X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
Leia este artigo em:

Como funcionam as vacinas de PCV2

Apesar de não terem uma reacção serológica pós-vacinal consistente, os animais vacinados comportavam-se de um modo totalmente distinto aos não vacinados em condições de campo.

18 Janeiro 2016
X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0

Artigo

PCV2 vaccination induces IFN-γ/TNF-α co-producing T cells with a potential role in protection. Hanna C Koinig, Stephanie C Talker, Maria Stadler, Andrea Ladinig, Robert Graage, Mathias Ritzmann, Isabel Hennig-Pauka, Wilhelm Gerner and Armin Saalmüller. Veterinary Research 2015, 46:20. DOI 10.1186/s13567-015-0157-4

 

O que se estuda?

Em todo o mundo são utilizadas vacinas para controlar o PCV2 mas, no entanto, não se compreende totalmente como é que induzem uma resposta imunitária protectora nem que parâmetros imunológicos estão correlacionados com a protecção. Nos animais seropositivos, é frequentemente detectada virémia demonstrando que os anticorpos não são protectores por si só. Os anticorpos neutralizantes parecem ser importantes para o controlo do vírus. A resposta celular imunitária gerada pela protecção ainda é menos conhecida. O objectivo deste estudo foi encontrar um indicador da protecção contra o PCV2.

 

Como se estuda?

Para este estudo experimental foram utilizados 24 leitões na unidade de isolamento da Faculdade de Veterinária da Universidade de Viena. Ao princípio do ensaio os leitões com 21 dias de vida foram divididos em 4 grupos de tratamento (6 animais por grupo):

  • Grupo 1 controlo: não vacinados, não infectados.
  • Grupo 2: infectados intranasalmente com PCV2 aos 49 dias de idade.
  • Grupo 3: vacinados (vacina de sub-unidades frente a PCV2 com um polímero aquoso como adjuvante) aos 25 dias de vida.
  • Grupo 4: vacinados (vacina de sub-unidades frente a PCV2 com um polímero aquoso como adjuvante) aos 25 dias de vida e infectados intranasalmente aos 49 dias de vida.

Foram recolhidas amostras de sangue aos 21 dias de vida (chegada), aos 25 dias de vida (antes da vacinação), aos 49 dias de vida (antes do desafio) e aos 53, 60, 67, 74 e 81 dias de vida. Todos os animais foram eutanasiados aos 81 dias de vida.

 

Quais os resultados?

Não foram observados sinais clínicos de PCV2 em nenhum dos animais estudados. Apenas os animais do grupo de tratamento 2 (não-vacinados, infectados) desenvolveram virémia após a infecção. Isto mostra, por um lado, que o modelo de infecção funcionou e, por outro lado, que a vacina foi eficaz para controlar o vírus no grupo 4 (vacinado, infectado).

Foi feita serologia com um teste que distinguia entre IgM e IgG. Dos 24 porcos, 12 foram seropositivos à chegada. Provavelmente tratavam-se de anticorpos maternais. Aos 49 dias de idade 5 dos 12 animais vacinados eram seropositivos. Esta seroconversão foi considerada como induzida pela vacina. Após a infecção, todos os animais do grupo 2 e 4 seroconverteram-se. No entanto, os animais do grupo 4 (vacinados, infectados) seroconverteram-se mais rápido que os do grupo 2 (não vacinados, infectados). Além disso, responderam maioritariamente com IgG em comparação com a resposta mais elevada de IgM que teve o grupo 2 (não vacinados, infectados).

Já tinha sido descrito previamente que a redução do vírus nos porcos infectados coincide com o aparecimento de células secretoras de IFNγ como um indicador da resposta celular frente a PCV2. Este estudo demonstra que a vacina utilizada induziu células T adjuvantes multifuncionais, o que para outros agentes patogénicos parece ser um bom indicador de resposta celular imunológica protectora. No grupo 2 (não vacinados, infectados) o aparecimento destas células coincide com a mudança no tipo de anticorpo de IgM a IgG. Isto reforça a ideia de que as células T adjuvantes multifuncionais são críticas para a resposta imunitária protectora frente a PCV2. A vacinação também induz células T de memória.

 

Que conclusões se extraem deste trabalho?

O resultado deste estudo mostra que os anticorpos não são um bom indicador de protecção frente a PCV2. Muito embora a vacina não induza uma seroconversão clara, os animais vacinados mostraram protecção após a vacinação. O facto de que os animais vacinados respondam inicialmente com IgG (resposta secundária) enquanto os não vacinados mostrem primeiro IgM (resposta primária) poderá ser utilizado no campo como indicador em porcos que tenham sido vacinados com a mesma vacina usada neste estudo. Mas, para o fazer, é essencial determinar o tempo de exposição a PCV2.

A vacinação induziu células T de memória. Isto reforça e explica porque é que uma única vacinação comporta uma imunidade de duração relativamente longa.

A descoberta de células T adjuvantes multifuncionais, como indicador do potencial de protecção após a vacinação, pode ajudar a entender como funcionam as vacinas frente a PCV2: a vacina induz a uma forte resposta celular que reforça e desencadeia uma resposta de anticorpos após a exposição.

 

Enric MarcoA visão a partir do campo por Enric Marco

Os problemas de PMWS (Post-WeaningWasting Síndrome), que tantas perdas económicas tinham ocasionado ao sector na primeira década deste século, solucionaram-se com a chegada ao mercado das vacinas frente PCV2. Ninguém imaginava que uma vacina pudesse ser tão eficiente! Como disse um produtor: "Depois da vacinação frente à Doença de Aujeszky possivelmente é a vacina mais eficiente que chegou ao mercado". No entanto, a circovirose continua a ser uma doença que continua a gerar questões e uma delas é como interpretar os testes serológicos que são usados rotineiramente para conhecer qual é a dinâmica da doença e comprovar o funcionamento correcto das medidas profilácticas estabelecidas. A primeira surpresa com a chegada das vacinas frente PCV2 foi comprovar que nem todas geravam uma resposta imunitária após a sua aplicação ou, pelo menos, não suficientemente consistente e este tipo de argumentos foi usado para reforçar alguns produtos frente a outros. Não obstante, com o tempo todos aprendemos a retirar valor a esta informação ao comprovar que, apesar de não ter uma reacção serológica pós-vacinal consistente, os animais vacinados comportavam-se de um modo totalmente distinto aos não vacinados em condições de campo. O artigo dá a explicação do porquê de as vacinas oferecerem protecção, concretamente o porquê de serem capazes de gerar uma potente imunidade celular capaz inclusive de limitar a replicação total (como no artigo) ou parcialmente como habitualmente acontece. E além disso, fornece informação importante para interpretar os resultados das análises habitualmente utilizadas como são a detecção das IgG e IgM específicas. No caso de animais vacinados, a vacina pode gerar uma elevação transitória e fraca das IgM (às 3 semanas pós-vacinação) e das IgG, ainda que numa pequena proporção dos animais. Não obstante, quando os porcos vacinados são infectados com o vírus de campo a elevação das IgG é muito mais clara. Definitivamente, este tipo de testes são úteis para acompanhar a dinâmica de infecção mas não são uma ferramenta interessante para comprovar se a vacinação foi correctamente realizada .

Infelizmente, ainda não se possuem técnicas disponíveis que permitam de um modo fácil e económico acompanhar a resposta imunitária celular e concretamente aquela específica responsável da produção de INF-γ que, neste caso, parece directamente relacionada com a redução da carga viral.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista Última hora

Um boletim periódico de notícias sobre o mundo suinícola

faz login e inscreve-te na lista

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista