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Caso clínico: Circovirus

Esta caso retrata bem como o circovirus pode causar graves problemas e elevada mortalidade numa exploração

3 Setembro 2007
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Descrição da Exploração



Este caso aparece numa exploração de 800 porcas em ciclo fechado situada numa zona de França com baixa densidade suína.


A exploração encontra-se claramente dividida em duas partes: zona de partos e zona de transição-engorde. Se bem que as duas partes só se encontrem separadas várias dezenas de metros, o maneio está totalmente separado, utilizando duas equipas de pessoal diferentes.

A exploração realiza um maneio em 20 bandas com desmame às 3 semanas.
A substituição realiza-se a cada 6 semanas com primíparas F1 que são alojadas numa quarentena separada dos outros pavilhões.
Utiliza-se alimentação líquida que se fabrica na própria exploração.


Aparecimento do Caso



Este caso aparece numa exploração de 800 porcas em ciclo fechado situada numa zona de França com baixa densidade suína.


A exploração encontra-se claramente dividida em duas partes: zona de partos e zona de transição-engorde. Se bem que as duas partes só se encontrem separadas várias dezenas de metros, o maneio está totalmente separado, utilizando duas equipas de pessoal diferentes.

A exploração realiza um maneio em 20 bandas com desmame às 3 semanas.
A substituição realiza-se a cada 6 semanas com primíparas F1 que são alojadas numa quarentena separada dos outros pavilhões.
Utiliza-se alimentação líquida que se fabrica na própria exploração.


Dados Zootécnicos



Antes de realizar a visita in situ, o veterinário estuda os seguintes dados da exploração:

Resultados técnicos

Reprodução Fertilidade 93%
Indice de partos 90%
Nascidos totais 14,2
Nascidos vivos 13
Desmamados 11,5
Transição-Engorda GMD transição 450 g/d
GMD engorda 770 g/d (30-110 kg)
Mortalidade transição 1,5%
Mortalidade engorda 8,5%

Estatuto sanitário das primíparas F1

Actinobacillus pleuropneumoniae 1-9-11 e 2
Indemnes
PRRS
Indemnes
Aujeszky
Indemnes
Peste suína
Indemnes
Mycoplasma hyopneumoniae
Indemnes
Lawsonia intracellularis
Portadoras

Resultados dos controles realizados no matadouro

Pulmões: pontuação média de 3,5/28 mas com um 5% de pleuresia.
Pontuação para os focinhos: 4/20.

Plano de profilaxia actual

Vacinação porcas
Primíparas: Rinite (2) + Parvovirus (2) + Mal Rubro (2) + Colibacilose (2)
Porcas: Doses de rappel para Rinite + Parvovirus + Mal Rubro + Colibacilose
Vacinação leitões
Desde há 2 anos que se realiza a vacinação contra Mycoplasma ao desmame.
Prevenção antibiótica leitões
Após o desmame incorpora-se na água de bebida uma associação de colistina + tilosina durante 5 dias


Visita à Exploração



Durante a visita realizam-se as seguintes observações:

Pavilhão de partos

  • As medidas de higiene são óptimas: limpeza dos corredores e das celas...
  • Maneio das porcas por salas: existem muitas salas mas não correspondem a uma sala por banda, a exploração encontra-se, pois, muito mais dividida que outras explorações.
  • Na maternidade observa-se um peso baixo dos leitões (abaixo dos 6 kg para leitões desmamados às 3 semanas de vida) apesar do bom apetite das porcas durante a lactação e de uma curva que parece correcta. Contudo, observa-se como durante os 2 primeiros dias de lactação algumas porcas têm os tetos um pouco inflamados.
  • Na maternidade observam-se alguns casos de inicio de epidermite em alguns leitões antes do desmame, em particular em duas ninhadas de primíparas.
  • É de salientar que as adopções são raras e que se realizam só entre porcas da mesma paridade.

