Pela primeira vez em muito tempo o mercado ofereceu-nos a possibilidade de comprar até doze meses vista, Janeiro de 2014, produtos que não sejam a soja. Nesta ocasião os produtos foram o trigo e o milho. Se bem que a soja possa ser comprada sempre a longo prazo, outro tema é se o preço será interessante ou não.
Deve ser feita uma diferenciação entre a velha colheita, até Junho no caso do trigo e até Setembro no caso do milho, e a nova colheita, posições de Agosto em diante para o trigo e de Setembro em diante para o milho.
A velha colheita
Já estão todos os números, quantidades e notícias sobre a mesa. Os preços continuam a ceder pouco a pouco devido, entre outros factores, a:
- Compradores cobertos ou quase cobertos até Fevereiro pelo menos, e coberturas parciais até Março/Abril, e menos até junho. Tudo isto faz com que os compradores se sintam cómodos e sem pressa para tomar decisões.
- Portos cheios e barcos a chegar, o que leva os vendedores, dependendo das suas posições e necessidades financeiras, a ceder nos preços.
- Continua a depreciação do dólar frente ao euro, chegando o euro a cotizar a 1,3710 dólares. Isto redunda nas descidas dos preços de reposição.
Os compradores continuam à espera que em Fevereiro/Março haja outra descida significativa de preços, aproveitando-a para cobrir as posições até Junho e esperar assim, tranquilamente, a colheita de cevada e trigo nacional. É uma opção, mas não devem ser perdidos de vista os seguintes pontos:
- As retiradas nos portos são significativas. Em Tarragona situam-se à volta de 15-16.000 ton diárias.
- O dólar pode alterar-se em qualquer momento. Não parece provável, pelo menos até que os Estados Unidos aclarem um pouco a sua situação em relação ao que a imprensa denomina “abismo fiscal”, mas nunca se sabe.
- Continuo a pensar que, não tarda muito, o interior terá que ir ao porto para cobrir os 5 milhões de ton a menos da colheita nacional, e isso fará aumentar os levantamentos e a procura nos portos.
Resumindo, entendo que pode acontecer qualquer coisa mas, tenho a impressão, que se assume mais risco não cobrindo que cobrindo a posição Março-Junho, ainda que o mercado possa ceder já que, segundo a minha opinião, as descidas não podem ser muito significativas para essa posição tendo em conta que a colheita actual foi muito justa a nível mundial e europeu para o trigo e o milho.
E para a colheita nova?
Depende do produto e da posição. Antes da tomada de decisões, deveria ter-se presente que a proteína em conjunto, e portanto a soja, estará a níveis sensivelmente inferiores aos do ano passado.
Em segundo lugar, supõe-se que o trigo já está semeado e, de momento, as perspectivas da nova colheita são boas, já que a sementeira correu bem. Como dizem os agricultores, sobretudo os mais velhos, uma boa sementeira garante de 30 a 40% uma boa colheita, o que não é mau. No que se refere ao milho, nem está semeado. Ainda que seja certo que, pelo menos em Espanha, as barragens estão sensivelmente mais cheias que no ano passado por estas datas, pelo que se chove na Primavera é provável que se possa garantir a água para a sua rega.
Em terceiro lugar, como referência podem ser observados os preços do trigo e do milho para as posições de nova colheita que houve no ano passado, a saber 198/199 €/ton para o milho (ainda que durante um dia ou dois se operou a 194-193 €/ton mas foi momentâneo) e o trigo 200 €/ton para posições de Setembro/Outubro e 204/208 €/ton para o trigo. Tendo em conta o panorama geral, na minha opinião, tomar posições à volta dos 200 €/ton é uma medida prudente e não descabida. Por outro lado, o trigo em volta de 225 €/ton parece-me prematuro comprar colheita nova e esperaria para ver como evoluem os preços.
Quanto à soja, continua a sua guerra particular. Graças às divisas e ao bom desenvolvimento da nova colheita o seu preço continua a ceder lentamente, no entanto não tão rápido como esperam os compradores. Os preços chegaram aos 415€/Tm para a soja 47% se bem que agora ressaltaram até aos 435€/Tm. Já comentei várias vezes que até chegar a nova colheita pode passar quase de tudo de maneira pontual uma vez que continuamos a depender quase em exclusivo dos stocks dos USA. Além disso a transição entre colheitas cria sempre tensões, devido à inversão do mercado nem compradores nem vendedores querem ficar longos.
6 de Fevereiro de 2013