Já deixámos para trás a voragem das divisas, não porque tenham perdido protagonismo mas porque entrámos em cheio no weather market e este aglutinará todo o protagonismo. Para entendermos, as notícias mais relevantes são as que referem se chovem mais cinco gotas ou menos cinco gotas nos campos, se os rendimentos serão os esperados ou, se pelo contrário, melhorarão as expectativas. O cerne da questão é que os fundos ao largo e ao longo do mundo investem (ou apostam, segundo a forma como vejam a questão) com base nos relatórios que se publicam dia a dia nesta altura. Um exemplo muito gráfico temo-lo na campanha nacional: a colheita do ano passado foi de 19,5 milhões de toneladas, a previsão para a campanha actual no país a finais de Abril era de 23 milhões, com algumas vozes que asseguravam, inclusive, 24 milhões de toneladas. Ao longo do mês de Maio sofremos de mais 8 dias de calor do que o habitual para estas altura e foi o suficiente para que surgissem vozes agoirentas que vaticinavam o desastre total para a colheita. No final, acabámos de iniciar a colheita e pelo momento, pelo menos no Ebro, está a haver mais quilos que os esperados, havendo referências de rendimentos em zonas de sequeiro de 3000 kg/hectare, o que não é nada mau, quando o habitual são 1500-2000 kg/hectare. Se tivermos em conta que a situação em Castela - La Mancha é muito melhor que a campanha passada, que na Andaluzia a colheita se perfila francamente bem, que no Ebro, ao dia de hoje, podemos ser bastante optimistas e que na zona do Douro não houve geadas e aparentemente está numa situação normal, creio que temos muitas possibilidades que a colheita este ano em Espanha seja superior à da campanha anterior…outro cantar é saber, ao dia de hoje, se haverá 20 ou 21 milhões de toneladas. Que conste que a nível mundial estamos na mesma situação, desfolhando o malmequer relativamente aos rendimentos melhores ou piores, esperando poder quantificar as colheitas e especulando sobre os efeitos do Niño na Austrália ou a seca na Índia (que está a sofrer uma terrível onda de calor).
Mas que se passa com os preços? Aparentemente os preços hoje são similares aos de há um mês, ainda que pelo caminho tenhamos visto subidas e descidas. Chegou-se a operar milho para posições Janeiro-Maio de 2016 a 165€/Tm e o trigo para posição Agosto-Dezembro/2015 a 173 €/Tm. A farinha de soja chegou a operar a 345€/Tm para a posição Junho-Dezembro/2016 e o mesmo preço para todo o próximo ano.
Por outro lado a situação continua igual do que há um mês, os portos continuam cheios de milho e, em menor escala, de trigo. Os operadores franceses têm vontade de vender, sobretudo, milho e trigo, tal como os operadores nacionais que os continuam a oferecer a preços competitivos relativamente ao mercado francês. Os compradores com o estômago cheio parecem mais pendentes da colheita. A cevada continua a "dançar sozinha", a da colheita velha está a cotar a 183-185 €/Tm dependendo do destino e apenas aparecem algumas ofertas de nova colheita (isso sim, a preços similares aos da cevada disponível para posições Julho-Dezembro 2015). Como se não estivéssemos às portas da nova colheita e como se não existisse a chamada "pressão de colheita", já que se pedem os mesmos níveis para entregas Julho/Dezembro 2015.
Parece que apesar das possíveis secas continuam a pesar mais as perspectivas de uma colheita que não será má a juntar aos consideráveis stocks da velha, o que faz com que os preços sejam mais ou menos estáveis e os fundos tenham escapado a outros mercados esperando umas perspectivas um pouco mais claras.
29 de Maio de 2015