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Caso clínico: Caso Agudo de PRRS

Descrição da Exploração O presente caso apareceu numa exploração de ciclo fechado de 110 Este caso descreve o aparecimento de um caso agudo de PRRS ocorrido numa exploração francesa.

Descrição da Exploração


O presente caso apareceu numa exploração de ciclo fechado de 110 porcas situada numa zona de elevada densidade suína da Bretanha francesa.

Trata-se de uma exploração nova que foi repovoada há 6 anos a partir de primíparas de substituição indemnes de PRRS e de Mycoplasma.

Tanto as primíparas de substituição como as doses para IA são adquiridas no exterior. Durante os 10 meses anteriores ao aparecimento do caso a exploração mudou 3 vezes a origem das primiparas

O maneio realiza-se em 3 bandas e o desmame aos 28 dias.

O alimento é comprado. A água procede da rede.

Na exploração trabalha um casal. Ambos são extremamente rigorosos desde o ponto de vista de biossegurança interna = gestão das agulhas e maneio "para a frente".


Estatuto sanitário

  • PRRS: negativa após o repovoamento.
  • Actinobacillus pleuropneumoniae: negativo para os serotipos 2 e 1-9-11.
  • Doença de Aujeszky: negativo.
  • Mycoplasma hyopneumoniae: ausência de clínica após o repovoamento.
  • Sarna sarcóptica: positiva.

Profilaxias realizadas

  • Parvovirose: porcas e primíparas.
  • Mal rubro: porcas e primíparas.
  • Clostridiose: porcas e primíparas.
  • Ivermectina: porcas e primíparas.

Aparecimento do Caso

Em Fevereiro de 2007 o suinicultor, muito preocupado, entra em contacto com o veterinário devido ao aparecimento de problemas respiratórios importantes na engorda. Em 6 anos só tinha aparecido um caso que se solucionou de forma rápida (unicamente tratado com antipiréticos).

Esta vez, apesar de um tratamento com paracetamol, a tosse na engorda não regride.

Os casos apareceram em Agosto de 2006. Nesse momento o veterinário ainda não conhecia a exploração.


Primeiros resultados das análises realizadas em Setembro de 2006



O veterinário pede ao suinicultor se lhe permite ver análises prévias com o objectivo de preparar melhor a visita.

Analizam-se os resultados das análises efectuadas por um colega em inícios de Setembro, 2 a 3 semanas após o início dos casos clínicos e discutem-se as medidas tomadas.

Serologias às reprodutoras em gestação

Animal
Serologia para PRRS
Primíparza 1
Negativo
Primípara 2
Negativo
Primípara 3
Negativo
Primeriza 4
Negativo
Primípara 5
Negativo
Primípara 6
Negativo
Primípara 7
Negativo
Primípara 8
Negativo
Porca de 2º parto
Negativo
Porca de 4º parto
Negativo
Porca de 6º parto
Negativo
Porca de 4º parto
Negativo
Porca de 5º parto
Negativo
Porca de 3º parto
Negativo
Porca de 2º parto
Negativo

Todas as serologias são negativas contra a PRRS


Serologias aos porcos

Animal
Serologia PRRS
Mycoplasma hyopneumoniae
Porco 70 d
Negativo
NR
Porco 70 d
Negativo
NR
Porco 70 d
Negativo
NR
Porco 70 d
Negativo
NR
Porco 70 d
Negativo
NR
Porco 110 d
Negativo
NR
Porco 110 d
Negativo
NR
Porco 110 d
Negativo
NR
Porco 110 d
Negativo
NR
Porco 110 d
Negativo
NR
Porco 160 d
Negativo
Positivo
Porco 160 d
Negativo
Positivo
Porco 160 d
Negativo
Positivo
Porco 160 d
Negativo
Negativo
Porco 160 d
Negativo
Dudoso
Porco 160 d
Negativo
Negativo
Porco 160 d
Negativo
Positivo
Porco 160 d
Negativo
Negativo


Controlo no matadouro e análises da amostra de pulmão recolha no matadouro

Em inícios de Outubro de 2006 realizou-se um controlo em 50 pulmões no matadouro (pontuação em 28). Os resultados foram muito maus:

% pulmões pontuação 0
21%
% pulmões com fortes lesões (>5)
34%
Pontuação média
6,7
% pleuresias
0

Um pulmão representativo deste controlo foi enviado para o laboratório para histologia e bacteriologia. A bacteriologia só mostrou uma leve presença de Pasteurella multocida (código de quantificação: 1 a 10 colónias).


A histologia chegou à seguinte conclusão:

"Alveolite serocelular extensa: macrófagos alveolares, linfócitos e plasmócitos essencialmente, alguns polinucleados. Em alguns locais, houve uma ligeira hiperplasia de pneumócitos tipo 2. Inflamação mononuclear peribronquial difusa e às vezes nodular. Resumo: associação de lesões que sugerem uma origem viral e alguns nódulos linfóides que sugerem origem micoplásmico".

