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Caso clínico: APP - Pneumonia na engorda

Receber reposição de várias origens pode ser um factor para a entrada de doenças na nossa exploração. Foi o que ocorreu neste caso

7 Agosto 2006
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Descrição da Exploração



A exploração encontra-se situada no Vale do Pó, em Itália, no meio da planície padana, uma região eminentemente agrícola do norte de Itália, com uma alta densidade de porcos. Até Janeiro de 2005, a exploração contava com 450 porcas em ciclo fechado alojadas em jaulas até ao dia 35 de gestação e depois em grupo. Lembramos que, em Itália, o abate se realiza sobre os 160 kg de peso vivo, podendo oscilar entre os 156 e os 170 kg de peso vivo.

Devido a uma grande crise estrutural do sector suinícola neste período, a exploração esvaziou-se completamente. Os novos donos transformaram-na numa exploração de engorda. As jaulas utilizam-se para recuperar animais atrasados e os parques foram reconvertidos em parques de engorda.

Estas instalações são de obra e dispõem de um pátio exterior com solo de slat (20 % da superfície).


A capacidade actual é de 4.500 porcos de engorda.

K
(900 )
M
(900 )

H
(600)
D
(500)

G
(600)
F (90)
C
(500)
E
(600)

O sistema de alimentação é automática e sob a forma líquida, com uso de soro de leite a uma diluição 1:4, distribuída duas vezes por dia. A ventilação é natural com chaminé e janelas laterais. Os bebedouros são tipo chupeta.

As rações são produzidas na exploração com uma mistura de 30 % de milho, cevada e trigo. Há dois tipos de ração: I) 40-100 kg e II) 100-160 kg. Todas as engordas entram no circuito da produção de presunto de Parma e San Daniele. A exploração está preparada para receber animais de 40 kg de peso vivo. À chegada recebem ração seca durante 3-4 semanas, quando começam a receber a alimentação líquida, e apenas numa semana, realiza-se a transição completa para a ração líquida.

De acordo com o veterinário decidiu-se que o fornecedor dos porcos seja único e que possa cobrir as necessidades da exploração relativamente ao número de porcos necessários para garantir um fluxo continuo de animais para o matadouro.


Aparecimento do Problema e Soluções Adoptadas



A introdução de porcos iniciou-se a 24 de Julho de 2005. Ao contrário do que estava previsto, o proprietário queria encher a exploração rapidamente e comprou animais de três origens distintas.

Data
Origem Número Pavilhão
24-07-05
1 600 K
26-08-05
1 500 C
26-08-05
2 290 D
14-09-05 3 650 E

Até meados de Outubro a situação era muito boa, com poucas baixas e pouca necessidade de tratamentos individuais.

4 semanas após a última entrada de porcos, quando a exploração tinha cerca de 2.000 porcos no total, começaram alguns problemas respiratórios nos porcos que entraram primeiro no pavilhão D, procedentes da origem 2, que nunca tinham apresentado problemas anteriormente e que já estavam há 50 dias na exploração.

Aumentaram as baixas e os tratamentos individuais. Pouco tempo depois, os animais da origem 1 também ficaram doentes.

Os sintomas eram dispnea, tosse, descargas nasais, febre, perda de apetite, diarreia ocasional, baixas repentinas de porcos em bom estado e baixas de animais doentes.

As entradas são diferentes por origem e por cor.

Expl. 1 Expl. 2 Expl. 3

K
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M
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H
(600)
D
(500)

G
(600)
F (90)
C
(500)
E
(600)




Visita à Exploração



Iniciou-se a recolha de informações como:

- Inicio do aparecimento do problema
- Necropsia de animais mortos
- Envio de pulmões para o laboratório
- Análises de baixas e de morbilidade segundo a origem.

As seguintes entradas realizam-se do seguinte modo:

Data
Origem Número Pavilhão
29-09-05
1 600 G
27-10-05
1 550 H

Expl. 1 Expl. 2 Expl. 3

K
(900 )
M
(900 )

H
(600)
D
(500)

G
(600)
F (90)
C
(500)
E
(600)

Os problemas continuam e também os últimos porcos, entrados em 29/09 e em 27/10, adoecem e apresentam os mesmos sintomas respiratórios.


