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Caso clínico: Co-infecção PRRS-mycoplasma

A interferência entre PRRS e micolplasma tem efeitos muito mais graves do que cada uma delas por

7 Janeiro 2008
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Descrição da Exploração



O caso deste mês deu-se numa exploração suína de ciclo fechado com 400 porcas e com maneio num só sítio, situada numa zona de baixa densidade suína de França, concretamente em Côtes d’Armor, se bem que a 100m da exploração exista outra de ciclo fechado com umas 100 porcas.

Tanto as primíparas de substituição como o alimento são adquiridos no exterior enquanto que as doses de sémen para inseminação são produzidas na própria exploração.

O maneio realiza-se em 15 bandas com desame aos 21 dias.

A água de bebida é proveniente de un poço correctamente clorado.


Estatuto sanitário

A priori desconhece-se o estatuto sanitário para a maior parte dos patógenos excepto para o vírus da doença de Aujeszky contra o qual a exploração faz controlos regulares e é negativa. De todas formas, tendo em conta a situação geográfica da exploração, é provável que seja positiva para PRRS e micoplasma se bem que não se observam sinais clínicos.

Profilaxias efectuadas

Vacina E coli K88 y K 99 porcas e primíparas
Parvovirose porcas e primíparas
Mal rubro porcas e primíparas
Rinite atrófica porcas e primíparas
Influenza (H1N1 e H3N2) porcas e primíparas
PRRS (vacina inactivada) porcas e primíparas
Micoplasma (duas doses) leitões


Aparecimento do Caso



O suinicultor decide colocar-se em contacto com o veterinário para realizar um exame geral da exploração em particular dos problemas respiratórios recorrentes aparecidos em crescimento e engorde.

Se bem que os resultados produtivos durante os últimos 6 meses sejam satisfatórios (12,2 desmamados por ninhada e índice de partos de 87%), o nível de perdas durante a fase crescimento-engorda é particularmente alto (4,4% em crescimento e 7% na engorda). Os índices de crescimento encontram-se dentro da média (GMD 7-105 = 691 g, IC 7-105 = 2,58).


Visita à Exploração



Quarentena

A cada 6 semanas entram na exploração 16 primíparas.

A exploração tem duas quarentenas:

- Sobre palha onde as primíparas se alojam durante 5 semanas, com maneio tudo dentro-tudo fora mas sem desinfecção, sem nenhum tipo de contaminação das primíparas e com injecção de oxitetraciclina 1 semana depois da sua entrada para evitar eventuais sintomas respiratórios.

- Sobre slat situado perto do pavilhão de gestantes (ver plano) com injecção com amoxicilina desde os 2 dias antes e até 5 dias depois da chegada ao local (de outro modo tosse sistemática), contaminação com aporte de despojos procedentes de partos cada semana e presença de uma porca desmamada de segundo parto com possibilidade de contacto directo. Maneio tudo dentro-tudo fora com desinfecção.

O suinicultor decidiu aumentar o número de mães de 400 Para 470 porcas e em consequência haverá um aumento do número de primíparas que entram na exploração a partir da próxima entrega.

Gestantes

Não se detecta nada em especial nesta fase. Os resultados reprodutivos são bons e o estado geral das porcas também. Observa-se alguma presença de sarna e algumas tosses, pouco significativas.

Maternidade

Devido à elevada prolificidade realizam-se muitas adopções e movimentos de ninhadas observando:

- Adopções para equilibrar ninhadas desde o dia do nascimento e até 3 dias depois do parto.

- Algumas ninhadas passam para a banda seguinte.

- Uma partida de leitões desmama-se com 10 dias e são alojadas em pequenos corrais equipados especialmente para desmame precoce.

- O resto dos leitões desmamam-se com 21 dias.

Observam-se algumas tosses esporádicas.

Os leitões vacinam-se contra micoplasma aos 4-5 dias de vida.

Transição

Os animais alojam-se em 12 celas com 20 animais por banda separados por muros sólidos. São respeitadas as normas zootécnicas.

Formação de lotes:

- Celas com leitões desmamados aos 21 dias da sua banda tendo em conta a ninhada e o parto das porcas.

- Celas com leitões que tinham sido desmamados de forma precoce aos 10 dias

- Celas com leitões pequenos desmamados aos 21 dias.

