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Caso clínico: Associação Pasteurella / Mycoplasma

A mortalidade nas engorda pode ter várias causas. Nesta exploração foi uma associação Pasteurela/Mycoplasma

Dados da Exploração



A exploração, de ciclo fechado e com 350 porcas, encontra-se localizada na Bretanha francesa, numa zona de elevada densidade suína. Encontra-se dividida em 3 sítios diferentes distanciados entre eles por vários quilómetros.

  • Sítio 1: quarentena, maternidade, baterias e engorda para os leitões mais pequenos de cada banda.
  • Sítio 2: baterias e 60% das engordas.
  • Sítio 3: engordas restantes, transferência para esta engorda dos porcos procedentes das baterias do sítio 2.

A exploração foi repovoada em 2006 com primíparas procedentes de uma exploração com elevado estatuto sanitário: indemnes para PRRS, rinite atrófica, Actinobacillus pleuropneumoniae (2 e 1, 9, 11) e Mycoplasma.
Os pavilhões existentes estiveram vazios durante vários meses e foram totalmente limpos e desinfectados.
O maneio realiza-se em 5 bandas e desmama-se aos 21 dias.
As primíparas de substituição são compradas na mesma origem que as primeiras, aos 5,5 meses de idade e entram na exploração a cada 8 semanas.
O sémen adquire-se fora da exploração.
A ração para porcas e leitões adquire-se no exterior.
Utilização de complementos na engorda.
A água de bebida provém de um poço e é clorada.

Estatuto sanitário

  • PRRS: instauração da vacinação das porcas a partir do repovoamento. Vacinação dos leitões desde a Primavera de 2007.
  • Actinobacillus pleuropneumoniae : indemne.
  • Mycoplasma hyopneumoniae: leitões vacinados.
  • Rinite atrófica: indemne.
  • Streptococcus suis: positiva.
  • Desde as primeiras bandas, existência de forte sensibilidade colibacilar nas baterias.

Protocolos vacinais existentes:

  • Primíparas: Parvovirose-Mal Rubro, PRRS, Influenza e Mycoplasma.
  • Porcas: Parvovirose-Mal Rubro, PRRS, Influenza (todas as vacinações se realizam na maternidade)
  • Leitões: Mycoplasma (2 doses, durante a 1ª e 4ª semanas de vida) e PRRS (às 4 semanas de vida)


Aparecimento do Caso



Após a detecção de um aumento do índice de mortalidade na engorda desde há 5 meses (próximo aos 8%), o encarregado do sítio 2 (baterias/engorda) decide consultar a veterinária. Observam-se também atrasos no crescimento com aumento da heterogeneidade dos grupos que se torna evidente já desde o primeiro mês de engorda.

Algumas das medidas tomadas, como a vacinação dos leitões desde há 6 meses contra a PRRS ou a vacinação em curso contra circovirus nas baterias, não permitiram reduzir estas perdas.


Visita à Exploração



Quatro dias depois da chamada telefónica, a veterinária visita a exploração, concretamente o sítio 2. O encarregado informa-a da morte de 40 porcos nos últimos 5 dias numa sala com 152 porcos de 140 dias de vida.

Em geral observa-se dispnea, tosse e importante mortalidade.
A forte medicação individual (amoxicilina) nos animais afectados diminuiu as perdas.
Escolhem-se 3 porcos mortos desta banda para realizar a necropsia.

Baterias

As perdas, próximas a 2%, são devidas essencialmente a problemas digestivos associados a diarreias cinzentas e colibacilose. Segundo as bandas, detecta-se presença de Streptococcus suis 2.

Baterias
Agrupamento por número de parto apesar do transporte.
Sem possibilidade de limitar o número de ninhadas por parque.
Leitões de 4 semanas de vida

Peso de desmame inferior aos 6 kg em qualquer das bandas.
Presença de traços de diarreias cinzentas.
Ausencia de tosse e espirros.

Leitões de 8 semanas de vida
Abdómenes dilatados e pêlo eriçado.
Presença de diarreias cinzentas na maioria dos casos.
Presença de tosse, observando-se umas salas mais afectadas que as outras.
Animais vacinados contra Mycoplasma, PRRS e circovirus durante os primeiros 15 dias nas baterias.


Engorda

Na engorda, se bem que os leitões nao voltem a ser misturados, os parques dividem-se em dois. Os parques são de slat integral e o alimento distribui-se em forma de sopa.

