Descrição da Exploração
O caso aparece numa exploração de ciclo fechado de 700 porcas com maneio em sítios múltiplos, descritos a seguir:
- zona de partos onde os leitões saem entre os 19 a 21 dias de vida com um peso compreendido entre os 5 a 6 kg.
- zona de baterias situada a uns 10 km da zona de partos.
- vários sítios de engorda com maneio tudo dentro-tudo fora.
Tanto o sítio de partos como o das baterias se encontram numa zona da Bretanha francesa com elevada densidade suína.
As primíparas de substituição e a ração são compradas no exterior enquanto que as doses de sémen para a inseminação produzem-se na própria exploração.
A água procede da rede de fornecimento comum para ambos sítios, tanto de partos como de baterias.
Estatuto sanitário
Doença |
Estatuto
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Vacinação porcas
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Vacinação leitões
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Aujeszky |
Indemne
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Não vacinadas
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Não vacinados
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PRRS |
Estável inactivo
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Vacinação com vacina viva
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Não vacinados
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Micoplasma |
Positivo
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Vacinadas
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Não vacinados
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Actinobacillus pleuropneumoniae |
Sem sinais clínicos
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Não vacinadas
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Não vacinados
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PCV2 |
Sem sinais clínicos
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Não vacinadas
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Não vacinados
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E coli K88-K99 |
Positivo
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vacinadas
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Não vacinados
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Parvovirus-Mal rubro |
Positivo
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vacinadas
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Não vacinados
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Rinite atrófica |
Sem sinais clínicos
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vacinadas
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Não vacinados
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Resultados técnicos
Os resultados técnicos do sítio de partos são muito bons:
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Tal como os resultados das baterias:
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Aparecimento do Caso
A presença de diarreias nos leitões desmamados dentro dos 15 dias após a sua entrada põe em alerta o suinicultor que decide contactar o veterinário.
Programa-se uma visita à exploração para o dia seguinte ao telefonema visitando tanto o sítio de partos como o das baterias.
Visita à Exploração
Visita ao sítio de partos
Em geral a exploração encontra-se em bom estado de conservação.
Quarentena | |
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Cobrição | |
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Maternidade |
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Em resumo, em princípio não se observa nada anormal. O último controle para PRRS realizou-se há um mês e não se realizaram exames complementares.
Visita às baterias
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Observações
Idade
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Observações
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Outros
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3 semanas
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-As condições ambientais (aquecimento, higiene, superfície disponível…) são satisfatórias. -Ausência de tosse. -Sem presença de diarreias. |
-Leitões entrados há 3 dias. |
4 semanas
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-As condições ambientais são também boas. -Observa-se o aparecimento de diarreias em 2 de 3 parques. -a diarreia é líquida e de cor acizentada e aparece desde há 2 dias. -A colistina por via oral mostrou-se ineficaz. |
-Os consumos de ração de primeira idade eram bons mas segundo o suinicultor diminuiram de forma importante após o aparecimentos das diarreias. |
5 semanas
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-Presença de diarreias apesar do tratamento com colistina. -Aproximadamente 3-4% dos animais apresentam atraso apesar dos tratamentos injectáveis repetidos com uma associação lincomicina-espectinomicina. -Sem presença de tosse. |
-O consumo de alimento é praticamente normal. |
6 - 7- 8 - 9 semanas
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-Não se observa diarreia mas estas bandas estiveram menos afectadas que as observadas anteriormente. -Aproximadamente 1% dos animais apresentam atraso no crescimento se bem que isto não nos tinha referido o suinicultor. |
-O consumo de ração de segunda idade é satisfatório. |
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Porcos doentes
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Porcos lânguidos
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Conclusões da visita
Da visita constata-se:
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Análises Complementares
Decide-se enviar para o laboratório 2 leitões de 35 dias de vida e 2 de 28 dias todos eles vivos mas com problemas de crescimento (peso médio inferior a 20% da média do lote) e com presença de diarreia.
Pede-se uma autópsia, bacteriologia, parasitologia e histologia nos porcos mais velhos.
Não se analizam amostras de água já que tinham sido analizadas várias semanas atrás e o sistema de tratamento não apresentava nenhum tipo de falha.
Resultados das análises
Animal |
Lesões observadas durante a autópsia
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Bacteriologia e parasitologia
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Histologia
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N°1 (26 dias, 5 kg) |
Tiflocolite Muco esverdeado dentro do intestino delgado Hipertrofia mesentérica Estômago vazio |
E. coli Raras formas espiralizadas Numerosa presença de Balantidium coli 1100 oocistos de Isospora suis/g de fezes |
Não se pediu |
N°2 (28 dias, 7 kg) |
Tiflocolite com conteúdo acinzentado Conteúdo mucóide no intestino delgado Estômago semi-cheio Hipertrofia mesentérica |
E. coli Raras formas espiralizadas Várias tricomonas 370 oocistos de Isospora suis/g de fezes |
Não se pediu |
N°3 (35 dias, 7 kg) |
Conteúdo líquido acinzentado no cego e diarreico no cólon Hipertrofia mesentérica Estômago vazio |
E. coli Numerosa presença de Balantidium coli Numerosas formas curvas e ausência de formas espiraladas 1100 oocistos de Isospora suis/g de fezes |
Ausência de lesiões significativas Placas de Peyer e gânglios normais |
N°4 (35 dias, 6 kg) |
Tiflocolite cor de mostarda Hipertrofia mesentérica Estômago vazio com pequenas úlceras ao nível do píloro |
E. coli Numerosas tricomonas Raras formas espiraladas e numerosas formas curvas 1100 oocistos de Isospora suis/g de fezes |
Presença de numerosos esquizontes e gamontes nas células do ílión e o cólon sem lesões ao nível dos órgãos linfáticos Coccidiose |
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Diarreia cinzenta
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Conteúdo líquido
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Conclusão
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Medidas Tomadas
Tendo em conta a idade na qual aparecem os problemas, a ausência ou ausência relativa da eficácia dos tratamentos antibióticos e os resultados das análises, o veterinário decide propor um tratamento curativo nas bandas afectadas e um preventivo nas seguintes contra a coccidiose.
Tratamento curativo dos leitões nas baterias | |
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Tratamento preventivo das bandas seguintes: | |
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Evolução do Caso
Todas as medidas tomadas mostraram-se totalmente eficazes.
Comentários
O presente caso clínico, com problemas de diarreias nos leitões desmamados dentro dos 15 dias após a sua entrada nas baterias, apareceu numa exploração de ciclo fechado de 700 porcas com maneio em sítios múltiplos situada numa zona de elevada densidade suína da Bretanha francesa.
A exploração divide-se em zona de partos, baterias a uns 10 km e vários sitios de engorda.
Após as diferentes análises realizadas conclui-se que se trata de um caso de coccidiose. Este caso permite-nos ilustrar vários pontos que parecem interessantes:
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Este caso tinha como objectivo demonstrar a importância do processo de diagnóstico num momento onde o veterinário parece tristemente esquecido. Não se trata neste caso de debater o papel ou a importância do PCV2 já que não se demonstrou a sua presença. Pelo contrário, trata-se de não esquecer que atraso no crescimento-diarreia-heterogeneidade não são, afortunadamente, uma prerrogativa do PCV2.