Os leitões recebem ração com colistina durante 5 ou 10 dias (leitões grandes ou pequenos, respectivamente). Após esta dieta recebem ração com colistina, amoxicilina e vermifugo. Os leitões recebem uma dose de rappel contra micoplasma aos 4 dias após o desmame.

No dia da visita observam-se tosses (5% dos animais durante uma contagem de tempo de 2 min).

Crescimento

Mantêm-se o número de celas e animais por cela da fase anterior de forma que não é necessário misturá-los de novo. As normas zootécnicas são respeitadas. Durante as primeiras semanas nesta fase distribui-se ração com 100 ppm de lincomicina (devido a um histórico de ileite).

Nesta fase detectam-se também tosses (4% dos animais durante uma contagem de tempo de 2 min).

Engorda

Tanto o tamanho como o tipo de salas é variável o que comporta uma mistura de animais de maior ou menor importância em função do número de celas e do seu tamano. De todas formas, o suinicultor é consciente da necessidade de realizar as menores misturas possíveis.

Nesta fase a alimentação oferece-se em forma de sopa.

Novamente se ouvem tosses esporádicas (2% dos animais). Observam-se animais caídos com dificuldades respiratórias com problemas de maior ou menor importância em função da banda.

Durante a segunda metade da fase a situação parece melhorar com um aumento do crescimento e com um nível de perdas aceitável a partir dos 100 dias de vida.


Hipóteses e Exames Complementares



Hipótese

Após a visita, se bem que seja cedo para realizar um diagnóstico sobre os problemas respiratórios, há vários pontos que chamam a atenção:

- Forte sensibilidade respiratória nas primíparas à sua entrada (quarentena sobre slat).

- Presençaa de tosse em porcas gestantes, em leitões lactantes e em diferentes idades após o desmame.

- Elevado número de sub-populações após o desmame que parece provocar uma circulação viral e/ou bacteriana no crescimento e que às vezes "rebenta" na fase de engorda.


Exames

Com a esperança de poder delimitar os agentes patógenos que estão causando esta problemática decide-se realizar:

- Controle pulmonar no matadouro.

-
Perfil serológico para PRRS, App, Mycoplasma hyopneumoniae e Influenza em animais de 5,10,14, 18 e 25 semanas de idade.


Resultados dos Exames



Controlo matadouro

O controlo realiza-se em 86 animais 10 dias depois da visita do veterinário.

A pontuação média do lote é de 4,4/28.

Observa-se:

- Número importante de sulcos cicatriciais (18% do lote).

- Elevada percentagem de lesões alargadas (41%).

- Número moderado de pleuresia de intensidade débil (3%).

As seguintes fotografias mostram o tipo de lesões observadas:

Sulcos cicatriciais
Lesões pulmonares

Resultados serológicos

PRRS (serologia IDEXX)

5 semanas
10 semanas
13 semanas
18 semanas
23 semanas
Positivos
NR
2/15
1/5
5/5
5/5
Negativos
NR
13/15
4/5
0/5
0/5

O vírus circula de forma sigilosa na transição e crescimento e com maior força na engorda. O momento da seroconversão confirma esta circulação entre os 50 a 100 dias de idade.

Micoplasma (serologia DAKO)

5 semanas
10 semanas
13 semanas
18 semanas
23 semanas
Positivos
NR
1/7
1/7
6/7
4/7
Duvidosos
NR
1/7
Negativos
NR
5/7
6/7
1/7
3/7

Praticamente a totalidade dos animais são positivos às 18 semanas de vida (entre 6 a 7 semanas depois da entrada na engorda). Há poucos animais que tenham mostrado uma resposta serológica depois da vacinação, coisa que pode parecer surpreendente (seroconversão esperada de 50% dos animais com a vacina utilizada).

A circulação de micoplasma, tendo em conta o prazo de seroconversão após a infecção, parece encontrar-se entre as 10 a 15 semanas de vida, ou seja, de forma demasiado precoce.

