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Caso clínico: APP na reposição

Aos animais desta exploração, devido ao aparecimento de tosse e mortes súbitas, foi-lhe diagnosticado problemas de APP

2 Outubro 2006
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Descrição da Exploração




A exploração é uma engorda numa zona de baixa densidade suína no Canadá. É formada por doze pavilhões com uma capacidade de uns 1100 porcos cada um. Cada um dos pavilhões enche-se em duas ou três semanas mas quando se esvaziam são lavados e desinfectados correctamente e mantêm-se vazios durante uma semana. A ventilação é tipo túnel com uma cortina lateral. Em cada pavilhão há um corredor central e 26 parques (10 parques de 20 animais e 16 parques de 60 animais).

Relativamente ao estatuto sanitário dos animais, estes são positivos a PRRS, App, M. hyopneumoniae, ileíte e de vez em quando aparece um surto de Salmonella, contudo a mortalidade da exploração está abaixo dos 3,5%. As medidas de biosegurança são boas e toda a gente toma banho e usa roupa da exploração antes de entrar.

A exploração, normalmente, engorda as fêmeas procedentes do multiplicador que não são seleccionadas como reposição das explorações comerciais da empresa. Actualmente a empresa está a crescer e a exploração é utilizada como recria das primíparas para encher a nova exploração desde os 25 até aos 140 kilos aproximadamente. Por este motivo, todo o plano de adaptação das primíparas é levado a cabo na engorda.

SEMANA TRATAMENTO
2-7 Mistura com porcas de refugo
4 Vacina de influenza
4 Feed-back (fezes do multiplicador)
6 Revacinar de influenza
9 “Autovacina” viva de PRRS *
12 Varrascos no corredor
16 Contacto com varrascos
16 Selecção
17 Vacina de PPV+MR
19 Selecção
20 Revacinar de PPV+MR

* Para a vacinação com PRRS se extrai soro de vários animais no multiplicador, congela-se em tanques de azoto líquido, enquanto se confirma a presença de virus PRRS mediante PCR, e então dilui-se o soro virémico com soro salino para inocular todos os animais com a estirpe (ou estirpes) presentes na exploração.


Aparecimento do Caso



Na semana 10 (entre 6 e 12 de Março) observou-se um aumento da mortalidade em três dos pavilhões (com animais entre 9 e 14 semanas de idade). Inicialmente o tratador não se preocupou demasiado e medicou a água com clortetraciclina. Não avisou ninguém mas ser questionado disse que os animais não apresentaram sintomas e que ele, simplemente, encontrava mortes súbitas.

A mortalidade baixou para níveis “normais” durante as duas semanas seguintes mas durante a semana 13 o tratador avisa que encontrou, de novo, algumas mortes súbitas e que pela manhã ouvia-se bastante tosse.

Também comenta que “decidiu” medicar a água com lincomicina e começou a picar com penicilina os animais que vê mais afectados.


Visita à Exploração



Depois do telefonema, pede-se ao tratador que se houver mais baixas para não eliminar os cadáveres. No dia seguinte o veterinário visita a exploração e há três animais mortos de entre as 17 e as 20 semanas de idade com sintomas e aparência similar aos dos dias anteriores. Devido à mudança de utilização da exploração (de engorda comercial de animais não seleccionados para recria de primíparas) a densidade nos parques é muito alta, contudo, o tratador comenta que algumas manhãs encontra animais amontoados em alguns parques.


Conferem-se os registros de temperatura máxima e mínima dos últimos dias e constata-se que a temperatura mínima esteve sempre abaixo da recomendada mas, provavelmente, o mais importante seja que a sensação térmica dos animais seja muito inferior por “culpa” dos ventiladores. No momento da visita podem-se sentir algumas correntes de ar quando os ventiladores arrancam. Como se comentou, a ventilação é de tipo túnel com ventiladores tipo “ON/OFF”, ou seja, não se regula o fluxo de ar que é movido pelos ventiladores mas sim o tempo que estão a funcionar.


Registros de temperaturas entre 27 de Feveiro e 15 de Abril. Pode-se ver a oscilação que houve entre a temperatura mínima e máxima: quasi cada dia há mais de 5ºC de diferença e em vários casos até 7ºC.

No final da visita realizam-se as necropsias e as lesões encontradas são, basicamente pleuropneumonia fibrosa com exudado.

São recolhidas amostras de dois pulmões para realizar isolamento e antibiograma e recomenda-se que termine o tratamento com lincomicina e a partir de agora utiliza-se doxiciclina na água para tratar estes casos e usa-se oxitetraciclina injectável para os casos mais graves.



Evolução do Caso



Depois da visita voltou-se a observar outra descida da mortalidade. No seguinte gráfico pode-se ver a evolução da mortalidade por semanas, podem-se observar os dois picos que se descreveram no caso.


