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Como o PCV2 contribui para os transtornos entéricos?

Recentemente, foi sugerido que o PCV2 é capaz de produzir diarreia em porcos e propôs-se a doença entérica associada ao PCV2 (PCV2-ED) como uma entidade separada dentro das doenças associadas ao Circovirus Suíno (PCVDs).

A diarreia em porcos de engorda é um problema comum nas explorações comerciais e limita significativamente a eficiência e rentabilidade da produção suína mundial. Os transtornos intestinais em porcos com mais de 4 semanas de idade podem ser produzidos por vários agentes infecciosos, como rotavirus, coronavirus, Escherichia coli, Brachyspira spp., Salmonella spp., Yersinia spp., Lawsonia intracellularis, Oesophagostomum dentatum e Trichuris suis, entre outros. Com efeito, a maioria dos casos que cursam com diarreia pós-desmame e colite são devidos a etiologias concorrentes, juntamente à sua interacção com a ração, água e outros factores ambientais.

O Circovirus Suíno tipo 2 (PCV2), agente causal essencial da doença sistémica associada ao PCV2 (PCV2-SD) e a infecção subclínica associada ao PCV2 (PCV2-SI), é considerado um agente patogénico sistémico. Contudo, recentemente, foi sugerido que pode ser capaz de provocar diarreia em porcos e propôs-se a doença entérica associada a PCV2 (PCV2-ED) como uma entidade separada dentro das doenças associadas ao Circovirus Suíno (PCVDs). A sua definição de caso inclui: a) porcos que sofrem de diarreia; b) enterite granulomatosa e depleção de linfócitos que se observa microscopicamente nas placas de Peyer, mas não noutros tecidos linfoides, e c) quantidades, de moderadas a elevadas, de PCV2 detectadas na mucosa intestinal ou placas de Peyer, sem detecção noutros tecidos sistémicos.

Com a finalidade de clarificar a verdadeira incidência de PCV2-ED, desenhou-se um estudo para investigar a prevalência da infecção por PCV2 em porcos de engorda com diarreia em Espanha e para avaliar a possível coexistência entre PCV-ED e PCV2-SD. O estudo foi realizado com 96 porcos que tinham diarreia e que se enviaram para necropsia completa e análises laboratoriais para o Servei de Diagnòstic de Patologia Veterinària, na Faculdade de Veterinária da Universitat Autònoma de Barcelona (Espanha). As amostras enviadas (Fig. 1) correspondiam ao período 1998-2011 e incluíam somente porcos não vacinados contra o PCV2. As lesões entéricas mais predominantes foram enterite/colite catarral (77,1%), fibrinosa (11,5%) e granulomatosa (4,2%); também foram observadas outras lesões como hemorragias ou ulcerações (4,2%). Setenta e dois porcos (75%) foram positivos ao PCV2 mediante hibridação in situ (ISH). Entre os porcos positivos ao PCV2 mediante ISH, confirmou-se que 39 animais padeciam de PCV2-SD e 33 não tinham lesões linfoides significativas mas sim uma baixa quantidade de ácidos nucleicos virais em vários tecidos linfoides. Em consequência, estes últimos apresentaram a existência de uma infecção por PCV2 sistémica e, portanto, não se declararam como PCVD-ED. Com efeito, a interpretação patológica da baixa quantidade de PCV2 em vários linfonodos sistémicos sem lesões histológicas significativas tem 3 possibilidades: a) PCV2-SI, b) fase inicial de uma posterior PCV2-SD, ou c) fase de recuperação de PCV2-SD.

Selección y criterios diagnósticos de cerdos infectados con PCV2

Fig. 1. Diagrama de fluxo que descreve a selecção e critérios diagnósticos de porcos infectados com PCV2 incluídos neste estudo. PCV2, Circovirus Suíno tipo 2; PCV2-SD, doença sistémica associada a PCV2; PCV2-ED, doença entérica associada a PCV2.

Em conclusão, os resultados obtidos neste estudo (Fig. 1) sugeriram que o PCV2-ED é, provavelmente, uma condição insignificante e que o PCV2 contribui principalmente para os transtornos clínicos entéricos em relação à incidência de PCV2-SD.

Deve-se destacar que os problemas entéricos se encontraram com frequência em explorações afectadas por PCV2-SD. Não obstante, não era claro o mecanismo exacto pelo qual estes animais doentes tinham diarreia. Por um lado, a imunossupressãon sistémica vinculada ao PCV2-SD seria uma das razões principais para desencadear o efeito dos agentes patogénicos entéricos existentes na exploração, que podem não se expressar a menos que o sistema imune esteja comprometido. Por outro lado, o resultado patológico do PCV2-SD numa parte dos animais inclui um grau variável de enterite granulomatosa (fotografias 1 e 2), que causaria diarreia devido à alteração da permeabilidade da barreira intestinal. Neste cenário, a chegada das vacinas para o PCV2 causou uma diminuição radical de porcos e explorações que apresentavam sinais clínicos e lesões de PCV2-SD e, portanto, a concomitância da infecção viral com outros agentes patogénicos entéricos diminuiu significativamente.

Íleon. Depleción de linfocitos marcada y inflamación granulomatosa de las placas de Peyer en el íleon de un cerdo afectado por enfermedad sistémica asociada a PCV2. Tinció de hematoxilina y eosina.

Fotografia 1. Íleo. Nítida depleção de linfócitos e inflamação granulomatosa das placas de Peyer no íleo de um porco afectado pela doença sistémica associada a PCV2. Tinção de hematoxilina e eosina.

Íleon. El mismo íleon del cerdo afectado por enfermedad sistémica asociada a PCV2 presenta una gran cantidad de genoma de PCV2 en las placas de Peyer y en la mucosa intestinal. Hibridación in situ para detectar PCV2; colorante de contraste verde rápido.

Fotografia 2. Íleo. O mesmo íleo do porco afectado pela doença sistémica associada a PCV2 apresenta uma grande quantidade de genoma de PCV2 nas placas de Peyer e na mucosa intestinal. Hibridação in situ para detectar PCV2; corante de contraste verde rápido.

Devido à vacinação, hoje em dia a forma mais comum de PCV2 é o PCV2-SI, onde as lesões e sinais clínicos sistémicos e digestivos causados pelo vírus são mínimos. Em consequência, quando os problemas de diarreia estão presentes numa idade em que o PCV2-SI também pode ocorrer, é muito provável que se produzam infecções concorrentes com agentes patogénicos entéricos e que estes últimos sejam os principais contribuintes para o problema clínico. Portanto, é muito importante utilizar as ferramentas diagnósticas disponíveis a fim de determinar o peso específico de cada agente patogénico nesta doença entérica. Os exames patológicos (macroscópicos e histopatológicos) podem ser de grande ajuda para tentar avaliar estes casos.

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