Primeiras Medidas Tomadas




Devido a estes diferentes resultados, propõe-se ao suinicultor:

  • vacinar contra o Mycoplasma no momento do desmame e 3 semanas depois.
  • suplementar o alimento de primeira idade com colistina, tilmicosina e vermifugo.

Visita à Exploração em Fevereiro de 2007



Quarentena

  • A quarentena encontra-se isolada da exploração, as primíparas entram em lotes de 8 a cada 6 semanas (cada entrega permite a renovação de uma banda).
  • O maneio realiza-se tudo dentro/tudo fora com limpeza e desinfecção entre lotes.
  • Os dois últimos lotes de primíparas procedem de um multiplicador do Sul de França. São indemnes para PRRS, Mycoplasma e Actinobacillus.
  • Os dois lotes anteriores procediam de um multiplicador da zona da Bretanha francesa com um nível de garantia desconhecido pelo suinicultor.
  • Antes destas duas procedencias, as primíparas eram procedentes de um multiplicador que tinha realizado um repovoamento.
  • Não se observam sinais patológicos durante i dia da visita nem tampouco há nenhum tipo de historial assinalado pelo suinicultor.

Gestantes

  • Os resultados reprodutivos são bons: >90% de fertilidade e 12 desmamados durante o segundo semestre de 2010.
  • Houve um parto antes de tempo um mês antes da visita mas não se observaram abortos.
  • Durante o decurso da vista detectaram-se tosses.
  • Não se observou nada mais que fosse anormal.

Maternidade

  • A banda observada pariu há 3 semanas.
  • Os resultados são correctos: cerca de 11,5 a 12 desmamados segundo a banda.
  • Os leitões são homogéneos, observam-se algumas tosses (aproximadamente 3% de tosse em 2 min) em leitões relativamente disseminados na sala de maternidade.

Baterias

  • Durante a visita observa-se uma única banda de leitões de uns 70 dias de vida.
  • Estes leitões foram submetidos ao novo plano profilático (vacinação e suplementação na dieta de primeira idade)
  • Contudo, o suinicultor mostra-se muito preocupado já que os sinais clínicos observados chegado às baterias desde precisamente esta banda e desde os 40-45 dias de vida: tosse importante (8%), atrasos no crescimento.

Engorda

  • Os sinais observados são os mesmos para as 3 idades observadas (112, 154 e 196 dias) inclusive nos porcos de 112 dias submetidos já ao novo programa:
    • tosse (de 4 a 9% segundo as salas).
    • aumento de 2 pontos na mortalidade.
    • heterogeneidade e atrasos no crescimento.
    • em relação a este tema, ficam porcos da banda de 196 dias considerando que é habitual, os últimos crescem muito mais rápido.

Medidas após a visita



Tendo em conta a evolução desfavorável observada durante a visita, o veterinário decide, junto com o suinicultor, recolher amostras de sangue de:

  • 20 porcas gestantes de diferente número de parto.
  • 10 leitões de 70 dias de vida (um por parque já que as baterias estão divididas em 10 parques).

Resultados das Análises



Resultados da ELISA para Mycoplasma:

nas amostras de soro das porcas:

nas amostras de soro dos leitões:


Resultados para PRRS:

  • Porcas: 4 porcas em 20 são positivas.
  • Leitões: todos os leitões nas baterias são seropositivos.

Conclusão das análises

  • A exploração encontra-se contaminada com o virus do PRRS, é instável e encontra-se activo.
  • A situação encontra-se muito degradada desde o ponto de vista do Mycoplasma com uma circulação activa nos leitões.

Objectivos Fixados e Plano de Trabalho



Objectivos definidos:

O objectivo do suinicultor, evidentemente, é tratar de resolver os problemas clínicos a curto prazo assim como melhorar os resultados técnicos.

A médio prazo o objectivo do suinicultor é voltar à situação inicial, ou seja, sem vacinação contra Mycoplasma e PRRS.

Plano de trabalho

Tendo em conta a urgência a curto prazo e os objectivos a médio prazo, o veterinário propõe:

  • Plano de estabilização para o PRRS baseado numa continuação do rigor da biossegurança interna e o arranque de um plano de vacinação em massa contra o PRRS (porcas, transição e engorda).
  • Uma auditoria da biossegurança externa.
  • Arranque da vacinação contra o Mycoplasma das porcas e novo enfoque da vacinação nos leitões.


Evolução dos Resultados



Aos 6 meses

Clínica

  • em Outubro de 2007 realiza-se uma avaliação clínica.
  • Os resultados reprodutivos são bons.
  • Ausência de clínica respiratória em todas as fases.

