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Relação entre biossegurança e características produtivas e de maneio nas explorações suínas

Foi realizado um estudo transversal em 232 explorações de ciclo fechado na Bélgica, França, Alemanha e Suécia durante um ano quantificando-se o estatuto de biossegurança através da ferramenta de pontuação de riscos Biocheck.

10 Maio 2017
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Artigo

The biosecurity status and its associations with production and management characteristics in farrow-to-finish pig herds. M. Postma, A. Backhans, L. Collineau, S. Loesken, M. Sjölund, C. Belloc, U. Emanuelson, E. Grosse Beilage, K. D. C. Stärk and J. Dewulf on behalf of the MINAPIG consortium. Animal (2016), 10:3, pp 478–489

 

Que estuda?

Foram avaliados os níveis de implementação de medidas de biossegurança na produção suína em quatro países da União Europeia. Também foram avaliadas possíveis associações entre o cumprimento da biossegurança e as características da exploração e da produção.

 

Como se estuda?

Foi realizado um estudo transversal em 232 explorações de ciclo fechado na Bélgica, França, Alemanha e Suécia durante um ano. O estatuto de biossegurança foi quantificado utilizando a ferramenta de pontuação de riscos Biocheck (www.biocheck.ugent.be), que diferencia entre riscos de biossegurança internos e externos. Uma maior pontuação indica melhores práticas de biossegurança e uma menor risco de introdução ou disseminação de doenças. As características produtivas ou da exploração foram obtidas a partir de entrevistas com a gerência e os produtores. Foi analisada a relação dos dados obtidos com o nível de biossegurança.

 

Quais os resultados?

  1. Muitas explorações de porcos têm um longo caminho para percorrer para melhorar a sua biossegurança.
  2. Foram observadas diferenças significativas entre países quanto à biossegurança interna ou externa. A pontuação da biossegurança externa foi, em geral, superior à da interna.
  3. A Alemanha teve a melhor pontuação em biossegurança externa, que inclui todas as medidas tomadas para prevenir a introdução de doenças, e a França a pior.
  4. A Suécia teve a maior pontuação em biossegurança interna, que inclui todas as medidas tomadas para prevenir a transmissão dentro da exploração, e a Bélgica a pior, com grande diferença.
  5. O número de agentes patogénicos contra os quais se fazia vacinação estava significativamente relacionado com o nível de biossegurança interno, sugerindo que a consciência do risco de transmissão de doenças conduz a aumentar a prevenção.
  6. Os níveis de biossegurança mais baixos estavam correlacionados com uma maior frequência estimada de tratamentos contra certos sinais clínicos.
  7. As explorações com mais porcas e, em consequência, com mais colaboradores são mais susceptíveis de ter um melhor sistema de biossegurança externa.
  8. Uma pontuação mais elevada na biossegurança externa foi relacionada a mais leitões desmamados/porca/ano (10 pontos mais de biossegurança externa comportavam 0,2 leitões adicionais).
  9. A idade ao desmame e a mortalidade pré-desmame estiveram altamente relacionadas com o número de leitões desmamados/porca/ano.

 

Que conclusões se extraem deste trabalho?

Os autores sugerem que ao conhecer melhor o impacto de uma biossegurança deficiente sobre a incidência de doenças e a produtividade se conseguirá uma mudança no comportamento. Uma melhoria na biossegurança e maneio, centrada na prevenção, deve permitir a redução do uso de antimicrobianos, melhora do estatuto sanitário e maior produtividade e bem-estar. É melhor prevenir que remediar!

 

<p>Enric Marco 1</p>
 A visão a partir do campo por Enric Marco

Há anos que se fala da importância da implementação de medidas de biossegurança e são inúmeros os artigos escritos que refletem o impacto que esta pode ter para evitar novos surtos de doença, especialmente no que se refere ao PRRS. Em geral, quando falamos de biossegurança, referimo-nos à biossegurança externa, a que protege a exploração da chegada de infecções do exterior. Só recentemente começou a preocupação com a biossegurança interna, aquela que ajuda a conter as doenças já presentes na exploração. O artigo põe em evidência alguns pontos que merecem uma reflexão:

  • Uma biossegurança externa aceitável nas explorações inquiridas, especialmente na entrada de animais. É animador verificar que um produtor pecuário está consciente do risco que acarreta a entrada de gado nas explorações. No entanto, os resultados também refletem que há ainda muito caminho a percorrer na implementação de medidas de protecção sanitária.
  • A observação de que as explorações com melhor biossegurança externa são as de maior tamanho, maior número de colaboradores e melhor produção evidencia que o produtor pecuário sabe o que pode perder com a chegada de novas infecções. Quanto maior é o investimento maior é a motivação para o proteger.
  • A biossegurança interna está depois da externa. É talvez o ponto mais preocupante. Não foi até há pouco tempo, com a pressão para reduzir o uso de antimicrobianos, que se começou a prestar-lhe atenção. A biossegurança interna não só ajuda a conter infecções bacterianas mas também víricas. A correcta compartimentação dos lotes e o trabalho independente entre eles é talvez um dos pontos mais importantes e um dos que pior pontuação obteve no inquérito. A produção em sistemas de integração facilita a compartimentação ao transferir os animais fisicamente para outra exploração mas para obter o máximo benefício do tudo dentro-tudo fora não se pode esquecer a aplicação de uma correcta higiene e desinfecção entre lotes.
  • As explorações que mais usam a vacinação são as que melhor pontuação obtém na biossegurança interna. A mudança para a prevenção conduz directamente a um maior uso de vacinas ao mesmo tempo que a uma melhor biossegurança interna pois são os únicos meios conhecidos para prevenir a doença

Seria interessante comparar os resultados do presente trabalho com outro realizado num futuro próximo (cerca de 5 anos). Muito possivelmente se verificaria que os resultados em biossegurança melhoram especialmente no que refere à biossegurança interna, constatando-se a relação entre esta e o uso de vacinas. Este deve ser o perfil da exploração de futuro, pois é o único modo eficiente de trabalhar num meio onde o uso de antimicrobianos em produção animal estará extremamente vigiado.

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