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Caso clínico: Artrites devidas a gérmenes ambientais

A higiene nas intervenções que se fazem nos leitões é essencial para evitar o aparecimento de artrites e outros problemas

2 Abril 2010
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O caso deste mês apareceu numa exploração de ciclo fechado com 300 porcas situada na Bretanha francesa, zona com uma elevada densidade suína. A exploração tem um maneio em 7 bandas cada 3 semanas (40 porcas/banda) e desmama aos 28 dias.

As doses de sémen são adquiridas no exterior, tal como as primíparas de substituição que entram livres de Aujeszky, PRRS e Actinobacillus pleuropneumoniae (B1 S2, 9 e 11).

Estatuto sanitário da exploração


Aujeszky
indemne
PRRS
positiva (estável)
Actinobacillus pleuropneumoniae
positiva (B1S2)
Streptococcus suis
positiva
Rinite
positiva
Mycoplasma hyopneumoniae
positiva

Profilaxias efectuadas

PRRS Vacinação em massa das porcas cada 4 meses
Vacinação dos leitões entre as 6-7 semanas de vida
Mycoplasma hyopneumoniae Vacinação com 2 doses à la 1ª e 4ª semanas de vida
Outras vacinações realizadas nos reprodutores: parvovirus, mal rubro, rinite, colibacilose e clostridiose.



Aparecimento do caso

O suinicultor decide por-se em contacto com o veterinário após detectar um importante aumento da mortalidade tanto na lactação como nas baterias desde há aproximadamente 6 meses devido ao aparecimento de artrites num elevado número de leitões de entre 2 a 7 semanas de vida.

Estas artrites aparecem de forma súbita e os tratamentos curativos mostraram-se pouco eficazes.

Visita à exploração

O veterinário visita toda a exploração:

Quarentena
  • A quarentena é feita sobre cama de palha. As primíparas estão na quarentena entre 12 a 15 semanas para ser transferidas posteriormente para o pavilhão de gestação.
Gestantes
  • Fertilidade correcta (cerca de 85%) e constatam-se boas entradas em cio.
  • O estado corporal é bom.
  • Poucos abcessos no pescoço
Maternidade
  • Realiza-se maneio tudo dentro-tudo fora.
  • Os parques são sobre slat de plástico com placas de aquecimento na zona do ninho (o conforto para os leitões é óptimo).
  • Não se observa nenhum problema em particular nem durante o parto nem durante os primeiros dias de lactação.
  • Os cuidados com os leitões são os seguintes: limagem de dentes, corte de caudas (com gás), distribuição de ferro via oral e tratamento preventivo contra a coccidiose via oral. As castrações realizam-se de forma higiénica, com desinfecção prévia. A primovacinação contra micoplasma realiza-se durante a primeira semana de vida e utilizam-se agulhas descrtáveis (1 por ninhada) com limpeza e desinfecção da seringa após cada utilização.
  • As artrites aparecem entre as 2 a 3 semanas de vida e observam-se em várias ninhadas, sobretudo naqueles leitões em boas condições corporais, tanto em machos como nas fêmeas . Segundo o produtor não existe efeito do número de parto. No momento do desmame quase 5% dos leitões estão afectados. Trata-se de artrites simples ou poliartrites observadas sobretudo nas articulações do ombro, cotovelo, bacia e joelho. A reacção inflamatória é evidente (articulações quentes e inchadas) e de rápida evolução (<24h). O tratamento curativo anti-inflamatório e antibiótico (dexametasona e amoxicilina) é pouco fiável e só permite salvar 1 em cada 10 leitões.
  • As doses de desinfectantes são correctas.
Baterias
  • O maneio é tudo dentro-tudo fora e os parques são sobre slat.
  • O alimento de primeira idade suplementa-se com colistina à razão de 120 ppm (prevenção da colibacilose) e amoxicilina (500 ppm).
  • Entre 5 a 6% dos leitões estão afectados pelo mesmo tipo de artrites observadas nas maternidades e durante a primeira metade das baterias (7 semanas de vida).
  • Desde há aproximadamente 2 semanas o suinicultor observou um aumento da mortalidade no final das baterias.
Engorda
  • Sem presença de problemas particulares.
  • O índice de mortalidade é muito fiável e encontra-se situado entre 1 a 2%.

O veterinário decide recolher 2 leitões na lactação não tratados e que se encontram no início do problema. Os animais são levados vivos para laboratório.

Resultados das análises

As análises realizadas nos 2 leitões não permitem isolar nenhum germen de forma que o veterinário pede ao suinicultor se pode enviar outros 2 leitões já que aparecem novos casos de artrite.

15 dias mais tarde as an´lises dos outros 2 leitões dá os seguintes resultados:

1º leitão (3 semanas) não tratado
2º leitão (3 semanas) não tratado
Aspecto externo Coxeira Coxeira
Cavidade abdominal Nada importante a destacar Nada importante a destacar
Cavidade torácica - Pulmões, pleuras: pleuropneumonia
- Coração: pericardite fibrinosa
- Pulmões, pleuras: pleuropneumonia
- Coração: pericardite fibrinosa
Articulações -Poliartrites purulentas húmero-radiais
-Baínhas com aspecto fibroso
-Artrite purulenta húmeroscapular
-Bainhas com aspecto fibroso
Bacteriologia Isolamento de Streptococcus suis 7 a partir de:
- sangue do coração
- pulmões
- articulações
- pericárdio
Isolamento de Streptococcus suis 7 a partir de:
- sangue do coração
- articulações

Realiza-se um antibiograma da bactéria isolada, dando o seguinte resultado:

Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
Sensível
Betalactâmicos Aminopenicilinas
Amoxicilina
Sensível
Betalactâmicos de 3ª geração
Ceftiofur
Sensível/font>
Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
Resistente
Fluoroquinolonas
Enrofloxacina
Resistente
Marbofloxacina
Intermédio
Fenicóis
Florfenicol
Sensível
Sulfamidas e associação
Trimetoprim + sulfamidas
Sensível
Tetraciclinas
Doxiciclina
Resistente
Tetraciclina
Resistente

Medidas propostas

Prevenção vacinal
  • Fabrico de uma autovacina inactivada que contenha um adjuvante tipo oleoso com a estirpe de Streptococcus isolada na exploração.
  • Vacinação das porcas 6 e 3 semanas antes do parto.
Prevenção médica
  • À espera dos leitões procedentes das primeiras bandas vacinadas (aproximadamente 5 semanas para o fabrico da vacina + 6 semanas), os animais são tratados de forma preventiva aos 15 dias de vida com uma injecção de antibiótico (ceftiofur de acção prolongada).
  • Mantém-se a suplementação da ração de primeira idade com a amoxicilina e a colistina

Evolução do caso

Evolução das perdas na lactação


A curva da evolução das perdas na lactação mostra uma inflexão a partir do início do tratamento antibiótico preventivo nos leitões de 15 dias de vida. Há menos variações entre as bandas mas as perdas nos nascidos vivos são ainda elevadas (>10%).

Evolução das perdas nas baterias:


Do mesmo modo, enquanto que a taxa de perda nas baterias foi muito variável e alta (4,6% de média) antes de Março de 2008, verificou-se uma descida na curva após a introducção do tratamento (2,5 % de perda em média, apesar de uma primeira banda tratada "má").

Fracasso da vacinação

Os leitões da primeira banda procedentes de porcas vacinadas e não tratados de forma preventiva com ceftiofur não apresentaram artrite, mas, pelo contrário, a segunda e a terceira banda apresentaram um recrudescimento das artrites.

A vacinação não é efectiva. O veterinário visita de novo a exploração e recolhe novas amostras.

Enviam-se para o laboratório 8 leitões não tratados (3 de 21 dias e 5 de 40 dias).



O suinicultor informa o veterinário que, por outro lado, as artrites aparecem vários dias depois da vacinação contra o micoplasma (na maternidade e baterias).