GTE (Programa de Gestão Técnica e Económica)

Estas observações são confirmadas pelos resultados da GTE:

01/09/06 – 30/06/07
01/07/07-31/10/07
Porcos produzidos/porca/ano
22,6
22,6
Kgs vivos/porca
2480
2391
IC global
2,75
2,72
Idade 30 kg
74 d
71 d
Idade 115 kg
174 d
163 d
GMD 8-30
490
507
IC 8-30
1,39
1,43
Perdas Baterias
1,4
0,7
GMD 30-115
851
929
IC 30-115
2,66
2,63
Perdas engorda
5,6
3,2

Lesional

em Dezembro de 2007 realizou-se um controlo no matadouro onde se observou:

  • 89% de pulmões indemnes.
  • pontuação média de 0,54/28.
  • 3% de lesões extensas.
  • 0% de abcessos.

Serologias

Um controlo de estabilidade para o PRRS realizou-se em Dezembro de 2007 e Maio de 2008 que mostrou:

  • uma ausência de circulação viral na gestação e maternidade (leitões ao desmame, primíparas sentinela e porcas= tudo negativo).
  • uma ausência de circulação viral nas baterias e engorda até aos 160 dias de vida (idade de saída).

Os soros foram todos negativos para Mycoplasma também nos leitões = a vacinação foi, portanto, suspensa nos leitões.

Aos 3 anos

Clínica

  • 3 anos depois deste episódio, não houve nenhum episódio respiratório na engorda com necessidade de tratamento curativo.

GTE

GTE 1º semestre 2009
Porcos produzidos/porca/ano
23,7
Kgs vivos/porca
2886
IC global
2,77
Idade 30 kg
62 d
Idade 115 kg
158 d
GMD 8-30
635
IC 8-30
1,41
Perdas Baterias
0,3
GMD 30-115
882
IC 30-115
2,7
Perdas engorda
2,5

Lesional

em Novembro de 2009 realizou-se um novo controlo no matadouro observando:

  • 88% de pulmões indemnes.
  • Pontuação média de 0,21/28.
  • 2% de lesões extensas.
  • 1% de abcessos.

Serologias

  • Hoje em dia a exploração continua a ser seronegativa na engorda para PRRS.
  • As porcas são vacinadas contra PRRSV sempre com uma vacina inactivada dada a localização geográfica da exploração. As porcas são vacinadas sempre contra o Mycoplasma, mas nem sempre os leitões.


Comentários



O presente caso, que descreve um caso agudo de PRRS, apareceu numa exploração de engorda de 110 porcas situada numa zona de elevada densidade suína da Bretanha francesa.

  • Na actualidade, encontrar explorações na fase aguda de PRRS é pouco frequente.
  • Igualmente, o diagnóstico é frequentemente complicado já que a recolha de amostras destinadas a serologia deve ter em conta a possível interferência com os anticorpos induzidos pela vacinação (especialmente nas porcas mas também devemos estar atentos em relação aos anticorpos maternos que podem persistir inclusive, por vezes, mais de 70 dias idade).
  • neste sentido, não foi este o caso mas pelo contrário, outros pontos foram considerados com vista ao diagnóstico do PRRS:
    • Este virus, que, repetimos frequentemente, é muito infeccioso (fazem falta poucos virus para contaminar um animal e causar doença), mas pelo contrário pouco contagioso (neste caso pode-se apreciar bem, 4 meses depois do início dos problemas só 4 de 20 porcas eram positivas).
    • Após a infecção, necessita-se de um prazo de 2 a 4 semanas para que os animais desenvolvam anticorpos detectáveis por serologia. As primeiras amostras de sangue recolhidas em Setembro de 2007 não foram suficientes para excluír o PRRS, mais ainda dado o contexto deste caso.
  • Este caso ilustra também a perfeita "associação de malfeitores" que representa a co-infecção Mycoplasma-PRRS:
    • Não é absolutamente claro que os animais foram seronegativos para Mycoplasma antes da contaminação pelo PRRS.
    • O que é seguro é que a infecção viral permitiu ao Mycoplasma mostrar-se da maneira como se apresentou, tanto na maternidade como nas baterias e engorda.
    • O facto de vacinar as porcas decidiu-se tendo em conta os objectivos fixados pelo suinicultor, ou seja, acabar a médio prazo com a vacinação dos leitões.
    • O maneio a 3 bandas associado ao rigor da biossegurança interna permitiu ao plano ter êxito.
    • O tipo de maneio em banda por si só não permite melhorar significativamente o nível sanitário de uma exploração. Também deve incluír um bom conhecimento do estado sanitário da maternidade e um sistema de maneio de "marcha para a frente" adequado.

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