12 semanas de vida

Banda entrada na engorda 10 dias antes com 1 a 2 porcos por parque com atraso no crescimento, porcos menos conformados, mais abatidos e alguns com dispnea.
Presença de algumas tosses, sem hipertrofia dos gânglios inguinais nos porcos com atraso, ausência de diarreia e sem recaída por colibacilose.
A banda acompanha a curva de alimentação.

16 semanas de vida

Sem ausência de apetite.
Sem presença de diarreias.
Inicio de tosses numa das salas.

20 semanas de vida
Banda com importantes perdas durante os últimos 5 dias: mortalidade em todos os parques, de forma notória num deles.
Os porcos afectados apresentam acentuada dispnea.
Animais muito abatidos.
Diminuição do consumo médio diário de alimento na banda afectada.


Resultados das Necrópsias


Leitão de 8 semanas de vida
Porcos de 20 semanas de vida
Aspecto exterior Presença de pêlo endurecido, perda de estado corporal, sem hipertrofia dos gânglios inguinais. Estado correcto, sem hipertrofia dos gânglios inguinais.
Cavidade abdominal Estomâgo vazio, tiflocolite não-específica com distensão do cego e cólon. Estomâgo vazio, sem lesões aparentes.
Cavidade torácica Lesões de pneumonia consolidadas. Pleuresia massiva com importantes aderências nos pulmões e paredes torácicas, presença de focos necrótico-hemorrágicos massivos.


Lesões pulmonares


As necrópsias fazem pensar fortemente na presença de uma actinobacilose, é por isso que a veterinária decide recolher amostras para tipificar o Actinobacillus pleuropneumoniae causante e obter o seu antibiograma.


Primeiros Resultados das Análises



Bacteriologia de lesões pulmonares dos porcos de 20 semanas de vida:

  • Pasteurella multocida em cultivo abundante e puro a partir das amostras de lesões de pneumonia.
  • Actinobacillus pleuropneumoniae: resultado negativo mediante cultivo e PCR tanto nas amostras de pulmões lesionados como nos cultivos bacterianos.

Cultivo a partir de lesões pulmonares de um leitão de 8 semanas de vida:

  • Pasteurella multocida e Bordetella bronchiseptica.
  • Actinobacillus pleuropneumoniae: resultado negativo.

Antibiogramas

Pasteurella multocida
Bordetella Bronchiseptica
Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
Sensível
Sensível
Beta-lactâmicos / Aminopenicilinas
Amoxicilina
Sensível
Sensível
Beta-lactâmicos de 3ª geração
Ceftiofur
Sensível
Resistente
Vários
Tiamulina
Sensível
Resistente
Tulatromicina
Sensível
Sensível
Fluoroquinolonas
Marbofloxacina
Sensível
Sensível
Enrofloxacina
Sensível
Sensível
Macrólidos
Tilosina
Intermédia
Resistente
Espiramicina
Intermédia
Resistente
Tilmicosina
Sensível
Resistente
Macrólidos / Lincosamidas
Lincomicina
Sensível
Resistente
Fenicóis
Florfenicol
Sensível
Sensível
Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
Sensível
Resistente
Sulfamidas e associação
Trimetoprim + sulfamidas
Sensível
Sensível
Tetraciclinas
Doxiciclina
Sensível
Sensível
Tetraciclina
Sensível
Sensível


Análises Complementares



Ante estes surpreendentes resultados relativamente à clínica, a veterinária decide completar o diagnóstico.

1. Análises complementares realizadas no dia seguinte à primeira visita à banda de porcos de 20 semanas de vida.

Actinobacilose
Influenza
PRRS
Acompanhamento serológico em 8 porcos afectados (Test ApX 4) Zaragatoas nasais de porcos com hipertermia.
PCR a pulmões.
PCR a pulmões de animales mortos.
PCR a soro de animais afectados
Dia 0 : 8/8 negativos
Dia 20 : 8/8 negativos
Negativo
Negativo

2. Controlo no matadouro realizado uma semana depois no lote de mais idade que tinha apresentado tosse com dispnea e diminuição do apetite.

Nº pulmões analisados
Pontuação média
% nota 0
% nota 5
% pleuresia
114
5
13,7
50
22,72

Lesões que evocam presença de pneumonia enzoótica.
Ausência de lesões que façam pensar em actinobacilose.
Bacteriologia realizada em pulmões que apresentavam as lesões mais severas: flora bacteriana polimorfa.

