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Considerações no momento de escolher vacinas de gripe para suínos

As vacinas inactivadas podem ser eficazes se se utilizam em combinação com outras práticas, como uma movimentação controlada dos animais e pessoas e com uma análise cuidadosa se o antigene vacinal coincide com o da estirpe circulante.

Pese a disponibilidade e o uso alargado das vacinas contra o vírus da Gripe A (IAV), a doença continua a ser um peso importante na suinicultura industrial. As vacinas utilizadas nos suínos costumam ser formadas por vírus inteiros inactivados (WIV) que contêm um adjuvante do tipo óleo na água e que se costumam administrar por via intramuscular. Foram explorados outros sistemas e nos Estados Unidos existe uma vacina de subunidades que contém uma partícula de ARN não replicante de alfavirus que codifica para o gene HA. Além disso, as explorações podem desenvolver as suas próprias autovacinas. Normalmente a vacinação é levada a cabo nas porcas para gerar anticorpos maternais que sejam transmitidos às suas ninhadas via colostro, ainda que, ocasionalmente, também se vacinem os porcos de engorda. Pese a que há várias vacinas completamente autorizadas, não se actualizam com a mesma rapidez com a que o vírus evolui antigenicamente. Isto pode gerar uma protecção subóptima contra estirpes antigenicamente diferentes.

Para que uma vacina seja autorizada, deve demonstrar que é segura e eficaz. Para cumprir com os requisitos de eficácia, os fabricantes devem demonstrar a imunogenicidade da fórmula mediante inibição da hemaglutinação (HI) e/ou redução dos títulos víricos nos pulmões de porcos vacinados desafiados experimentalmente com uma estirpe homóloga à do vírus vacinal. O tempo requerido para modificar a fórmula de uma vacina que já está aprovada varia segundo a legislação do país, e isto dificulta as actualizações que serão necessárias para adaptar a vacina à rápida evolução do virus. Contudo, alterações recentes da legislação levados a cabo pelo Centro de Biologia Veterinaria do USDA (EUA) poderão reduzir este tempo no futuro.

Num contexto de campo, a eficácia vacinal deve ter em conta cada exploração de forma individual e o resultado desejado. O teste de HI, o standard para a caracterização antigénica, costuma estar correlacionado com os títulos de neutralização vírica pelo que se utiliza para inferir a protecção. Normalmente considera-se que um título recíproco de 40 ou superior é protector, contudo, os títulos séricos de HI nem sempre estão bem correlacionados com a eficácia e a protecção vacinal; nalguns casos nem sequer contra as próprias estirpes se certos factores interferirem no momento em que se administra a vacina.

Conseguir a autorização de uma vacina é um processo trabalhoso, caro e que pode ser consideravelmente longo. Idealmente, as actualizações na formula das vacinas suinícolas contra o IAV poderão seguir um processo similar ao que se leva a cabo com a selecção de estirpes para adaptar as vacinas humanas à sazonalidade anual, baseando-se na vigilância e identificação nacional ou regional de novas estirpes antigenicamente distintas (figura 1). O desafio radica em que a evolução genética e antigénica do vírus da Gripe Suína é muito mais dinâmica que nos vírus humanos, com uma variação substancial entre diferentes regiões geográficas e inclusive com a co-circulação de muitas estirpes distintas numa mesma região (Vincent et al., 2014).

A tomada de decisões sobre as vacinas baseia-se na vigilância e na monitorização das estirpes circulantes de IAV (figura 1). Os primeiros passos para desenvolver um programa de selecção de vacinas mais dinâmico e actualizado são analisar as sequências disponíveis dos vírus suinícolas circulantes e as posições antigénicas conhecidas na sequência de aminoácidos de HA. Infelizmente, a semelhança da sequência de aminoácidos (e, em menor medida, a semelhança de nucleótidos) nem sempre é indicativa de protecção cruzada. Nos vírus suínicolas H3, as grandes alterações antigénicas produzem-se em seis posições de aminoácidos próximos do receptor de HA e inclusive a substituição de um só aminoácido tem um impacto significativo na antigenicidade (Lewis et al., 2014). Pelo contrário, os vírus suinícolas H1, têm uma diversidade genética mais complexa, possivelmente em resultado da sua evolução a partir de vírus clássicos e da repetida introducção de vírus humanos nos porcos durante um longo período de tempo. Como consequência, as alterações antigénicas não foram atribuídas a mutações de um único aminoácido dentro das hemaglutininas H1, ainda que a substituição de um único aminoácido em, ou próximo, do receptor tem um importante efeito acumulativo na antigenicidade. Portanto, a caracterização antigénica é um passo crucial que deve ser utilizado em combinação com a sequenciação e a informação epidemiológica para ter mais informação na tomada de decisões (figura 1).