Por outro lado, receberam-se os resultados do laboratório. Só se incluem os antibióticos aos que são sensíveis.

pulmão-1 pulmão-2
isolamento Actinobacillus pleuropnamoniae Actinobacillus pleuropnamoniae Pasteurella multocida
antibiograma Amoxicilina-Acido clavulónico Amoxicilina Amoxicilina
Cefalexina Amoxicilina-Acido clavulónico Amoxicilina-Acido clavulónico
Ceftiofur Ampicilina Ampicilina
Colistina sulfato Apramicina Apramicina
Doxiciclina Cefalexina Cefalexina
Eritromicina Ceftiofur Ceftiofur
Gentamicina Colistina sulfato Doxiciclina
Lincomicina Doxiciclina Enrofloxacina
Oxitetraciclina Enrofloxacina Gentamicina
Penicilina Gentamicina Lincomicina
Spectinomicina Penicilina Oxitetraciclina
Spiramicina sulfa-trimetroprim Penicilina
Tetraciclina Spiramicina
sulfa-trimetroprim


Conclusão



Os resultados do laboratório não surpreenderam ninguém já que o quadro clínico parecia muito claro. As infecções por Actinobacillus pleuropneumoniae sozinhas ou em combinação com Pasteurella multocida são relativamente frequentes.

Neste caso realizou-se o isolamento e antibiograma para determinar se a actuação do tratador (medicando a água com lincomicina e injectando com penicilina) estava a ser útil frente às estirpes presentes na exploração. Por outro lado, com a primeira visita só se confirmou uma suspeita clara mas não se corrigiram os possíveis erros que causaram o aparecimento do caso.

Relativamente à origem do surto, os animais procedem de uma fonte positiva portanto eram já portadores antes de chegar à exploração do caso, contudo, alguns factores podem provocar que estes animais portadores apresentem sintomas. Neste caso encontramo-nos com uma exploração que normalmente é uma engorde comercial mas que actualmente aloja primíparas até um peso muito superior ao habitual; por outro lado, estas primíparas são adaptadas sanitariamente durante este período incluindo uma inoculação com vírus PRRS salvagem isolado na exploração de origem. Por último, a ventilação tipo túnel parece provocar alguns problemas em períodos com temperaturas exteriores muito baixas. No seguinte gráfico apresentam-se as temperaturas mínimas exteriores entre o mês de Março e Abril (há que ter em conta que quando se surgiu o surto, as temperaturas exteriores eram, inclusive, inferiores).



Medidas implementadas

Em primeiro lugar modificou-se ligeiramente o fluxo de entrada de animais de modo que se possa trabalhar com uma densidade inferior; fez-se uma pré-selecção no desmame de modo que parte das fêmeas que chegavam eram enviadas para outra engorda comercial.

Também se modificou o protocolo de adaptação sanitária das primíparas; inicialmente eram inoculadas com vírus PRRS vivo durante a nona semana de estadia, a partir deste caso antecipou-se esta inoculação para a segunda semana.

Por último, realizaram-sen algumas alterações na ventilação dos pavilhões. Em primeiro lugar, adaptou-se ligeiramente a curva de ventilação para os valores recomendados.


Em segundo lugar, activou-se uma opção do regulador que inclui uma sonda exterior e segundo a temperatura exterior modifica, em baixa, a ventilação mínima de modo que durante as noites (ou dias) muito frios se trabalhe com ventilações mínimas abaixo das recomendadas (até 30% menos).


Comentários



Este caso foi relativamente fácil de resolver desde o ponto de vista clínico. Os animais afectados eram primíparas que se encontravam numa engorda, durante a segunda semana de Março começaram-se a ver animais com tosse e a mortalidade começou a aumentar. Segundo o tratador muitas mortes eram súbitas, pela manhã encontrava animais mortos que estavam sãos no dia anterior e o única coisa que via era sangue no focinho de alguns deles.

O tratador tratou os animais como fazia habitualmente nos casos parecidos: medicava a água com lincomicina e tratava com penicilina injectável os casos mais graves. Neste caso, contudo, o quadro parecia mais grave e quando viu um segundo surto de tosse e mortes súbitas avisou o veterinário.

Durante a visita observou-se que a densidade dos animais era demasiado elevada, e também se detectaram alguns problemas de ventilação (basicamente correntes de ar em dias muito frios). Realizaram-se três necropsias e confirmaram-se as suspeitas de un caso de App, contudo também se enviaram amostras de pulmão para realizar isolamentos e antibiogramas; deste modo pôde-se saber se os tratamentos que estavam a ser feitos pelo tratador tinham sido efectivos.

Finalmente, e ainda que os isolamentos fossem sensíveis à lincomicina e penicilina decidiu-se mudar, de todas as formas, os antibióticos durante estes quadros. Também se antecipou o momento da inoculação com PRRS para a segunda semana de permanência (em vez da nona). Por último, realizaram-se algumas mudanças na ventilação dos pavilhões para minimizar o efeito dos dias muito frios, reduzindo a ventilação mínima até 30% quando a temperatura exterior é demasiado fria.

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