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Avaliação de pleurites suínas no matadouro

O matadouro é um bom ponto para a recolha de dados sobre o estado sanitário da exploração e uma valiosa ferramenta para a monitorização do efeito das medidas de controlo.

O Complexo Respiratório Suíno ainda é um dos principais desafios na indústria suína global e as lesões compatíveis com pneumonia enzoótica, caracterizadas por consolidação pulmonar crâneo-ventral e pleurite, são as descobertas mais frequentes nos pulmões suínos no matadouro. Por este motivo o matadouro é um bom ponto para a recolha de dados sobre o estado sanitário da exploração e uma valiosa ferramenta para a monitorização do efeito das medidas de controlo.

As lesões pleurais crónicas (PC) em concreto, podem ser detectadas no matadouro, devido a que a resolução de uma pleurite pode demorar 3 meses ou mais e, muito frequentemente não termina antes do abate (Andreasen et al., 2000). A principal causa de pleurite em porcos é Actinobacillus pleuropneumoniae, ainda que hajam outros agentes patogénicos bacterianos implicados, especialmente Haemophilus parasuis, Pasteurella multocida e Streptococcus suis (Meyns et al., 2011). A localização da pleurite pode ser crâneo-ventral ou dorso-caudal (fig. 1 e 2) estando delimitadas, ambas as áreas pelo ponto mais dorsal das fissuras inter-lobulares. As lesões pleurais crâneo-ventrais estão muito associadas a lesões compatíveis com pneumonia enzoótica, enquanto que as dorso-caudais são consideradas como sugestivas da recuperação de uma pleuropneumonia (Christensen and Enoe, 1999). O sistema de avaliação de pleurite no matadouro (Slaughterhouse Pleuritis Evaluation System, SPES) idealizado por Dottori et al. en 2007, apresenta cinco possíveis pontuações (Tabela 1) dependendo da extensão e localização das aderências pleurais e proporciona dois resultados principais: (1) O valor médio de SPES, ou seja, a soma da pontuação de cada pulmão/número de pulmões avaliados e (2) o índice de A. pleuropneumoniae (APPI), ou seja, a frequência de lesões de pleurite com uma pontuação de SPES ≥2 num lote multiplicado pela pontuação média de lesões de pleurite em animais com SPES ≥2.

Pulmón derecho de un cerdo. Pleuritis ventro-craneal crónica que afecta al lóbulo cardíaco y la parte craneal del lóbulo diafragmático. Pulmón izquierdo de un cerdo. Pleuritis dorso-caudal crónica que afecta la parte craneal del lóbulo diafragmático. Desprendimiento típico de la pleura.
Figura 1: Pulmão direito de um porco. Pleurite ventro-craneal crónica que afecta o lóbulo cardíaco e a parte craneal do lóbulo diafragmático. Figura 2: Pulmão esquerdo de um porco. Pleurite dorso-caudal crónica que afecta a parte craneal do lóbulo diafragmático. Desprendimento típico da pleura.

Tabela 1: A classificação SPES para avaliar a pleurite crónica (PC).

Puntuação Características da lesão
0 Ausência de lesões de PC
1 Lesão ventro-craneal: aderência pleural entre lóbulos ou na sua extremidade ventral
2 Lesão focal monolateral dorso-caudal
3 Lesão bilateral de tipo 2 ou monolateral extensa (pelo menos 1/3 de um dos lóbulos diafragmáticos)
4 Lesão bilateral muito extensa (pelo menos 1/3 de ambos os lóbulos diafragmáticos)

Desde Abril a Junho de 2008 procedeu-se à pontuação da pleurite crónica (PC) num total de 48 lotes (de cerca de 100 porcos cada um) de porcos pesados (160 kg peso matadouro, de 9–10 meses) utilizando a classificação SPES.

Foram recolhidas 20 amostras por cada exploração em animais de 80 kg e 20 amostras adicionais no matadouro para cada lote. Foi avaliada a seroprevalência de A. pleuropneumoniae.

Foram avaliados um total de 4.889 pulmões. A pleurite crónica (pontuação 1 de SPES) foi detectada em 2.322 (47,5%) pulmões. A pleurite dorso caudal (pontuação SPES ≥2), sugestiva de recuperação de pleuropneumonia, foi encontrada em 1.227 pulmões (25,1%). O valor médio de SPES de todos os pulmões foi de 0,83 (IC 95% 0,78–0,86), num intervalo de 0,04 a 1,87. A média de APPI de todos os lotes estudados foi de 0,61 (IC 95% 0,51–0,71), num intervalo de 0 a 1,84.

Estes resultados mostram que as lesões pleurais são detectadas frequentemente nos porcos de matadouro na Itália (47,5% dos pulmões avaliados) assim como as pleurites dorso-caudais que sugerem uma infecção prévia por A. pleuropneumoniae (25,1%). Estas prevalências elevadas coincidem com as descobertas prévias publicadas por outros autores em outras partes da Europa (Cleveland-Nielsen et al., 2002; Pagot et al., 2007; Marois et al., 2008; Meyns et al., 2011), ainda que sejam quase o dobro das registadas em Espanha (Fraile et al., 2010).

O valor médio de SPES, APPI e a percentagem de pulmões com uma pontuação SPES ≥ 2 foram associados à seroprevalência de A. pleuropneumoniae na exploração, confirmando a importância deste agente patogénico como agente causador de PC. Duas explorações que se revelaram seronegativas a A. pleuropneumoniae não mostraram lesões pleurais dorso-caudais confirmando a fiabilidade do método SPES. Não foi demonstrada correlação estatística entre a seroprevalência de A. pleuropneumoniae e a percentagem de pulmões com pontuação SPES = 1 (pleurite ventro-craneal), confirmando a hipótese de que só as lesões dorso-caudais de PC são sugestivas da recuperação de uma pleuropneumonia.

Para obter dados que permitissem conhecer a posição de um lote relativamente à população geral, desde Fevereiro de 2008 a Janeiro de 2011, foram avaliados com SPES os pulmões de 14.195 porcos pertencentes a 139 lotes. 42 % dos pulmões apresentaram pleurite crónica (pontuação SPES ≥ 1). Em 24 % foi encontrada pleurite dorso-caudal (pontuação SPES ≥ 2). As lesões com uma pontuação 2 foram observadas em 14,3 % e com pontuação 3 e 4 em 8,3 % e 1,6% dos porcos, respectivamente. O valor médio de SPES para todos os pulmões foi de 0,77. A média de APPI em todos os lotes foi de 0,60. Os valores de APPI foram organizados em quatro grupos: melhor grupo < 0,28; segundo melhor grupo, entre 0,28 e 0,53; grupo mau, entre 0,53 e 0,81 e pior grupo > 0,81 (fig. 3). A distribuição dos valores de APPI obtidos neste estudo foi usada para classificar um lote relativamente à população em geral.

Distribución de valores de APPI en cuatro grupos: APPI < 0,28 (mejor grupo); APPI de 0,28 a 0,53 (segundo mejor grupo); APPI de 0,53 a 0,81 (grupo malo); APPI > 0,81 (peor grupo).

Figura 3: Distribuição de valores de APPI em quatro grupos: APPI < 0,28 (melhor grupo); APPI de 0,28 a 0,53 (segundo melhor grupo); APPI de 0,53 a 0,81 (grupo mau); APPI > 0,81 (pior grupo).

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