2 de Julho de 2021
A forte diminuição das compras de carne de porco, por parte dos chineses, na Europa provocou o aparecimento de um excedente de carne no mercado europeu que, em função deste aumento da oferta, provocou descidas significativas da cotação dos porcos em todos os mercados da U.E.
As descidas, que foram da ordem dos 6-12 cêntimos de euro, começam a provocar o pânico entre os suinicultores, ainda para mais se tivermos em conta que os custos de produção se encontram muito elevados e sem tendência de descida.
Sabemos que estamos no início do Verão, altura do ano em que a oferta de porcos para abate é menor e em que os animais crescem mais devagar devido às elevadas temperaturas (este factor ainda não apareceu e os porcos ainda crescem normalmente este ano) o que torna a oferta ainda menor e mas se com estas características a cotações estão a descer o que irá acontecer no final do Verão caso os achineses não voltem às compras de carne de porco na Europa ou caso voltem mas queiram comprar a carne muito mais barata do o que têm feito até aqui?
Pois bem, é este o problema no mercado europeu neste momento. A China, pelos dados que nos chegam com origem no seu Governo, tem aumentado a oferta interna de porcos para abate (as fontes oficiais dizem que o efectivo está em 97% do efectivo de 2017) e isso fez descer mais de 50% a cotação dos porcos chineses que implicou uma descida do preço da carne naquele país, colocando ambas as cotações em valor muito muito próximos das cotações do porco e da carne na UE.
Ora, se a carne é mais barata na China, é natural que os chineses pretendam comprar a carne que lhes falta a preços mais baratos do que o faziam desde o ano passado, ainda para mais numa altura em que se estão a renegociar os contratos de compra de carne de porco para a segunda metade do ano 2021.
Esta pressão chinesa afectou de sobremaneira os grandes países exportadores para a China – Espanha, Holanda, Dinamarca -, mas também os pequenos Portugal incluído. E irá pressionar ainda mais o mercado na segunda metade do ano, caso o aumento do efectivo chinês seja real.
Não havendo tanta carne comprada pelos chineses, não resta outra alternativa a não ser a sua colocação no mercado europeu e a Espanha, o maior produtor de carne de porco europeu, enquanto colocava grandes quantidades de carne na China não se preocupava com o diferencial de preço entre os seus porcos e os alemães nem entre a cotação de venda da sua carne de porco e a da carne alemã. Mas com a necessidade de ter preços competitivos da sua carne no mercado interno da U.E., a Espanha tem que aproximar o preço da sua carne do preço alemão e se os porcos na Alemanha são mais baratos 0,40€/kg PV, portanto uns 44€ a menos por porco abatido, o mais natural é que a cotação desça em Espanha de forma a tentar equilibrar as coisas.
Obviamente que esta dificuldade do mercado espanhol afecta bastante o mercado português e isso tem-se reflectido nas descidas ocorridas na Bolsa e nas descidas ainda mais acentuadas que ocorreram no mercado. Mas não são só as descidas espanholas que estão a afectar negativamente o mercado nacional. A redução significativa das vendas de carne de porco para Países Terceiros, principalmente para a China, estão também a criar forte entropia no mercado da carne de porco portuguesa.
Em Portugal, na segunda quinzena de Junho, a cotação desceu 0,07€/kg carcaça na Bolsa do Porco. Este comportamento do mercado é verdadeiramente incomum até porque, no Verão o país costuma encher-se de turistas e de emigrantes que vêm passar férias no nosso país e este ano não me parece que qualquer destes consumidores venham para Portugal em quantidades suficientes para poder dar um abanão no mercado. Não esqueçamos que os porcos desceram havendo uma oferta de porcos que não é abundante e em que os pesos têm continuado a descer. Em todo o caso, os matadouros têm adiado porcos porque as vendas internas de carne continuam muito fracas e porque a exportação, como referi acima, está parada.
Por outro lado, o mercado interno ainda estagnou mais fruto dos novos confinamentos e nas restrições aplicadas à restauração devido ao recrudescimento de casos positivos à COVID-19. As medidas, para já, apenas foram aplicadas na área metropolitana de Lisboa, mas isto afecta o consumo de cerca de 3 milhões de habitantes.
Neste momento parece que só pairam nuvens negras sobre o mercado do porco, quando há um par de semanas atrás o sol brilhava com grande intensidade. Por isso é que é complicado fazer previsões a longa distância, pois podem aparecer alterações de monta de um dia para o outro.
No que diz respeito às cotações europeias:
Em Espanha a cotação desceu 0,043€/kg PV (+0,057€/kg carcaça) para 1,51€/kg PV (2,013€/kg carcaça). Os pesos desceram cerca de 650g nestas duas semanas.
Na Alemanha a cotação desceu 0,09€/kg carcaça para 1,48€/kg carcaça. Os pesos de carcaça desceram 600g para 96,7kg. Há pouca procura de carne de porco em toda a Alemanha o que provoca maior pressão sobre os preços. Mesmo barata, há muita dificuldade em fazer escoar a carne de porco.
Na Holanda a cotação desceu 0,10€/kg carcaça para 1,64€/kg carcaça. A oferta de porcos não é muito elevada e há um ligeiro aumento da procura devido à reabertura dos restaurantes, mas estes pontos positivos não são suficientes para aguentar a cotação dos porcos que desceram com significado, acompanhando os restantes mercados europeus.
Na Bélgica a cotação desceu 0,14€/kg PV para 0,93€/kg PV.
Na Dinamarca a cotação desceu 0,11€/kg carcaça para 1,49€/kg carcaça. Há pouco dinâmica no mercado da carne de porco devido à redução das compras chinesas o que provoca aumento da oferta interna e uma descida nas cotações.
Em França a cotação desceu 0,067€/kg carcaça para se situar em 1,48€/kg carcaça. Os pesos baixaram 800g para os 95kg, e estão 750g abaixo dos pesos do ano passado na mesma semana. O mercado francês vê-se confrontado com uma abundante oferta de carne espanhola que os obriga a baixar a cotação dos porcos para se tornarem mais competitivos. Por outro lado, os matadouros tiveram dificuldades em fazer repercutir no preço da carne as anteriores subidas da cotação dos porcos. Assim aproveitam para poder ganhar competitividade no preço da carne, também porque a grande distribuição francesa tem feito pressão para continuar a não pagar carne mais cara em função da dificuldade na venda aos consumidores.
Mercado mais complicado que o previsto neste início do Verão e em que as próximas semanas serão cruciais para definir grande parte do que se irá passar no mercado do porco até final do ano. Veremos o que acontece e de que forma a Europa consegue negociar com a China a quantidade de carne de porco que aquele país asiático necessita até final do ano.