Descrição da Exploração
A exploração é uma engorda numa zona de baixa densidade suína no Canadá. É formada por doze pavilhões com uma capacidade de uns 1100 porcos cada um. Cada um dos pavilhões enche-se em duas ou três semanas mas quando se esvaziam são lavados e desinfectados correctamente e mantêm-se vazios durante uma semana. A ventilação é tipo túnel com uma cortina lateral. Em cada pavilhão há um corredor central e 26 parques (10 parques de 20 animais e 16 parques de 60 animais).
Relativamente ao estatuto sanitário dos animais, estes são positivos a PRRS, App, M. hyopneumoniae, ileíte e de vez em quando aparece um surto de Salmonella, contudo a mortalidade da exploração está abaixo dos 3,5%. As medidas de biosegurança são boas e toda a gente toma banho e usa roupa da exploração antes de entrar.
A exploração, normalmente, engorda as fêmeas procedentes do multiplicador que não são seleccionadas como reposição das explorações comerciais da empresa. Actualmente a empresa está a crescer e a exploração é utilizada como recria das primíparas para encher a nova exploração desde os 25 até aos 140 kilos aproximadamente. Por este motivo, todo o plano de adaptação das primíparas é levado a cabo na engorda.
SEMANA | TRATAMENTO |
2-7 | Mistura com porcas de refugo |
4 | Vacina de influenza |
4 | Feed-back (fezes do multiplicador) |
6 | Revacinar de influenza |
9 | “Autovacina” viva de PRRS * |
12 | Varrascos no corredor |
16 | Contacto com varrascos |
16 | Selecção |
17 | Vacina de PPV+MR |
19 | Selecção |
20 | Revacinar de PPV+MR |
* Para a vacinação com PRRS se extrai soro de vários animais no multiplicador, congela-se em tanques de azoto líquido, enquanto se confirma a presença de virus PRRS mediante PCR, e então dilui-se o soro virémico com soro salino para inocular todos os animais com a estirpe (ou estirpes) presentes na exploração.
Aparecimento do Caso
Na semana 10 (entre 6 e 12 de Março) observou-se um aumento da mortalidade em três dos pavilhões (com animais entre 9 e 14 semanas de idade). Inicialmente o tratador não se preocupou demasiado e medicou a água com clortetraciclina. Não avisou ninguém mas ser questionado disse que os animais não apresentaram sintomas e que ele, simplemente, encontrava mortes súbitas.
A mortalidade baixou para níveis “normais” durante as duas semanas seguintes mas durante a semana 13 o tratador avisa que encontrou, de novo, algumas mortes súbitas e que pela manhã ouvia-se bastante tosse.
Também comenta que “decidiu” medicar a água com lincomicina e começou a picar com penicilina os animais que vê mais afectados.
Visita à Exploração
Depois do telefonema, pede-se ao tratador que se houver mais baixas para não eliminar os cadáveres. No dia seguinte o veterinário visita a exploração e há três animais mortos de entre as 17 e as 20 semanas de idade com sintomas e aparência similar aos dos dias anteriores. Devido à mudança de utilização da exploração (de engorda comercial de animais não seleccionados para recria de primíparas) a densidade nos parques é muito alta, contudo, o tratador comenta que algumas manhãs encontra animais amontoados em alguns parques.
Conferem-se os registros de temperatura máxima e mínima dos últimos dias e constata-se que a temperatura mínima esteve sempre abaixo da recomendada mas, provavelmente, o mais importante seja que a sensação térmica dos animais seja muito inferior por “culpa” dos ventiladores. No momento da visita podem-se sentir algumas correntes de ar quando os ventiladores arrancam. Como se comentou, a ventilação é de tipo túnel com ventiladores tipo “ON/OFF”, ou seja, não se regula o fluxo de ar que é movido pelos ventiladores mas sim o tempo que estão a funcionar.
Registros de temperaturas entre 27 de Feveiro e 15 de Abril. Pode-se ver a oscilação que houve entre a temperatura mínima e máxima: quasi cada dia há mais de 5ºC de diferença e em vários casos até 7ºC.
No final da visita realizam-se as necropsias e as lesões encontradas são, basicamente pleuropneumonia fibrosa com exudado.
São recolhidas amostras de dois pulmões para realizar isolamento e antibiograma e recomenda-se que termine o tratamento com lincomicina e a partir de agora utiliza-se doxiciclina na água para tratar estes casos e usa-se oxitetraciclina injectável para os casos mais graves.
Evolução do Caso
Depois da visita voltou-se a observar outra descida da mortalidade. No seguinte gráfico pode-se ver a evolução da mortalidade por semanas, podem-se observar os dois picos que se descreveram no caso.
