Aproximadamente, 80% dos 120 milhões de porcos machos que se abatem na União Europeia todos os anos são castrados (EFSA, 2004). O motivo principal é evitar o odor sexual, presente na carne de alguns machos inteiros quando chegam à puberdade. O olor sexual é um defeito sensorial (de odor e gosto) da carne, que é entendida como desagradável pelo consumidor durante o seu cozinhado ou ingestão (Font i Furnols et al., 2001). As principais moléculas responsáveis por este defeito são a androstenona e o escatol. A androstenona é um esteróide anabolizante que se produz nas células de Leydig do testículo em resposta à estimulação feita pela hormona luteinizante (LH). O escatol é um metabolito da degradação anaeróbica do triptófano que se produz no colón distal. Geralmente, a quantidade de escatol é inferior em fêmeas e machos castrados do que em machos inteiros. Isto é devido a que as hormonas sexuais dos machos inteiros inibem o sistema enzimático responsável pela degradação e eliminação do escatol no fígado.
Actualmente, a castração realiza-se cirurgicamente, sem anestesia e durante a primeira semana de vida do animal. Este procedimento implica a sujeição e imobilização do leitão, a incisão do escroto com um bisturí, a exposição do testículo e o seccionamento ou arrancamento do cordão espermático (Figura 1). Apesar de que é um procedimento rápido (menos de 30 s), induz no leitão uma série de alterações fisiológicas e comportamentais claramente indicativos de dor e stress (Prunier et al., 2006).
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Figura 1: Castração cirúrgica. EFSA (2004). |
No suíno, as vocalizações de alta frequência (>1000 Hz) associam-se com a dor. Taylor et al. (2001) compararam o número deste tipo de vocalizações emitidas por leitões de 3, 10 e 17 dias de idade submetidos a uma castração cirúrgica ou a uma castração fingida (sujeição e imobilização, mas sem ser castrados). Os animais castrados mostraram um maior número de vocalizações que os não castrados, e portanto, uma maior dor (Figura 2). Por sua vez, o número de vocalizações foi superior em leitões de 10 e 17 dias que em leitões de 3 dias, mas tanto durante o processo de castração como de castração fingida. Estes dados sugerem que a castração cirúrgica sem anestesia é dolorosa em qualquer idade, e que o maior número de vocalizações em animais maiores de uma semana é consequência do aumento da capacidade de vocalização e não de uma maior sensibilidade à dor, como se tinha sugerido no passado. Após a castração, as hormonas ACTH e cortisol, que são indicadoras de stress, aumentam 40 e 3 vezes respectivamente acima da sua concentração basal (Prunier et al., 2005). Esta alteração fisiológica é também indicativa de dor e stress. De todo o processo, a parte mais dolorosa é a exposição dos testículos e o corte do cordão espermático.
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Figura 2. Efeito da castração sobre o número de vocalizações emitidas em leitões durante a operação. (Adaptado de Marx et al., 2003) |
A dor pós-cirúrgica pode prolongar-se durante 5 dias. Durante este tempo, os leitões castrados apresentam sinais de dor na zona afectada, permanecendo menos tempo activos. Igualmente, diminuem os comportamentos de brincadeira e de actividade na glândula mamária, quer seja mamando ou massajando para a seguinte ingesta de leite. A castração cirúrgica sem anestesia também tem efeitos negativos sobre o crescimento do animal, o sistema imunitário e a saúde (EFSA, 2004).
Devido a que a castração cirúrgica sem anestesia provoca dor e tem efeitos negativos sobre o crescimento e a saúde dos porcos, alguns países Europeus já adoptaram medidas para proibir esta prática. A Noruega proibiu a castração de leitões a partir de 2009, e desde 2002, é obrigatório o uso de anestesia e analgesia durante a castração. A Suiça também proibiu a castração cirúrgica sem anestesia a partir de 2009. A União Europeia está à procura de alternativas à castração sem anestesia que eliminem o odor sexual sem provocar sofrimento no animal.
Antonio Velarde (1) e Xavier Manteca (2) - (1) Grupo de Bem-estar Animal, IRTA-Monells (2) Facultad de Veterinaria, UAB