Pavilhão de transição-engorda

Até 21 dias post-desmame
  • Condições ambientais boas (temperatura, ventilação)
  • Não se observam sintomas
Dos 21 dias post-desmame aos 70-77 dias de vida
  • Se bem que a maioria dos leitões apresentem um bom estado corporal, alguns estão um pouco mais magros sem estarem fracos e apresentam porcas mais endurecidas.
  • Não se observa presença de diarreias sobre a slat.
  • Detectam-se numerosos espirros mas sem a presença de tosse.
Dos 70-77 dias de vida ao final da engorda
  • Porcos com grande atraso do crescimento, muitos dos quais já eram porcos magros na fase de post-desmame.
  • Diarreias crónicas sobretudo durante o primeiro mês de engorda.
  • Detecta-se 1 caso de dermatite e nefropatia (confirmação durante a necropsia).


Conclusões após a Visita e Medidas Tomadas



Segundo as observações realizadas, existem várias patologias presentes na exploração:

Patologias Indices
Patologia respiratória de tipo APP ou Pasteurella Historial da exploração e resultados no matadouro,
Patologia digestiva de tipo ileite ou colite diarreias, necropsias anteriores, estatuto positivo das primíparas para Lawsonia, PMWS,
Patologia devida a circovirus tipo 2 dermatite e nefropatia

Para não atacar todos as frentes e propôr uma profilaxia realmente difícil decidiu-se, pôr em contacto com os animais na fase de transição e engorda, 12 leitões sentinela com o objectivo de detectar a patologia aguda principal e estudar a circulação dos principais patógenos.


Acompanhamento das Medidas



No dia 0 introduzem-se 12 leitões sentinela de 28 dias de idade com o seguinte estatuto sanitário (exploração de origem):

Aujeszky Indemne
Peste suína Indemne
PRRS Indemne
Mycoplasma Indemne
APP Indemne (APX4 nos reprodutores)
Pasteurella multocida Indemne
Lawsonia Incerto (sem ileite diagnosticada mas com algumas serologias positivas no final da engorda)
Circovirus tipo 2 Sem evidências de PMWS mas com serologias positivas

Dia 0 a 1 mês: adaptação às baterias

Observa-se reacção num único animal sentinela com início de atraso no crescimento, presença de tosse e um aspecto mais anémico em comparação com os demais porcos. Decide-se necropsiar o animal doente observando unicamente lesões no aparelho respiratório com ligeira atrofia dos cornetos (pontuação 3/20) e presença de pus enquanto que não há nada a destacar em relação aos pulmões.

Sobre este animal se realiza también una bacteriología cuyos resultados son los siguientes:

- Isolamento de Haemophilus parasuisno nariz, traqueia, bronquios e amígdalas

Antibióticos
Interpretação (*)
S
I
R
* Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
X
Espectinomicina
X
* Betalactâmicos-Aminopenicilinas
Amoxicilina
X
* Betalactâmicos-Cefalosporinas
Ceftiofur
X
* Vários
Tiamulina (indicação CEVA)
X
* Fluoroquinolonas
Marbofloxacina
X
Enrofloxacina
X
* Macrólidos
Tilosina
X
Espiramicina
X
Tilmicosina
X
* Macrólidos Lincosamidas
Lincomicina
X
* Fenicóis
Florfenicol
X
* Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
X
* Sulfamidas (associação)
Trimetoprim + sulfamidas
X
* Tetraciclina
Doxiciclina
X
Tetraciclina
X
(*S : sensível – I : intermédio– R : resistente)

- Isolamento de Bordetella bronchiseptica no nariz

Antibióticos
Interpretação (*)
S
I
R
* Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
X
Espectinomicina
X
* Betalactâmicos-Aminopenicilinas
Amoxicilina
X
* Betalactâmicos-Cefalosporinas
Ceftiofur
X
* Vários
Tiamulina
X
* Fluoroquinolonas
Marbofloxacina
X
Enrofloxacina
X
* Macrólidos
Tilosina
X
Espiramicina
X
Tilmicosina
X
* Macrólidos Lincosamidas
Lincomicina
X
* Fenicóis
Florfenicol
X
* Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
X
* Sulfamidas (associação)
Trimetoprim + sulfamidas
X
* Tetraciclinas
Doxiciclina
X
Tetraciclina
X