3. Estatuto da exploração em relação a Actinobacillus pleuropneumoniae

  • Serologia realizada em animais em diferentes fases fisiológicas utilizando o test ApX 4 (realizado 1 mês depois da crise).
Primíparas à chegada
Porcas de 1º, 2º, 3º e 4º parto
Leitões de 12 semanas de vida
Leitões de 16 semanas de vida
Porcos de 24 semanas de vida
8/8 negativos
12/112 negativos
8/8 negativos
8/8 negativos
8/8 negativos
  • PCR realizada em pulmões com focos de necrose: negativas.

    Sem circulação do gérmen dentro da exploração.

4. Estatuto da exploração em relação ao PRRS

A exploração realiza vacinação com vacina viva atenuada na maternidade apesar do estatuto de indemne das primíparas.

A inicios de 2007 detectaram-se serologias muito positivas na transição e engorda mas sem presença de sinais clínicos associados. Naquele momento não se realizou nem PCR nem serotipagem mas iniciou-se a vacinação dos leitões.

A veterinária decide neste caso realizar:

  • Uum PCR na transição e engorda em amostras de soro de 8 animais doentes e de pulmões de animais mortos obtendo um resultado negativo.
  • 1ª etapa do diagnóstico de estabilidade dos leitões nascidos: PCR para pool de 3 soros procedentes de um leitão por ninhada das 33 ninhadas da banda: resultado negativo.

Sem presença de circulação nem na engorda nem nas maternidades.



5. Estatuto da exploração em relação a Mycoplasma

Perfil para Mycoplasma realizado nas baterias e engorda.


Presença de forte circulação de Mycoplasma na engorda e no final da transição.


Diagnóstico



Vistos os resultados, a veterinária descarta uma actinobacilose assim como a hipótese de infecções bacterianas associadas a processos virais (PRRS e Influenza). Relativamente a uma possível presença de circovirose, a veterinária decide reforçar as medidas de biosegurança e simplificar os protocolos vacinais. O diagnóstico de presença de PMWS não pôde confirmar-se pelas lesões histológicas nem por imunohistoquímica.

Finalmente a veterinária avança a sua hipótese: presença de uma associação Pasteurella/Mycoplasma.


Medidas Tomadas e Primeiros Resultados



A veterinária determinou como prioridade rever a biosegurança da exploração. Em primeiro lugar aconselha pôr em marcha os seguintes pontos:

  • As tarefas da exploração realizam-se dos animais mais jovens para os mais velhos.
  • Utilização de roupa de trabalho específica para cada sector e fácil de reconhecer (maternidade/baterias/crescimento-engorda).
  • Existência de lavatório e sabão para cada sector.
  • Pedilúvios à entrada de cada sala de gestantes, maternidade, baterias e crescimento-engorda. Introduzir os pés tanto à entrada como à saída.
  • Desinfecção e cal nos corredores depois de cada movimentação de porcas, leitões ou animais de engorda.
  • Desinsectização e desratização.
  • Dupla desinfecção de todas as salas de baterias e crescimento-engorda. Recordar a limpeza e nebulização dos tectos assim como a desinfecção óptima das valas.
  • Utilização de agulhas de uso único (1 por porca, sejam quais sejam as injecções, 1 por cada 10 porcos), de seringas também descartáveis ou cuidadosamente desinfectadas e utilizadas num só sector.
  • Utilização de material de intervenção específico para cada sítio e sector.
  • Dispor de botas e roupa específicas para os possíveis visitantes.

Protocolo sanitário nas baterias e crescimento-engorda

Decide-se iniciar de forma prioritária um tratamento que permita a diminuição da pressão bacteriana: Mycoplasma e Pasteurella → estabelece-se uma antibioterapia a partir do antibiograma obtido para Pasteurella multocida e Bordetella bronchiseptica.

  • Baterias: 1000 ppm de clortetraciclina e TMP-sulfa 125 ppm / 645 ppm durante 10 dias.
  • Crescimento-engorda: tratamento à entrada, ou seja, às 12 e depois às 16 semanas, com 1000 ppm de clortetraciclina durante 5 dias.
  • Eliminação da vacinação contra o PRRS e da vacinação contra circovirus nas baterias.
  • Vacinação contra Mycoplasma (dose única) no momento do desmame.

Protocolo sanitário após o nascimento

  • Eliminação das múltiplas vacinações realizadas na maternidade e manter unicamente a vacinação contra o mal rubro e o parvovirus.
  • Vacinação em massa contra o PRRS cada 4 meses.
  • Medicação das porcas com 1000 ppm de clortetraciclina.




Primeiros resultados



Após o inicio das medidas sugeridas pela veterinária observa-se uma melhoria nas primeiras bandas tratadas nas baterias e crescimento-engorda com uma diminuição da mortalidade, situando-se esta num valor próximo aos 5%.