Por outro lado, receberam-se os resultados do laboratório. Só se incluem os antibióticos aos que são sensíveis.
pulmão-1 | pulmão-2 | ||
isolamento | Actinobacillus pleuropnamoniae | Actinobacillus pleuropnamoniae | Pasteurella multocida |
antibiograma | Amoxicilina-Acido clavulónico | Amoxicilina | Amoxicilina |
Cefalexina | Amoxicilina-Acido clavulónico | Amoxicilina-Acido clavulónico | |
Ceftiofur | Ampicilina | Ampicilina | |
Colistina sulfato | Apramicina | Apramicina | |
Doxiciclina | Cefalexina | Cefalexina | |
Eritromicina | Ceftiofur | Ceftiofur | |
Gentamicina | Colistina sulfato | Doxiciclina | |
Lincomicina | Doxiciclina | Enrofloxacina | |
Oxitetraciclina | Enrofloxacina | Gentamicina | |
Penicilina | Gentamicina | Lincomicina | |
Spectinomicina | Penicilina | Oxitetraciclina | |
Spiramicina | sulfa-trimetroprim | Penicilina | |
Tetraciclina | Spiramicina | ||
sulfa-trimetroprim |
Conclusão
Os resultados do laboratório não surpreenderam ninguém já que o quadro clínico parecia muito claro. As infecções por Actinobacillus pleuropneumoniae sozinhas ou em combinação com Pasteurella multocida são relativamente frequentes.
Neste caso realizou-se o isolamento e antibiograma para determinar se a actuação do tratador (medicando a água com lincomicina e injectando com penicilina) estava a ser útil frente às estirpes presentes na exploração. Por outro lado, com a primeira visita só se confirmou uma suspeita clara mas não se corrigiram os possíveis erros que causaram o aparecimento do caso.
Relativamente à origem do surto, os animais procedem de uma fonte positiva portanto eram já portadores antes de chegar à exploração do caso, contudo, alguns factores podem provocar que estes animais portadores apresentem sintomas. Neste caso encontramo-nos com uma exploração que normalmente é uma engorde comercial mas que actualmente aloja primíparas até um peso muito superior ao habitual; por outro lado, estas primíparas são adaptadas sanitariamente durante este período incluindo uma inoculação com vírus PRRS salvagem isolado na exploração de origem. Por último, a ventilação tipo túnel parece provocar alguns problemas em períodos com temperaturas exteriores muito baixas. No seguinte gráfico apresentam-se as temperaturas mínimas exteriores entre o mês de Março e Abril (há que ter em conta que quando se surgiu o surto, as temperaturas exteriores eram, inclusive, inferiores).
Medidas implementadas
Em primeiro lugar modificou-se ligeiramente o fluxo de entrada de animais de modo que se possa trabalhar com uma densidade inferior; fez-se uma pré-selecção no desmame de modo que parte das fêmeas que chegavam eram enviadas para outra engorda comercial.
Também se modificou o protocolo de adaptação sanitária das primíparas; inicialmente eram inoculadas com vírus PRRS vivo durante a nona semana de estadia, a partir deste caso antecipou-se esta inoculação para a segunda semana.
Por último, realizaram-sen algumas alterações na ventilação dos pavilhões. Em primeiro lugar, adaptou-se ligeiramente a curva de ventilação para os valores recomendados.
Em segundo lugar, activou-se uma opção do regulador que inclui uma sonda exterior e segundo a temperatura exterior modifica, em baixa, a ventilação mínima de modo que durante as noites (ou dias) muito frios se trabalhe com ventilações mínimas abaixo das recomendadas (até 30% menos).
Comentários
Este caso foi relativamente fácil de resolver desde o ponto de vista clínico. Os animais afectados eram primíparas que se encontravam numa engorda, durante a segunda semana de Março começaram-se a ver animais com tosse e a mortalidade começou a aumentar. Segundo o tratador muitas mortes eram súbitas, pela manhã encontrava animais mortos que estavam sãos no dia anterior e o única coisa que via era sangue no focinho de alguns deles.
O tratador tratou os animais como fazia habitualmente nos casos parecidos: medicava a água com lincomicina e tratava com penicilina injectável os casos mais graves. Neste caso, contudo, o quadro parecia mais grave e quando viu um segundo surto de tosse e mortes súbitas avisou o veterinário.
Durante a visita observou-se que a densidade dos animais era demasiado elevada, e também se detectaram alguns problemas de ventilação (basicamente correntes de ar em dias muito frios). Realizaram-se três necropsias e confirmaram-se as suspeitas de un caso de App, contudo também se enviaram amostras de pulmão para realizar isolamentos e antibiogramas; deste modo pôde-se saber se os tratamentos que estavam a ser feitos pelo tratador tinham sido efectivos.
Finalmente, e ainda que os isolamentos fossem sensíveis à lincomicina e penicilina decidiu-se mudar, de todas as formas, os antibióticos durante estes quadros. Também se antecipou o momento da inoculação com PRRS para a segunda semana de permanência (em vez da nona). Por último, realizaram-se algumas mudanças na ventilação dos pavilhões para minimizar o efeito dos dias muito frios, reduzindo a ventilação mínima até 30% quando a temperatura exterior é demasiado fria.