As autovacinas receberam vários nomes (vacina autógena ou autóloga, vacina de rebanho ou de emergência, vacina feita à medida, etc.) e definições. No entanto, uma vez que a sua utilização e produção em medicina veterinária está regulamentada, temos de considerar a definição legal: "medicamentos imunológicos veterinários inactivados que são fabricados a partir de agentes patogénicos e antigénios obtidos de um ou mais animais numa unidade epidemiológica e utilizados para o tratamento desse animal ou animais na mesma unidade epidemiológica ou para o tratamento de um ou mais animais numa unidade para a qual tenha sido confirmada uma ligação epidemiológica" (REGULAMENTO (UE) 2019/6 de 11 de Dezembro de 2018 sobre medicamentos veterinários, que entrou em vigor em Janeiro de 2022).
Desta modo, as autovacinas são um tipo de vacina:
- destinada a uma exploração, ou grupo de explorações epidemiologicamente relacionadas
- inactivado
- preventivo na qualidade de vacinas.
A incorporação de estirpe de agentes patogénicos, bactérias ou vírus da próprios da exploração, torna-os muito específicos e versáteis. É possível incluir na mesma autovacina vários agentes diferentes ou variantes antigénicas do mesmo agente, o que é frequentemente feito em processos multifactoriais.
Não se trata de produtos industriais. São vacinas feitas à medida, produzidas a pedido e mediante receita veterinária para uma grande variedade de espécies animais e agentes patogénicos e em quantidades variáveis. Isto permite que a sua composição possa ser actualizada para incluir novas estirpes que aparecem na exploração.
O facto de estarem inactivados significa que são geralmente formulados com adjuvantes, que são necessários para aumentar a resposta imunitária, e que em mamíferos e aves são quase sempre aplicados de forma parenteral. Do mesmo modo, a inactivação torna-os muito seguros, uma vez que nunca podem reproduzir a doença que se destinam a controlar.
Quando aplicá-las?
Mais uma vez, teremos de nos cingir aos aspectos legais para além das indicações técnicas, mas em termos gerais podemos dizer que preenchem as lacunas deixadas pelas vacinas registadas e podem ser utilizadas nos seguintes casos:
- Se não houver uma vacina comercializada para essa espécie animal e essa indicação. Um exemplo claro seria a autovacina contra Staphylococcus hyicus, Brachyspira hyodysenteriae ou Metamycoplasma hyosynoviae.
- Quando as vacinas registadas não incluem as variantes antigénicas da nossa exploração e não existe imunidade cruzada entre elas. As variantes podem ser determinadas pelo serotipo, toxinas ou factores de virulência que transportam. Este seria o caso de Streptococcus suis, Actinobacillus pleuropneumoniae ou Glaesserella parasuis, entre outros.
- Se estiver disponível uma vacina comercial adequada, uma autovacina só poderia ser utilizada se a primeira vacina não tivesse sido eficaz, após demonstração e notificação da falta de eficácia.
Processo de produção de uma autovacina
O protocolo completo (Quadro 1) envolve uma série de etapas nas quais vários agentes estão envolvidos:
- O veterinário. O veterinário é responsável por detectar o processo na exploração, recolher as amostras, prescrever a autovacina e supervisionar ou executar a sua aplicação.
- O laboratório de diagnóstico. Realizará a análise e o isolamento das estirpes.
- O laboratório que produz a autovacina. Este pode ser o mesmo ou diferente do laboratório de diagnóstico. Deve ser autorizado e é responsável pela concepção da composição da autovacina (em acordo com o veterinário e de acordo com os resultados do diagnóstico) e pelo seu fabrico.
Tabela 1. Processo de produção de uma autovacina.
Agente | Passo | Descrição | |
---|---|---|---|
Veterinário | Presença de animais doentes com manifestações clínicas evidentes | O veterinário faz diagnóstico clínico | |
Veterinário | Recolha de amostras | Envio ao laboratório | |
Laboratório diagnóstico | Diagnóstico laboratorial | Diferencial, isolamento de estirpes e caracterização das mesmas | |
Laboratório produtor de autovacina | Desenho da autovacina | Definir quais as estirpes, serótipos, etc. são incluídas | |
Veterinário | Pedido | Sempre sob prescrição veterinária | |
Laboratório produtor de autovacina | Fabricação | Seguindo protocolos standartizados de produção | |
Laboratório produtor de autovacina | Controlo de qualidade | Composição, inactivação e esterilidade do produto injectável final | |
Veterinário | Envio e aplicação | Enviada ao proprietário ou veterinário, aplicada de acordo com protocolo estabelecido |
Pontos chave para que a autovacina tenha altas probabilidades de êxito
1. Abordagem diagnóstica
Será diferente dependendo do processo patológico, mas começa por orientar a recolha de amostras na exploração. O laboratório deve aconselhar que tipo e quantidade de amostras a recolher e que tipo de animais. É importante testar mais do que um lote de animais ou lotes de diferentes fases de produção. Um diagnóstico laboratorial diferencial completo deve ser sempre realizado para identificar todos os agentes que possam causar o processo clínico observado, tendo em conta que muitas patologias são multifactoriais, e que pode haver processos subjacentes. Para a autovacinação é necessário identificar variantes antigénicas sempre que possível e isolar em cultura todas as estirpes identificadas e caracterizá-las adequadamente. As estirpes serão retidas para que os lotes de autovacina possam ser produzidos conforme necessário.
2. Processo de fabricação
Dependerá do know-how de cada laboratório, mas em qualquer caso deve ser especificamente adaptado a um grande número de diferentes isolados bacterianos ou virais, serótipos, toxinas ou as suas combinações. Há uma série de etapas, cada uma delas com variáveis determinantes para a qualidade e eficácia do lote produzido. Demorará 4-6 semanas.
3. Protocolo de aplicação
Como qualquer outra vacina, as autovacinas devem ser integradas no programa de controlo sanitário da exploração, que deve ser aplicado correcta e continuamente seguindo as instruções do laboratório e do veterinário, a fim de observar os resultados a médio e longo prazo.
Podemos concluir que as autovacinas são mais uma ferramenta, por vezes essencial, que deve ser incluída nas estratégias de controlo sanitário. Desde que sejam prescritas após um diagnóstico correcto e completo e com uma aplicação adequada na exploração, são altamente eficazes na prevenção de muitos processos infecciosos, para além de serem rentáveis.