A leitura recente de um artigo de 3tres3.com (‘Efeitos da localização do parque na termorregulaçõa e crescimento de porcos de engorda’) fez-me pensar na importância dos factores a considerar no momento de desenhar e realizar estudos de nutrição em porcos. Este estudo em particular (publicado em Translational Animal Science 2019; 3(4):1375-1382) foi desenhado especificamente para ilustrar os impactos da variabilidade do microclima numa instalação sobre a termorregulação e a produção, mas mais à frente voltaremos ao assunto.
A condução de estudos de nutrição em porco é uma tarefa geralmente cara e demorada, quer seja realizada em instalações comerciais e de investigação especializadas quer em ensaios na exploração. Portanto, não é desejável que os resultados obtidos nestes estudos possam ser afectados ou interpretados de maneira desfavorável devido ao desenho experimental utilizado. A leitura do artigo antes mencionado lembrou-me de uma instalação experimental onde realizamos estudos de nutrição em leitões de transição e encontramos um problema relacionado. Ser capaz de manter um bom nível de controlo ambiental é fundamental para os estudos de leitões de transição, dada a estreita relação entre o fornecimento de energia e nutrientes para o crescimento e as consequências negativas de manter porcos fora da sua zona termoneutral. Não queremos estudar, por exemplo, os efeitos do aumento dos níveis de energia na dieta sobre o rendimento pós-desmame quando uma parte dessa energia é destinada à manutenção porque os porcos estão abaixo da sua temperatura crítica inferior.
A instalação em questão poderia ser aquecida e arrefecida pela utilização de entradas de ar (accionadas por ventiladores), mas estas foram colocadas apenas numa das laterais do edifício, que não possuía ventilação em túnel. Apesar de a temperatura ambiente ter oscilado minimamente durante 24 horas em todo o prédio, observou-se que os porcos localizados nos parques mais próximos das entradas costumavam ter mais pêlo (sinal de frio) e às vezes apresentavam mais diarreia (outro sinal de frio). Estávamos preocupados que os resultados de estudos nutricionais cuidadosamente planeados pudessem ser comprometidos simplesmente pela localização desses parques. Como consequência, além de colocar aleatoriamente os tratamentos dietéticos com base no peso corporal, ninhada de origem, sexo, etc., os tratamentos também foram bloqueados com base na localização dos parques naquele lado da parede.
O que é "bloquear"?
No seu editorial ‘Protocolos para o desenho experimental e análises estatística em estudos com animais enviados para publicação no Asian-Australasian Journal of Animal Sciences’, Seo e colaboradores (2018) referem-se ao bloqueio como a prática na qual as unidades experimentais (ou seja, um único porco ou parque de porcos, segundo as circunstâncias) são colocadas em grupos de unidades semelhantes em função de um ou mais factores conhecidos ou que se espera que afectem as respostas a medir e avaliar. Nestes estudos de porcos de transição, e como se referiu anteriormente, características como o peso corporal, a ninhada de origem e o sexo são frequentemente usadas para o bloqueio e esse desenho experimental é denominado desenho em blocos completamente ao acaso (o RCBD). Ao formar grupos mais homogéneos de unidades experimentais, o bloqueio reduz o erro experimental de maneira que os tratamentos experimentais impostos (por exemplo, uma comparação de diferentes níveis de um aditivo alimentar em relação ao tratamento de controlo positivo ou aminoácidos com uma DIS diferente) proporcionam a maior probabilidade de detectar diferenças estatísticas entre esses tratamentos. Neste sentido, e somente se aplicável, a localização dos parques na instalação também deveria ser usada como factor de bloqueio num desenho experimental.
Voltando ao estudo mencionado no início do artigo; Quais foram os impactos da localização dos parques nessa instalação? Os investigadores descobriram que a localização física dos parques teve um impacto significativo na temperatura corporal, que por sua vez afectou negativamente a eficiência (G:F), apesar das semelhanças na temperatura ambiente e humidade relativa entre todos os parques (tabela 1).
Tabela 1. Influência da localização do parque (U) e periodo de registo (R) sobre os parâmetros de crescimento em porcos de engorda no final do Verão (depois de Kpodo et al., 2019).
P1 | P2 | P3 | Valor P | ||||||
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CP | CI | CP | CI | CP | CI | U | R | UxR | |
Consumo diário de ração, kg | 2,12 | 2,11 | 2,21 | 2,17 | 2,50 | 2,45 | 0,71 | <0,01 | 0,96 |
Ganho diário, kg | 0,68 | 0,69 | 0,68 | 0,74 | 0,80 | 0,81 | 0,28 | <0,01 | 0,78 |
Eficiência (G:P), kg:kg | 0,32 | 0,33 | 0,32 | 0,35 | 0,32 | 0,33 | 0,02 | 0,40 | 0,18 |
CP: parques periféricos, situados 0,70 ± 0,29 m a cada lado do ventilador mais próximo.
CI: parques internos, situados na linha de visão directa entre os ventiladores e as entradas de ar.
Conclusão final: realizar estudos de nutrição suína requer tempo, esforço e dinheiro, portanto deve ser assegurado que o desenho experimental considera todos os factores possíveis que possam influenciar os resultados experimentais dos tratamentos que estão a ser testados. Se possui dúvidas sobre o tipo de desenho a utilizar, consulte primeiro alguém com experiência com os princípios de experimentação animal. Regra geral, este investimento vale a pena a longo prazo.
* As referências completas encontram-se disponíveis a pedido do interessado