Novos resultados das análises

3 leitões (3 semanas) não tratados
5 leitões (6 semanas) não tratados
Aspecto externo Coxeiras Coxeiras
Cavidade abdominal Nada a destacar Nada a destacar
Cavidade torácica Nada a destacar Nada a destacar
Articulações Poliartrite purulenta
Articulações de ombro e bacia
Poliartrite purulenta
Articulações de ombro e bacia
Bacteriologia Isolamento de Staphylococcus aureus nas articulações
Isolamento de Arcanobacterium pyogenes nas articulações dos 5 leitões
Histologia Em curso Em curso

Conclusão

Os gérmenes isolados realmente não são específicos de artrite nos leitões.

Trata-se pois, provavelmente, de gérmenes ambientais inoculados nos leitões durante os cuidados após o nascimento ou então durante a vacinação contra micoplasma.


Medidas propostas

  • Reforço das medidas higiénicas na maternidade (a margem de manobra é fiável já que o tema higiénico é respeitado).
    • Dupla desinfecção mediante a utilização de um detergente.
    • Tratamento sistemático das descargas vaginais nas porcas após o parto (local + geral)
  • Eliminação da vacinação das porcas com a autovacina e tomar de novo o tratamento preventivo dos leitões com ceftiofur aos 10 dias de vida.
  • Vacinação monodose contra micoplasma ao desmame para reduzir assim o número de injecções.

Comentários

O presente caso apareceu numa exploração de ciclo fechado com 300 porcas situada na Bretanha francesa, zona com uma elevada densidade suína. A exploração realiza o maneio em 7 bandas cada 3 semanas (40 porcas/banda) e desmama aos 28 dias.

O suinicultor decide por-se em contacto com o veterinário após um forte aumento da mortalidade tanto na lactação como nas baterias devido ao aparecimento de artrites num elevado número de leitões de entre 2 a 7 semanas de vida.

Finalmente descobre-se que se trata de um caso de artrites devidas a gérmenes ambientais inoculados aos leitões durante os cuidados após o nascimento e durante a vacinação contra o micoplasma.


As razões do fracasso da autovacinação

Existem dois pontos, segundo o veterinário, que podem explicar o fracasso da vacinação:

  • o número insuficiente de leitões amostrados: teria sido preferível ter mais análises concordantes.
  • a qualidade das amostras: neste caso é o suinicultor que leva 2 leitões com artrite ao laboratório (já que os 2 primeiras análises não deram nenhum resultado) e é provável que as artrites não fossem representativas dos problemas observados. Com efeito, nem sempre é fácil distinguir entre as artrites de aparecimento brutal (na origem do aumento de perdas) e as artrites mais "banais" que se observam na maioria de explorações.

Sem embargo, decidiu-se manter o Streptococcus suis 7 como a causa provável dos problemas já que este germen também se descreve neste tipo de patologia e em segundo lugar, já que tinha sido isolado em cultivo puro das articulações.

Origem do problema e medidas tomadas

Os gérmenes isolados nas últimas amostras remetidas ao laboratório realmente não são específicos de artrites em leitões e portanto, pouco documentados.

O veterinário crê que estes gérmenes se introduziram através dos cuidados realizados aos leitões após o parto e é por esta razão que se tomam medidas higiénicas gerais de reforço (dupla desinfecção e detecção e tratamento das descargas vaginais após o parto, já que podem ser uma fonte de contaminação...). Por outro lado tenta-se limitar o número de injecções passando da vacinação contra micoplasma em duas doses para uma vacinação monodose.

Contudo, cabe assinalar que a maioria das práticas correctas de higiene já se estão a aplicar na exploração (uso de boas doses de desinfectante, caudas cortadas a gás, castração com bisturi com desinfecção adequada da ferida, mudança das agulhas ...) e por último devemos comentar que as injecções já eram poucas visto que o suinicultor utiliza ferro por via oral.

O conjunto destas medidas, associadas a um tratamento antibiótico preventivo aos 10 dias de vida, são suficientes por agora para conter os problemas.

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