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Carne em excesso no mercado europeu pressiona descida do preço dos porcos

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A segunda quinzena do mês caracterizou-se por uma forte descida da cotação dos porcos na Bolsa do Porco. O total da descida foi 0,09€/kg carcaça

27 de Novembro de 2020

A segunda quinzena do mês caracterizou-se por uma forte descida da cotação dos porcos na Bolsa do Porco. O total da descida foi 0,09€/kg carcaça que se juntam aos anteriores 0,05€/kg de descida na primeira quinzena do mês, perfazendo um total de 0,14€/kg carcaça em todo o mês. Tem aumentado a oferta de porcos nacionais para abate e o peso também tem subido, fruto das excelentes condições climatéricas que temos tido em Portugal até agora.

Este aumento da oferta e alguma redução na venda de carne no mercado português, fruto das medidas de confinamento impostas pelo governo, levam a um excedente de oferta de porcos em relação à procura para abate. O encerramento dos restaurantes ao fim-de-semana tem implicado uma forte redução na procura de carne de porco (e já agora, de leitões para assar), que não é compensada pelo aumento dos consumos domésticos. É de notar que em Portugal, o mercado do leitão de assar é um mercado importante do qual dependem muitos produtores e que, não é nada normal haver pressão negativa neste mercado nesta época do ano, Bem pelo contrário. Veremos se o mercado consegue ter estímulos positivos que permitam aumento dos consumos deste produto pelo Natal.

Numa altura em que seria normal haver estabilização das cotações, sendo o prelúdio para as habituais subidas de Dezembro estimuladas pelo aumento dos consumos natalícios, este ano nada disto está a acontecer e veremos o que se irá passar com o Natal, visto que começa a haver alguns discursos dos responsáveis do país que dão a entender que, provavelmente, não irão permitir que as famílias se juntem nessa época. Sem dúvida que 2020 é um ano atípico em todos os sentidos do termo.

No norte da Europa, mas concretamente na Alemanha e na Dinamarca, com o aumento dos casos de Covid entre trabalhadores dos matadouros e das salas de desmancha há menos gente disponível para trabalhar, para além das medidas impostas internamente de aumento da distância entre trabalhadores já ter reduzido o número de pessoas a trabalhar nessas unidades. Esta redução na cadência de abate e desmancha coloca graves problemas ao nível do escoamento de porcos das explorações. Ou seja, aumento da oferta de porcos e redução da procura para abate o que implica aumento dos pesos de abate.

Por outro lado, a China mantém a proibição da entrada de carne da Alemanha, não só devido aos casos de Covid entre os trabalhadores, mas também devido à existência de Peste Suína Africana no país. Esta proibição chinesa também se estendeu à carne de porco dinamarquesa originária de alguns matadouros da Danish Crown (representa cerca de 90% dos abates de suínos na Dinamarca), devido ao aumento de casos de Covid entre os trabalhadores.

Ora, esta proibição de exportação para a China de dois dos maiores produtores de porcos de carne de porco na Europa leva a que esta carne tenha que ser vendida e consumida no mercado interno da U.E.. Este aumento da oferta de carne a preços muitos baixos, implicou uma forte descida de todas as cotações nesta segunda quinzena do mês.

Mesmo em Espanha, que é o país que está a fornecer grandes quantidades de carne de porco à China, ocupando parte do espaço deixado vago pela Alemanha e pela Dinamarca, a cotação viu-se “obrigada” a descer até porque nem todos os matadouros e salas de desmancha do país vizinho estão autorizados a exportar para a China e a sua carne terá que competir no mercado interno da U.E. com a carne barata dos países do norte.

A China sabe que é um mercado importante para a carne de porco europeia e faz-se valer dessa situação. Quanto mais proibições impuser, mais barata comprará a carne na Europa e mais dificuldades criará no nosso mercado. Uma coisa é certa, a cotação dos porcos no mercado chinês tem vindo a baixar e de forma significativa nos últimos 2 meses.