Resultados



Análises de baixas e tratamentos individuais.

Baixas (%) Tratamentos individuais (nº / dia)
Antes de aparecerem os problemas
1,25 6-10
Depois de aparecerem os problemas 8,1 40-50

As baixas são diferentes segundo a origem:


A necropsia de 4 animais evidencia edema pulmonar difuso, pleuropneumonia necrótica, hemorragia, pericardite, gastrite, enterite, aumento dos gânglios inguinais.

O diagnóstico laboratorial é pleuropneumonia causada por Actinobacillus pleuropneumoniae (isolamento) serotipo 9; PRRS (PCR e Circovirus (PCR).

O antibiograma mostra sensibilidade a muitos antibióticos como amoxicilina, cloranfenicol ou doxicilina.


Diagnóstico e Medidas Tomadas



O diagnóstico não era difícil, o laboratório só confirmou o diagnóstico que se presumiu. Inicialmente medicou-se a ração com amoxicilina durante 7 dias. Após 5 dias de tratamento não se observou nenhuma melhoria e mudou-se a medicação para doxiciclina, que foi utilizada no alimento líquido durante todo o período crítico da doença: 5-6 semanas em todos os animais de 40 a 100 kg de peso vivo. O problema parecia não responder às medicações. O tratamento na água não era possível porque não dispõem de uma instalação para medicação na água. Além de que, numa infecção em que o App está presente as medicações via ração costumam chegar tarde, já que por muito que corramos o tratamento só se realiza quando já se produziram muitas baixas. O problema estabilizou após 40 dias.

Durante a primeira semana, nos grupos com sintomatologia, injectavam-se todos os animais com antibióticos aos que eram sensíveis segundo o antibiograma. Os animais muito doentes eram retirados do grupo, e naqueles grupos em que os porcos não comiam ao segundo dia, injectavam-se pela segunda vez. Todos os porcos com dispnea grave também eram injectados com córticos. Deste modo controlaram-se as baixas, pese a que os níveis continuavam a ser altos. Os sintomas diminuíram muito lentamente, tal como as baixas (dezenas de animais na primeira semana, alguns baixas na segunda e terceira semanas e normalização a partir da quarta).


Comentários



Uma exploração de ciclo fechado de 450 porcas é reconvertido numa engorda de 4500 lugares. Durante a reconversão realizou-se um esvaziamento completo da exploração.

Inicialmente decidiu-se que o abastecimento de animais se faria a partir de uma única origem, mas afinal acabou por não suceder assim, e a exploração recebeu animais de 3 origens diferentes de forma escalonada. Dois meses e meio depois de começar a encher a exploração (4 semanas depois da última entrada), alguns dos animais ficaram doentes apresentando sintomas respiratórios e entéricos, vendo-se afectados em distintos graus segundo a sua origem.

Logicamente este problema tem uma causa infecciosa, ainda que a origem principal é o não ter respeitado a decisão de uma entrada de animais de uma única orige.

Os animais da exploração 3, a última origem de entrada, foram os que introduziram os agentes bacterianos e virais que causaram o surto. Na realidade são os animais que registaram menos problemas já que dispunham de imunidade contra os patogénicos em questão.

A exploração 2 foi a origem de onde entrou um menor número de animais, provavelmente era a que tinha porcos mais sãos e menos protegidos. Como consequência, foi o grupo que apresentou mais baixas.

A origem 1 era a que tinha animais geneticamente mais resistentes e apresentaram menos problemas que os animais da origem 2, ainda assim os animais deste grupo adoeceram e o número de baixas foi importante. A última entrada procedente desta origem, coincidiu com o aparecimento do surto, e também resultou afectada.

Esta exploração teve a oportunidade única de conseguir bons resultados ao arrancar de uma situação de despovoamento total. O erro de querer encher a exploração demasiado rapidamente comportou uma mistura de animais de diversas origens e também de gérmes, uma situação sanitária muito perigosa. Neste caso não se trata de um simples caso de pneumonia, mas sim de uma má gestão da exploração. Hoje o proprietário só compra animais da origem 1, ainda que o problema não tenha terminado já que todos os animais que chegam podem adoecer de APP, já que ficou endémica na exploração, até um novo despovoamento.

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