App (serologia Apx4)

5 semanas
10 semanas
13 semanas
18 semanas
23 semanas
Positivos
5/5
1/5
3/5
Duvidosos
1/5
Negativos
4/5
0/5
0/5
1/5

Pode observar-se uma forte prevalência às 5 semanas o que parece pôr em evidência que o efectivo de porcas é positivo e transfere anticorpos através do colostro. Pelo contrário, a circulação na engorde é muito tardia e é pois pouco provável que a actinobacilose tenha relação com o problema respiratório recorrente e precoce

Influenza porcina (ELISA)

5 semanas
10 semanas
13 semanas
18 semanas
23 semanas
Positivos
NR
6/10
Negativos
NR
5/5
5/5
5/5

Numa das amostras observa-se também uma positividade precoce relacionada com a presença de anticorpos maternais. Todas as outras amostras são negativas, de forma que a influenza não está relacionada com os problemas respiratórios detectados.

Necropsia de 6 animais

Durante o tempo de espera dos resultados do perfil serológico enviaram-se 6 porcos com estados mais ou menos avançados da doença para o laboratório (3 de 83 dias de vida e 3 de 100 dias) para realizar uma necropsia e análises complementares.

Nenhum animal dos enviados apresentava lesões digestivas se bem que apresentassem lesões respiratórias de intensidade variável.

O relatório da necropsia precisou os seguintes pontos:

- Pleuresia fibrinosa em 2 animais (100 dias de vida).

- Edema interlobular sobre os lóbulos apicais e cardíacos em 4 (1 porcdo de 100 dias e 3 de 83).

- Hepatização dos lóbulos apicais e cardíacos em 4 animais(1 porco de 100 dias e 3 de 83) com uma pontuação de 10/28, 8/28, 14/28 e 6/28, respectivamente.

As análises complementares permitiram detectar:

- Streptococcus suis 2 e 8 nas lesões de pleuresia.

- PRRS (mediante PCR) em 3 pools de 2 pulmões.

A análise histológica confirma para as lesões hepatizadas um ataque micoplásmico tal como se indica a seguir:

- Lesões pulmonares variáveis de pneumonia ou pleuresia supurativa aguda marcada (de origem bacteriana) para alguns animais e de pneumonia intersticial (compatível com a hipótese clínica de micoplasma) para outros.

- Ausência de lesões ganglionares de PMWS nas amostras examinadas.



Conclusão do Caso



Tendo em vista os resultados obtidos no controlo no matadouro e dos exames complementares, conclui-se que o problema existente é devido a uma co-infecção entre PRRS e Mycoplasma ocorrendo, segundo as bandas, entre a segunda metade da fase de crescimento e a primeira metade da fase de engorda, e todo isso apesar da vacinação contra micoplasma.

Sem nenhuma dúvida, esta co-infecção complica-se pontualmente pela presença de outras infecções bacterianas posteriores de tipo Streptococcus ou Pasteurella.


Medidas Tomadas



1. Situação sanitária no momento do nascimento e biosegurança

Para verificar o estatuto sanitário na maternidade para micoplasma e PRRS realiza-se:

- Um estudo da estabilidade do PRRS que mostra que a maternidade é estável, sem circulação viral.

-
Um perfil serológico para micoplasma em 20 porcas de diferente parto com o seguinte resultado:


Circulação de micoplasma na maternidade. O suinicultor desconhece o estatuto das primíparas compradas.

2. Diminuição das sub-populações

O veterinário indica que é necessário diminuír o número de sub-populações presentes na transição aumentando o número de leitões desmamados das mães.

Relativamente às adopções, aconselha-se:

- permitir que os leitões tenham o tempo suficiente para tomar colostro da sua mãe (se é necessário realizar tomas alternadas)
- respeitar um tempo mínimo de 48 h após o nascimento antes de realizar as adopções
- não é necessário utilizar porcas adoptantes

Deve utilizar-se desmame precoce ou ultraprecoce e a engorda deveria mudar-se para o exterior.

3. Protocolo de medicação de urgência

Aconselha-se iniciar um tratamento com tilmicosina (15 mg/kg) durante 3 dias cada 15 dias iniciando o tratamento no momento do desmame e durante toda a fase de transição e crescimento.

Para limitar a circulação vertical do micoplasma aconselha-se tratar as porcas perto do parto com doxiciclina (10 mg/kg PV).

