X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
2
Leia este artigo em:

Aplicações de modelos de crescimento de porcos

Os modelos de crescimento podem ser uma ferramenta útil para a tomada de decisões, permitindo considerar simultaneamente múltiplas variáveis e mostrando projeções perante diferentes alternativas.

Para rentabilizar ao máximo o negócio, o suinicultor precisa de poder avaliar a priori as implicações técnico-ecnómicas de possíveis mudanças na gestão da sua exploração. Estes modelos de crescimento dos porcos são realmente úteis, porque permitem considerar conjuntamente vários fatores que afetam a tomada de decisões, fornecendo estimativas próximas de resultados em relação a diferentes cenários.

Qual é o impacto de adicionar mais uma ração ao nosso programa de alimentação?

Poder trabalhar com mais rações permite-nos uma melhor adequação entre as necessidades do animal e o fornecimento de nutrientes na dieta, melhorando o custo de alimentação pela melhor gestão de recursos e, por sua vez, com menor impacto ambiental através da redução de excreções de N.

Como exemplo, partimos de um caso de um suinicultor que põe a possibilidade de passar do seu programa de alimentação atual, de duas rações (entrada na engorda e crescimento único), a um de três ou inclusive quatro rações, mas quer saber que implicações terá nos resultados zootécnicos, pois tem medo que os porcos "parem" com as mudanças.

Trabalhar com mais rações permite ajustar o consumo de nutrientes dos porcos e evitar fornecimentos improdutivos. Por exemplo, se representarmos o aporte de lisina ileal padronizado para os diferentes programas de alimentação, vê-se uma clara redução de consumo total deste aminoácido à medida que aumenta o número de rações utilizadas.

Consumo de lisina ileal padronizada ao longo da engorda segundo diferentes programas de alimentação (2 rações, 3 rações, 4 rações)

Gráfico 1. Consumo de lisina ileal padronizada ao longo da engorda segundo diferentes programas de alimentação
(2 rações, 3 rações, 4 rações)

Para simular a resposta dos animais às diferentes propostas de alimentação, tendo em conta as características que definem a exploração, utilizamos os modelos de crescimento. Consideremos este caso:

Modelação dos resultados zootécnicos com diferentes programas de alimentação (2 rações, 3 rações, 4 rações)

Gráfico 2. Modelação dos resultados zootécnicos com diferentes programas de alimentação
(2 rações, 3 rações, 4 rações)

Segundo o modelo, passar de duas fases a quatro supõe uma redução de custos de quase 2 €/porco, penalizando a conversão em 30 gr, mas mantendo o mesmo ganho, destacando-se também que o azoto excretado se reduziria em 10%.

Azoto Excretado na engorda conforme modelo em função do programa de alimentação seguido

Gráfico 3. Azoto Excretado na engorda conforme modelo em função do programa de alimentação seguido

Devemos trocar o programa de alimentação no Verão?

Fora da zona termo-neutra, num ambiente frio, o porco responde aumentando a ingestão de alimento de modo a aumentar a sua produção de calor; num ambiente quente, o porco tende a aliviar o stress por calor, ingerindo menos alimento, afastando-se da fonte de calor e/ou reduzindo a atividade ao mínimo (Steinbach, 1987). A redução do consumo de alimento tem efeito sobre a conversão e ganho de peso, assim como sobre a sua composição.

Evolução dos parâmetros zootécnicos segundo modelo -  considerando como única variável a temperatura

Gráfico 4. Evolução de parâmetros zootécnicos segundo o modelo - considerando como única variável

a temperatura.

Podemos minimizar esses efeitos negativos adaptando o nosso programa de alimentação? Devemos usar dietas mais concentradas?

A resposta a estas perguntas vai depender de múltiplos factores (genética, Tª, HR, material dos pavimentos, ventilação, isolamento, disponibilidade de comedouros, estado sanitário, etc.). Os modelos permitem considerá-los todos ao mesmo tempo e ajustar o programa de alimentação às circunstâncias.

Assim, comparando os resultados das simulações das dietas de partida com dietas mais concentradas (dietas*), vemos que se podem atenuar parte dos efeitos negativos que têm as altas temperaturas sobre o desempenho dos porcos.

Comparação de resultados de simulações em épocas quentes empregando as dietas de partida (IC, CMD, GMD)  ou dietas mais concentradas (IC*, CMD*, GMD*)

Gráfico 5. Comparação de resultados de simulações em épocas quentes empregando as dietas de partida (IC, CMD, GMD) ou dietas mais concentradas (IC*, CMD*, GMD*)

Ao analisar o custo global da alimentação da engorda, o modelo mostra como o maior custo destas dietas mais concentradas é economicamente compensada pelos desempenhos produtivos.

Vale apena a alimentação diferenciada por sexos durante a engorda?

Algumas linhas genéticas manifestam, por volta dos 40-50 kg PV, diferenças na deposição de proteína entre os machos e as fêmeas; noutras linhas a divergência na capacidade de deposição de proteína entre fêmeas e castrados é atrasada até aos 60-70 kg PV.

Deposição de proteína (g/dia) de machos inteiros e fêmeas da linha genética A

Gráfico 6. Deposição de proteína (g/dia) de machos inteiros e fêmeas da linha genética A

Deposição de proteína (g/dia) de machos castrados e fêmeas de linha genética B

Gráfico 7. Deposição de proteína (g/dia) de machos castrados e fêmeas da linha genética B

Trabalhando com um modelo de crescimento podemos determinar qual é a alimentação mais adequada para cada sexo, se temos a possibilidade de engordar separadamente, e podemos simular os resultados técnicos e económicos esperados da exploração; então teremos os dados para avaliar se vale ou não a pena separar por sexos e se compensa no caso de requerer algum investimento na exploração.

Necessidades de lisina ileal padronizada por Mcal para a linha genética A

Gráfico 8. Necessidades de lisina ileal padronizada por Mcal para a linha genética A

Necessidades de lisina ileal padronizada por Mcal para a linha genética B

Gráfico 9. Necessidades de lisina ileal padronizada por Mcal para a linha genética B

Com as relações SID lys/Energia ótimas geradas para cada uma das duas genéticas em questão, podemos agora quantificar essas diferenças, e falar no nosso exemplo, em cerca de 10% mais de necessidades de aminoácidos nos machos inteiros que nas fêmeas na linha A e na ordem de 10% maiores nas fêmeas que nos castrados na linha B.

Resultados técnico-económicos simulados com o modelo das linhas genéticas A e B:

Linha genética A dif €/porco
Dieta ótima segundo modelo IC GMD CMD vs misto
machos inteiros 2,50 731 1,83 -0,58
fêmeas 2,66 732 1,95 -
engorda mista 2,57 733 1,88 -
Linha genética B
fêmeas 2,89 736 2,13 -
machos castrados 2,95 778 2,29 -1,11
engorda mista 2,93 751 2,20 -

Neste exemplo, a alimentação diferenciada por sexos permitiria poupar -0.58 €/macho na linha A e -1.11 €/macho castrado na linha B.

Vimos alguns exemplos de como os modelos de crescimento podem resultar numa ferramenta útil para a tomada de decisões, permitindo considerar simultaneamente múltiplas variáveis e mostrando as tendências em relação às alternativas.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista