milho (se o puder evitar), pelo que a decisão vai claramente pela soja e, em menor medida, pelo trigo. O comportamento normal do mercado de Chicago seria corrigir a correlação entre o preço do milho e a soja fazendo com que a diferença de preços se reduza para que o desvio seja menor. Essa correção, neste caso, seria ao fazer subir o preço do milho (facto difícil dado os stocks finais previstos) ou fazendo baixar o preço dos grãos de soja. O interessante seria sabê-lo hoje mas isso não é possível. Em geral, parecia-me lógico que se corrigissem ambos os factores… mas já veremos.

Além disso, devemos ter em conta que isto também afectaria os outros cereais. Com esta mesma lógica já saberiamos os hectares semeados e o comportamento da floração. Pelo lado optimista, vemos bons dados de hectares, sairiam para o mercado os stocks existentes, tanto de trigo como de cevada, que não são poucos, saindo com mais ou menos força para o mercado.

Em resumo, esperam-nos uns meses interessantes, pelo menos mexidos…assim que aproveito para desejar a todos um feliz ano novo.

3 de enero de 2014

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