- Isolamento de Streptococcus suis tipo 7 no nariz

Exames complementares:

’ Circovirus tipo 2 mediante PCR em diferentes orgãos: Negativo
Lawsonia intracelullaris ao nível do ileon: Negativo

Dia 30: primeiro controle serológico dos sentinelas (inclui sentinela doente)

Agente patógeno
Resultados
Número
APP 1-9-11
Negativo
12/12
APP2
Negativo
12/12
Mycoplasma hyopneumoniae
Negativo
12/12
Haemophilus parasuis
Negativo
10/12
Duvidoso
2/12
Lawsonia intracellularis
Positivo
3/12
Duvidoso
3/12
Negativo
6/12



Fim do Acompanhamento



O acompanhamento dos sentinelas dura 4 meses.

Período compreendido entre o dia 1 e 3 meses: fim das baterias e início da engorda

Durante este período um animal sentinela apresentou sintomas de sindroma da reduão do crescimento e anemia morrendo ao cabo de vários dias, ocorrendo durante o período de engorda dois meses e meio após a entrada. Não se efectuou nenhuma necropsia mas segundo o suinicultor, os sintomas observados correspondiam aos registados na exploração.

Período compreendido entre o 3º e 4º mês: final da engorda

Um novo animal sentinela, com sintomas de emagrecimento (não come) e palidez, morre ao cabo de uns dias. Segundo o suinicultor, os sintomas observados foram semelhantes aos detectados no primeiro sentinela que morreu um mês antes.

Necropsia realizada ao segundo sentinela 24 h após a morte

O animal apresentava aspecto pálido, sindroma da redução de crescimento mas às 24 h não estaba inchado.

Aparelho respiratório Pulmão Algumas lesões de pneumonia sobre os lóbulos apicais (4/28)
Edema interlobular visível apesar de terem passado 24 h post-mortem
Gânglios traqueobronquiais reactivos
Nariz Atrofia dos cornetos (6/20)
Outros orgãos Lesões importantes no baço: zonas com necrose
Gânglios inguinais médios reactivos
Coloração dos rins similar a nefrite
Sem lesões no ileon e intestinos apesar das 24 h post-mortem



A presente tabela faz pensar em lesões de circovirose e rinite. Devido ao tempo passado entre a morte e a necropsia não se realizou nenhuma análise complementar.

4º mês: segundo controle serológico dos sentinelas ainda presentes (9 animais)

Agente patógeno
Resultados dia 30
Resultados 4 mês
APP 1-9-11
Negativo 12/12
Negativo 9/9
APP2
Negativo 12/12
Negativo 9/9
Mycoplasma hyopneumoniae
Negativo 12/12
Positivo 6/9
Haemophilus parasuis
Negativo 10/12
Negativo 3/9
Duvidoso 2/12
Positivo 6/9
Lawsonia intracellularis
Positivo 3/12
Positivo 9/9
Duvidoso 3/12
-
Negativo 6/12
-

Análise de hisopos nasais de 5 porcos sentinela presentes

Agente patógeno
Resultados
Bordetella bronchispetica
3/5
Pasteurella multocida no toxigénica
2/5

Antibiograma de Pasteurella multocida

Antibióticos
Interpretação (*)
S
I
R
* Aminósidos
Gentamicina (10 UI)
X
Espectinomicina
X
* Betalactâmicos-Aminopenicilinas
Amoxicilina
X
* Betalactâmicos-Cefalosporinas
Ceftiofur
X
* Vários
Tiamulina
X
* Fluoroquinolonas
Marbofloxacina
X
Enrofloxacina
X
* Macrólidos
Tilosina
X
Espiramicina
X
Tilmicosina
X
* Macrólidos Lincosamidas
Lincomicina
X
* Fenicóis
Florfenicol
X
* Quinolonas de 1ª geração
Flumequina
X
* Sulfamidas (associação)
Trimetoprim + sulfamidas
X
* Tetraciclina
Doxiciclina
X
Tetraciclina
X