Método sistemático de vigilancia del virus de la influenza A en porcino

Figura 1. Método sistemático de vigilância do vírus da Gripe A em suínos (baseado em Ampofo et al., 2015).

Sob circunstâncias ideais, a resposta imunitária gerada com vacina inactivada é suficiente para reduzir os sinais clínicos e os títulos virais no pulmão após a infecção, sempre que esta seja produzida por um vírus muito similar antigenicamente. Contudo, as vacinas inactivadas frequentemente não bloqueiam completamente a infecção em condições de campo normais. Os anticorpos maternais gerados a partir da vacinação das porcas podem proteger os leitões contra os sinais clínicos, mas não contra a infecção, e podem ser detectados até às 14 semanas de idade (Loeffen et al., 2003). Um efeito negativo dos referidos anticorpos é que podem interferir com a eficácia vacinal e com a resposta imunitária activa dos leitões vacinados. Com efeito, a imunidade prévia, quer seja passiva ou adquirida, pode interferir com a resposta imunitária perante a vacinas mortas.

É improvável que os anticorpos estimulados pelas vacinas inactivadas ou os adquiridos por transferência passiva proporcionem uma protecção cruzada completa contra a infecção com um vírus distinto, o que implica um falha vacinal e mais custos para os produtores. A falha vacinal pode complicar-se ainda mais se a vacinação induz anticorpos de reacção cruzada contra um HA do mesmo subtipo que impeça a neutralização numa infecção posterior (ou seja, sem reactividade cruzada no teste HI) o que pode acabar por produzir a doença respiratória agravada associada à vacina (VAERD;(Gauger et al., 2011)). Para que se produza a VAERD, é necessário que os HA e NA entre o vírus da vacina e o infectivo não coincidam. Foi demonstrada VAERD em muitos cenários experimentais e há indícios de que se produz no campo.

As limitações das vacinas inactivadas para gerar uma protecção cruzada contra vírus antigenicamente diferentes evidenciam a necessidade de desenvolver vacinas que tenham uma protecção cruzada mais ampla. Foram avaliadas várias plataformas vacinais para IAV em suínos e todas tiveram os seus prés e os seus contras (figura 2). As vacinas vivas atenuadas IAV (LAIV) demonstraram ser seguras em condições experimentais e mais eficazes contra vírus antigenicamente distintos (figura 2), reduzindo a transmissão viral e superando a interferência dos anticorpos maternais (Pena et al., 2011; Vincent et al., 2012). As vacinas de subunidades e as vacinas RNA ou DNA baseadas em HA e NA também demonstraram que protegem contra a infecção, com a vantagem de que com esta nova tecnologia é relativamente fácil modificar a formula da vacina para ter em conta a diversidade antigénica e o aparecimento de novos vírus (Wesley et al., 2004). Irão continuar a explorar-se novas plataformas vacinais como alternativa às vacinas inactivadas.

wiv
Inactivada
Vacunas de vectores LAIV
Atenuada
Via de administração intramuscular intramuscular/intranasal intranasal
Resposta HI +++ ++ +
Células secretoras de anticorpos ++ + +
Células B de memória + + +
IgA nasal -/+ -/+ +++
Anticorpo NA +++ -/+ ++
Células CD4 T ++ ++ +++
Células CD8 T - + +
Imunidade cruzada -/+ + ++
Doença respiratória agravada
associada à vacina (VAERD)
yes -/+ no

Tipo de protección

Figura 2. Eficácia comparativa de diversa plataformas vacinais contra a infecção pelo vírus da Gripe A em porcos
(baseado em Sridhar et al., 2015).

A estratégia vacinal deve-se planificar para cada caso concreto, segunda as circunstâncias. As vacinas inactivadas podem ser eficazes se se utilizam em combinação com outras práticas, como um movimento controlado dos animais e pessoas e com uma análise cuidadosa de se o antegene vacinal coincide com o da estirpe circulante. É necessário saber que estirpes estão a circular em cada exploração. A Gripe Suína é uma doença dinâmica que evolui continuamente, pelo que as estratégias de monitorização e controlo têm que ser intensas e adaptáveis.

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