Os primeiros lotes tratados seguindo o protocolo vacinal estabelecidos serão controlados no matadouro. O inicio das normas de biosegurança, se bem que necessitem de um maior período de tempo para ser estabelecidas, jogam um papel importante na estabilidade dos diferentes sectores. Decide-se realizar, dentro de 3 meses, um perfil serológico individual de 10 leitões identificados aos 21 dias de vida: perfil serológico para PRRS e Mycoplasma com recolha de amostras cada 4 semanas.

Os primeiros resultados ver-se-ão dentro de um mês e os perfis serológicos permitirão confirmar ou não a estabilização da situação sanitária.


Comentários



O aumento do índice de mortalidade na engorda desde há 5 meses (próximo de 8%), numa exploração de ciclo fechado com 350 porcas situada na Bretanha francesa dá o sinal de alerta ao suinicultor que decide consultar a veterinária. O suinicultor também tem observado atrasos no crescimento com aumento da heterogeneidade dos grupos, evidente desde o primeiro mâs de engorda. Se bem que este tenha tomado algumas medidas, como a vacinação dos leitões desde há 6 meses contra o PRRS ou a vacinação em curso contra circovirus nas baterias, estas não deram resultado e não se observou uma redução das perdas.

A veterinária decide visitar a exploração, observando em primeiro lugar dispnea, tosse e grande mortalidade. Após diferentes provas como as necrópsias realizadas em leitões de 8 semanas de vida e porcos de 20 semanas, a bacteriologia das lesões pulmonares observadas nos porcos de 20 semanas e as análises complementares (estatuto da exploração face a Actinobacillus, PRRS ou Mycoplasma), a veterinária conclui que se trata de uma associação Mycoplasma-Pasteurella.

Com este caso damos conta da importância do diagnóstico.

A utilização de técnicas de PCR permitiu excluír de uma só vez as hipóteses de PRRS, a Influenza e a actinobacilose como possíveis causas enquanto que a associação Mycoplasma/Pasteurella não parecia, inicialmente, explicar a degradação do estatuto sanitário dos animais A má compreensão que a frequentemente se tem sobre a circulação do Mycoplasma junto com a infra-valorização deste patógeno sempre de actualidade, pivot central das patologias respiratórias na engorda assim como o pouco interesse mostrado nas posteriores sobre-infecções bacterianas que aqui se mostram importantes, explicam a sobre-valorização, neste caso, das patologias virais.

Os casos de pasteurelose sobreaguda que comportam mortalidades, como neste caso, encontram-se muito pouco descritas. Estão, contudo, vinculadas à associação Mycoplasma/Pasteurella. A severidade dos sinais clínicos explica-se pela estirpe de Pasteurella multocida existente e pelo estatuto imunitário dos animais. Ter piorado o estatuto sanitário da exploração desde há vários meses, as perdas geradas, a vacinação posta em prática sem um diagnóstico prévio explicam as medidas de diagnóstico realizadas.

O esquema da veterinária foi o seguinte:

1. Diagnóstico da patologia no episódio de mortalidades nos porcos de engorda de 140 dias de vida:

  • Bacteriologia: Pasteurella multocida em cultivo puro.
  • Exclusão da actinobacilose:
    • PCR
    • Cinética (ApX 4) sobre os animais afectados
  • Exclusão do PRRS:
    • PCR sobre os órganos lesionados,
    • PCR sobre os soros de animais afectados
  • Exclusão da Influenza:
    • PCR sobre zaragatoas nasais,
    • PCR sobre órganos lesionados.

Pasteurelose sobreaguda

2. Evidência do papel do Mycoplasma

Os casos de pasteurelose sobreaguda ou aguda foram sempre descritos em associação com o Mycoplasma.

O perfil para Mycoplasma pôs em evidência uma forte circulação de Mycoplasma nas baterias e engorda.

3. Estatuto das porcas

  • Perfil serológico (ApX 4): indemne para actinobacilose.
  • Diagnóstico de estabilidade frente ao PRRS: ausência de transferência de mães para os leitões.
  • Perfil serológico para Mycoplasma: circulação débil.

A exploração é em múltiplos sítios, trata-se pois de:

  • manter o estatuto das maternidades,
  • manter o estatuto de cada sítio.

Nos casos de pasteurelose, a transmissão horizontal é sempre principal.

É importante iniciar as medidas de biosegurança, a curto prazo nas baterias e crescimento-engorda e a lango prazo para manter o bom estatuto sanitário das maternidades.

A medicação estabelecida permitiu controlar a clínica respiratória.

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