Por outro lado, a própria China anuncia que está a aumentar os efectivos de porcas e, em consequência, o efectivo de abate. Os chineses anunciam que no próximo ano estarão a 80% do nível do efectivo que tinham a 2017, antes de ter aparecido a PSA. Será mesmo assim? Continuam a aparecer focos de PSA nas explorações chinesas e creio que não ficará por aqui. Independentemente de haver um maior número de grandes explorações onde está a ser reposto o efectivo, será provável que nalgumas delas, por muito boas medidas de biossegurança que existam, possam voltar a existir nos focos de peste que obriguem ao abate de todo o efectivo. Isto passava-se em Portugal nos idos tempos da Peste, nos anos 60,70 e 80 do século passado. Estamos na segunda década do século XXI, as medidas e o conhecimento é diferente, mas o vírus da Peste não alterou o seu comportamento.

Em todo o caso, há um dado positivo no mercado europeu (veremos se será positivo ou não) que é o regresso da Bélgica ao estatuto de livre de Peste Suína Africana. Esta decisão da Comissão Europeia, respaldada pela OIE, poderá permitir que a carne de porco belga possa, de novo, ser exportada para fora do espaço comunitário e isto poderá trazer um ligeiro alívio da pressão sobre o mercado interno da carne.

Em Espanha a cotação desceu 0,074€/kg P.V. (-0,099€/kg carcaça) na segunda quinzena de Novembro para 1,165€/kg PV (1,553€/kg carcaça). O peso subiu cerca de 300g nesta quinzena o que demonstra que se está a atingir algum equilíbrio entre a oferta e a procura no mercado espanhol, fruto do nível record dos abates no país vizinho.

A Alemanha, que manteve durante 9 semanas a sua cotação de forma artificial, viu-se obrigada a seguir a tendência de mercado dos seus vizinhos (Dinamarca, Holanda e Bélgica) e teve que descer com significado a sua cotação. Assim, a cotação desceu 0,08€/kg carcaça para 1,19€/kg carcaça. Os pesos subiram 300g nesta quinzena para os 99,2kg.

Na Holanda a cotação desceu 0,09€/kg carcaça para 1,25€/kg carcaça. Os holandeses esperam que, após a descida significativa da cotação, que esta se possa manter estável nas próximas semanas. Os pedidos chineses de carne de porco à Holanda começam a reduzir-se, o que é um entrave ao bom desenrolar do mercado.

Na Bélgica a cotação desceu 0,11€/kg PV e passou para 0,71€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação desceu 0,07€/kg carcaça passando a cotação para 1,25€/kg carcaça. Como vimos acima, o mercado dinamarquês está bastante pressionado em virtude do aparecimento de trabalhadores positivos em alguns matadouros naquele país. Apesar de se estar a aproximar o Natal, que é um período de aumento de vendas de carne, este ano ainda não se notou esse aumento de procura e não se sabe se se irá notar. A pouco e pouco a actividade de abate vai voltando ao normal e esta semana “só” havia uns 180 mil porcos atrasados para abater.

Em França, a cotação desceu 0,074€/kg carcaça fixando-se em 1,218€/kg carcaça. Os pesos subiram 800g para os 96,5kg (300 gramas abaixo do peso da mesma semana de 2019). O mercado francês está sob a influência das medidas de confinamento impostas pelo seu governo, que levaram ao encerramento dos restaurantes e este facto reduz a procura de carne que por sua vez se vê pressionada pela oferta barata do norte da Europa. A juntar a toda esta dificuldade, houve algum atraso no abate de porcos já que o feriado de dia 11 levou a existência de menos 1 dia de abate.

Vamos entrar no último mês do ano, que em Portugal é um mês de elevado consumo de carne de porco. Este ano estamos perante uma total incógnita já que ninguém sabe o que irá ser imposto pelas autoridades no que diz respeito à celebração do Natal. Teremos que aguardar mais um par de dias para ver com o que contamos.

Comentários ao artigo

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27-Nov-2020 correia.6Boa informação
parabéns
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