Diagnóstico e Conclusão



Elementos de diagnóstico

A nível clínico durante a visita à exploração:

  • Porcos pálidos com morte súbita: hipótese de ileite hemorrágica
  • Porcos com sindroma de redução do crescimento que devem ser abatidos: hipótese de circovirose
  • Porcos com dificuldades respiratórias, patologia respiratória aguda: hipótese de pneumonia ou pleuropneumonia devida a APP ou Pasteurella
  • Porcos com crescimentos médios: hipótese de ileites ou de colites crónicas

Ao nível dos resultados serológicos e dos hisopos realizados sobre os animales sentinela:

  • Mycoplasma hyopneumoniae
    e/ou
  • Haemophilus parasuis
  • e/ou
  • Bordetella bronchiseptica

  • e/ou
  • Pasteurella multocida não toxigénica

  • e/ou
  • Lawsonia intracellularis

Ao nível clínico e de lesões nos animais sentinela doentes:

  • Uma primeira fase respiratória durante o primeiro mês nas baterias com lesões iniciais no nariz devidas a Bordetella bronchiseptica
  • Uma segunda fase na engorda com uma clínica e lesões características de circovirose.

Conclusão

Dos numerosos contaminantes em circulação, o circovirus parece ser o mais activo.


Medidas a Tomar



1. Início de um plano vacinal contra o circovirus nas porcas.

2. Reforço da prevenção respiratória contra aBordetella bronchiseptica e frente aos patógenos respiratórios Haemophilus parasuis e Pasteurella multocida durante a fase das baterias mediante tratamento com oxitetraciclina, em primeiro lugar sobre todos os animais das baterias durante 10 dias e depois banda a banda durante 15 dias nas baterias.

Uma vez efectuada esta primeira etapa (6 meses) atacar outros pontos, em particular de carácter digestivo e procurar os
elementos clínicos característicos:
- leitões com porcas "duras" e com um ligeiro atraso do crescimento a partir das baterias,
- resultados de crescimento sempre médios.

Actualmente a exploração encontra-se na fase de instauração do plano e os primeiros resultados são muito animadores.

Comentários



O caso clínico apresentado este mês, aparecido numa exploração francesa de ciclo fechado com 800 mães situada numa zona com baixa densidade suína, descreve como se evidenciou a presença de circovirus com a ajuda de leitões sentinela.

O suinicultor avisou o veterinário após detectar um aumento brusco da mortalidade na engorda, com presença de porcos pálidos que morriam de forma repentina, porcos demasiado magros que foram abatidos, animais com dificuldade respiratória que morriam de forma repentina e nos que se observava sangue ao nível do focinho e outros inchados com morte parecida à devida a enterotoxemia.

O acompanhamento clínico e serológico dos leitões sentinelas permite ajudar o veterinário a eleger quais são as prioridades sanitárias?

Tendo em conta a dificultade de propôr uma estratégia sanitária numa exploração onde existem diferentes co-infecções, a utilização de leitões sentinela apresenta-se como uma solução sedutora.

Na prática é economicamente impossível associar todas as profilaxias existentes e torna-se necessário propôr prioridades que podem evoluír ao longo do tiempo.

Tendo em conta os seguintes três elementos complementares:

  • estudo clínico da exploração para poder determinar as hipóteses,
  • estudo clínico dos sentinelas postos em contacto com os demais animais da exploração para poder seleccionar os patógenos mais activos e
  • estudo serológico dos sentinelas para seleccionar os agentes em circulação na fase produtiva estudada,

No presente caso clínico deu-se prioridade, em primeiro lugar, à profilaxia para PCV2 e para a profilaxia respiratória no post-desmame.

Comentários ao artigo

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