As necessidades dos leitões recém desmamados não se alteraram ao longo dos anos embora a que a idade do desmame se tenha ido modificando e a nossa compreensão das necessidades dietéticas tenha melhorado. O objectivo dos tratadores de leitões desmamados deve ser o de proporcionar uma área de descanso seca e livre de correntes de ar que forneça ar fresco, água de bebida limpa e uma dieta adequada que ajude o seu crescimento.
Ainda que estas necessidades pareçam muito simples, com frequência se demonstra que não são fáceis de cobrir em condições de produção.
Alojamento quente, seco e sem correntes de ar
Frequentemente é difícil fornecer esta necessidade básica, especialmente se os leitões têm diarreia em resultado de uma dieta com ingredientes incorrectos ou devido a infecções intestinais como Rotavirus ou E. coli. Em muitos países, o solo preferido para os leitões desmamados é a slat de plástico. Contudo, a legislação, num número crescente de países, obriga a que os porcos sejam alojados em solo com uma parte sólida.
Ainda que um solo, que tenha uma parte de slat e outra sólida (foto 2), permita ao animal eleger a área de descanso que melhor se adapte à temperatura e corrente de ar desejada, implica, por outro lado, um maior risco em caso de maneio inadequado da temperatura e da velocidade do ar já que pode ter graves consequências para os leitões recém desmamados.
Foto 1. Os solos com uma parte de slat e uma parte sólida são já bastante comuns em muitas explorações. Nalguns países são obrigatórios. Neste tipo de solo, o leitão pode escolher a zona de descanso em função da temperatura e da corrente de ar.
Normalmente a pressão negativa das instalações ventiladas mecanicamente deve estar ajustada a uma diferença de pressão nas entradas de ar de 12,5 pa (0,05 polegadas de coluna de água). Isto implica uma velocidade do ar na entrada de, aproximadamente, 4 m/s (800 fpm). Se não se dispõe de entradas de ar auto-reguláveis, ou reguladas pelo controlador da ventilação, a corrente nas entradas varia à medida que os ventiladores aumentam/diminuem a velocidade ou quando se ligam ou desligam os ventiladores adicionais. Estas correntes variáveis fazem com que os leitões tenham que mudar constantemente as zonas de descanso e de defecação.
Outro aspecto muito importante a considerar é a temperatura. Durante os primeiros 1-3 dias após o desmame, os leitões têm uma ingestão de ração muito reduzida, o que reduz a produção de calor corporal realizada pelo crescimento de tecidos. Esta falta de produção de calor deve ser compensada pelo alojamento. Quando o solo é todo de slat, o objectivo deve ser 30º C na área de descanso e que seja livre de correntes de ar, até que o porco consuma ração suficiente para recuperar um balanço positivo de energia relativamente ao calor metabólico. Uma vez que o consumo de ração (e a produção metabólica de calor) aumente, recomenda-se reduzir a temperatura do ar 2-3 Cº por semana para manter o animal na sua zona termoneutral. Nos EUA, as ventilações automáticas costumam ser programadas para reduzir a temperatura 0,28 Cº (0,5 Fº) por dia.
Devido à falta de produção de calor metabólico e redução da ingestão de energia nos primeiros dias após o desmame, os leitões recém desmamados são muito sensíveis às flutuações térmicas. A evidência sugere que as variações de mais de 2ºC numa hora durante as primeiras semanas após o desmame implicam uma redução do ganho médio diário.
A partir do momento em que os leitões desmamados estejam a comer bem, os dados aconselham a redução nocturna da temperatura. Se puderem escolher, os leitões das baterias demonstram sempre uma preferência por uma temperatura nocturna 4-5 Cº mais fria que a diurna. Nos ensaios, os leitões começam a preferir temperaturas mais frias por volta das 16:00 h e mais quantes por volta das 05:00 h. A implementação de um regime de temperatura, a partir da primeira semana pós-desmame, em que a temperatura seja 5,5 Cº mais baixa entre as 19:00 h e as 07:00 h que no resto do dia, reduziu 15% o consumo de gasóleo em ensaios no Inverno levados a cabo na região superior do Médio Oeste dos EUA.
Igualando por tamanho e parques-hospital
A variação de peso ao desmame de um lote de leitões com uma diferença de idade de apenas 1-2 dias, está em cerca de 22-25% se se calcula mediante o coeficiente de variação. Devido à grande variação ao desmame, muitos produtores colocam leitões desmamados nos parques das baterias em função do seu peso relativo. Os leitões "grandes" alojam-se juntos com outros "grandes", os "médios" com "médios" e os "pequenos" com os "pequenos". Ainda que isto consiga uniformizar os pesos no momento do desmame, estes não se conseguem manter até ao final da transição. Os ensaios demonstraram repetidamente que os parques com porcos de tamanho uniforme ao desmame (com um CV de 10% ou menos) aumentam a sua variação no final da transição (CV de 15% ou mais) enquanto que os leitões com uma ampla variação (CV de 20% ou mais) reduzem a sua variação no final da transição (CV de 15-17%).
Outro erro frequente é deixar vários parques vazios enquanto os restantes têm um número excessivo de animais para alojar todos os que existem na exploração. O objectivo é passar os leitões "pequenos", ou aparentemente em desavantagem, para estes parques vazios nas primeiras semanas após o desmame. Com frequência estas alterações não se fazem rotineiramente, com o que a maioria dos parques permanecem super-povoados enquanto que os vazios ficam a ganhar pó.
Ainda que os referidos parques se encham com leitões transferidos de outros parques, os animais não respondem do modo desejado. Se o facto de transferir estes leitões para outro parque não implica um tratamento especial (como uma lâmpada de aquecimento, uma ração especial, um comedouro especial, uma barreira contra as correntes de ar...), acaba por se converter numa desvantagem, já que estes leitões deverão competir pelos recursos com os outros leitões que foram transferidos, produzindo um stress social. A regra geral deve ser que não se devem transferir leitões para parques especiais (habitualmente identificados como parques-hospital) a menos que no parque-hospital se faça algo especial que aumente as suas possibilidades de recuperação e crescimento.
Outro erro de maneio que se costuma observar nas explorações é permitir que os porcos transferidos para os parques-hospital continuem a deteriorar a sua condição corporal. Quando se transfere um leitão para um parque-hospital, o objectivo deve ser uma clara melhoria da sua condição corporal em 5-7 dias seguido da sua recolocação noutro parque ou deve-se tomar a decisão de o eutanasiar de um modo humano para evitar sofrimento desnecessário (foto 3). Ainda que a eutanásia seja difícil de levar a cabo para muitos trabalhadores de exploração, já que se preocupam com todos os seus porcos, há que lhes explicar a necessidade de aliviar o sofrimento do animal.
Foto 2. Os parques-hospital devem servir para que os leitões recebam um tratamento especial. Passados 5-6 dias, os leitões recuperados devem realojar-se noutros parques. A melhor opção, para os leitões que não conseguimos recuperar, é o seu abate de forma humanitária.