4. Protocolo vacinal a médio prazo

a. Qualidade da vacinação

Faz-se "finca pé" em vários pontos da vacinação contra micoplasma:

- local e qualidade das injecções
- conservação das vacinas e eliminação de todo o frasco aberto
- comprovação da vacinação em leitões "particulares" (desmamados precocemente, adoptados...), em particular em termos de período transcorrido entre as duas vacinações (a presença de tantas sub-populações de leitões faz com que o suinicultor desconheça em alguns casos a idade real no momento da primovacinação e se realmente foi realizada em todos os casos).

b. Escolher un protocolo vacinal

Aconselha-se continuar a utilizar a vacina contra micoplasma em duas doses com o mesmo protocolo actual se bem que se aconselhe estabelecer uma dupla vacinação nas primíparas à entrada.

Aconselha-se também estabelecer uma vacinação contra o PRRS com vacina viva atenuada às 5 semanas de vida durante 6 meses. Ao mesmo tempo pede-se una progressão estrita na transição-crescimento-engorda com o objectivo de eliminar a médio prazo a circulação viral nestas fases.


Evolução do Caso



Após iniciar o protocolo de medicação, tanto as perdas como a patologia respiratória diminuiram de forma considerável ao mesmo tempo que os rendimentos no crescimento progrediram satisfatoriamente (aumento de 4 a 5 kg à saída da fase de crescimento aos 74 dias).

Inicialmente, e devido ao custe da mão-de-obra, não se iniciou a vacinação dos leitões desmamados. Contudo, semanas depois um problema na bomba dosificada deu lugar ao aparecimento, novamente, de problemas respiratórios na engorda. A necropsia de alguns animais mostrou lesões similares às observadas anteriormente evocadoras de uma co-infecção viral e bacteriana, o que fez convencer de forma definitiva o suinicultor para iniciar a vacinação contra o PRRS.


Comentários



Este caso, aparecido numa exploração de ciclo fechado de uma zona com baixa densidade suína de França em que se observavam problemas respiratórios em porcos em fase de crescimento-engorda e um nível de perdas nestas fases particularmente alto, permite-nos discutir 3 pontos habituais na prática diária mas ainda sujeitos a debate:

A interferencia entre vacinação precoce e anticorpos maternais e a contaminação vertical por micoplasma

Uma das explicações da "falta" de protecção dos leitões contra o micoplasma e apesar da vacinação com dupla
dose poderia ser uma interferência entre os anticorpos maternais e a vacinação. Esta questão é ainda hoje em dia amplamente discutida pelos cientistas.

Neste caso abordam-se de uma forma pragmática:

- As questões relativas às práticas de vacinação nesta exploração são por elas mesmas suficientes para a explicar a
circulação precoce de micoplasma.

- Adiar a idade da vacinação justo quando precisamente se tem uma contaminação relativamente precoce dos leitões vai contra a lógica.

Além do mais, neste caso parecia que a circulação de micoplasma nas porcas era importante e que havia certamente uma contaminação vertical precoce dos leitões que se multiplicava após o desmame devido às misturas de animais e ao elevado número de sub-populações de leitões. A medicação das porcas ao redor do parto para reduzir ao máximo esta circulação vertical pareceu ser a melhor opção. A instauração da vacinação nas primíparas à sua chegada, e mais ainda sabendo a intenção de aumentar o número de mães da exploração, tem por objectivo limitar a circulação do micoplasma nas mães.

A interferência entre micoplasma e PRRS

Existe um relativo consenso entre cientistas em demonstrar que existe uma forte interacção:

- Entre PRRS e mycoplasma que leva a agravar os síntomas que podem provocar um e outro por separado, e
- Entre a PRRS e a vacinação contra micoplasma: a PRRS sob certas condições poderia diminuír a eficácia da vacinação contra o micoplasma.

As sub-populações na transição

Neste caso concreto o número de sub-populações era numeroso:

- Leitões adoptados desde o momento do nascimento sem nenhum ou com escasso consumo de colostro.

- Leitões desmamados aos 21 dias procedentes de mães de diferente parto e misturados em maior ou menor grau em função do tipo de cela.

- Leitões procedentes de desmame precoce e mistura de número de parto.

- Leitões sobrantes mudados de banda após serem desmamados, frequentemente, com mais de 21 dias.

As práticas de adopção múltipla e desmame precoce têm unm forte efeito sobre o estatuto imunitário e sobre a carga microbiana dos leitões. No momento do desmame tem uma influência importante sobre o número de patógenos potencialmente transmitidos da porca ao leitão tal e como recorda o seguinte documento:

Cronologia das contaminações mãe-leitão
De diferentes autores: Dee, Wiseman, Alexander, Geiger, Connor

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