16 de Outubro de 2015
Após a indicação de descida de 0,07€/kg carcaça dada pela Bolsa do Porco na segunda quinzena de Setembro, os porcos voltaram a descer na primeira quinzena de Outubro. Desta vez, a indicação dada pela Bolsa foi de -0,075€/kg carcaça. Desde que os porcos começaram a sua descida, o acumulado é de 0,155€/kg na indicação da Bolsa se bem que no “mercado real” os porcos tenham descido mais. Ou seja, a descida real praticada pela indústria foi maior, aproximando-se dos 0,20€/kg. Neste momento, há suinicultores a vender porcos abaixo de 1,30€/kg carcaça o que é fatal para a economia, finanças e tesouraria dos suinicultores.
A paliar esta grave situação estão as matérias-primas que estão a preços relativamente baixos permitindo que o custo da alimentação possa baixar e, consequentemente, fazer baixar o custo de produção permitindo alguma maior competitividade à produção.
Por outro lado, há que ter em consideração que a carne de porco se vende muito mal. Este facto implica que haja maior oferta do que procura de porcos para abate e em implica ainda fortes descidas de preço da carne para tentar estimular a compra por parte dos consumidores.
O mercado Europeu precisa de uma forte ajuda, quer em termos de escoamento de carne que em termos de financiamento das empresas. A primeira delas, está dependente de que a Comissão Europeia inicie a operação do armazenamento privado de carne de porco e que arranque com o programa “Desfrute! É um produto Europeu” que servirá para promover os produtos agro-alimentares europeus em mercado de Países Terceiros tentando aumentar as vendas para esses mercados e aliviando o mercado interno da carne em excesso. A segunda delas, e no que a Portugal diz respeito, foi publicado esta semana o Decreto-Lei que define a forma como irá funcionar a Linha de Crédito de apoio aos suinicultores (e aos produtores de leite também) e que podem consultar nesta notícia publicada na nossa webpage www.3tres3.com.pt
Em Espanha o mercado também anda turbulento e as descidas sucedem-se semana a semana. Nesta quinzena, a Bolsa de Lérida desceu -0,055€/kg PV, cerca -0,072€/kg carcaça, tendo-se fixando-se a cotação em 1,10€/kg PV (cerca de 1,466€/kg carcaça).
O peso dos porcos continuou a subir – e são já 7 semanas consecutivas de subida dos pesos - e o preço da carne teve que descer para se alinhar com os preços dos seus principais competidores Europeus (Alemanha, França e Dinamarca).
Por outro lado existem dois dados importes e positivos que podem influenciar o mercado nas próximas semanas e, inclusive, nos próximos meses. Um deles é que esta é a época em que os mercados do Leste da Europa e da Ásia compram mais carne de porco nos mercados internacionais e aqui os países da U.E. são sempre fornecedores importantes desses mercados. O outro prende-se com o facto da China, o maior produtor mundial de porcos, ter reduzido o seu efectivo de reprodutoras em 38 milhões (!) de cabeças o que implicará menor oferta de carne de porco chinesa no mercado interno com a consequência de ter que a comprar noutros países.
Sem dúvida que o mercado da carne tem que ser “espevitado” para que se escoem os excessos para que o preço possa voltar a subir, se bem que a Espanha nunca tenha exportado tanta carne como o está a fazer em 2016.
Após as descidas de Setembro, a cotação alemã manteve-se nesta quinzena (1,42€/kg carcaça), o que é um bom sinal para o mercado europeu. Neste momento, as cotações alemã e espanhola são idênticas e estes grandes competidores do mercado estão em “pé de igualdade” para venderem a sua carne nos mercados fora dos seus países, sejam eles na U.E. ou em Países Terceiros.
Nesta quinzena, a Holanda, a Bélgica e a Dinamarca também mantiveram as suas cotações, respectivamente em 1,35€/kg carcaça, 0,99€/kg PV e 1,23€/kg carcaça.
Ora bem, “chegámos” à França, e em França reina a total anarquia no mercado do porco.
Após se ter definido cotação nas duas primeiras sessões do mês, em que os porcos desceram 0,026€/kg carcaça, sendo a cotação de 1,301€/kg carcaça, daí para cá não mais houve definição de cotação por parte do MPB.
Ao dia de hoje (e ontem também não houve definição de cotação no MPB) a França não tem preço de referência, os matadouros que têm assento no MPB não aparecem e a cotação não se define. Todo este imbróglio ainda deriva do “acordo” feito no Verão pelo Ministro da Agricultura francês que definiu um preço mínimo limite a partir do qual os porcos não poderiam descer. Estes “acordos à pressão”, que não satisfazem todas as partes envolvidas no mercado, às vezes dão nisto. Dão em problemas que serão muito complicados de sanar no curto prazo deixando o mercado francês do porco um pouco à deriva e com as eventuais nefastas consequências para todo o mercado Europeu.
No que diz respeito às cotações até Setembro do mercado europeu quando comparadas com igual período do ano passado e segundo os dados publicados pelo MPB que, com a devida vénia, aqui publicamos podemos verificar que as descidas são muito significativas. Assim, e por países:
País | 2014 | 2015 | Variação % |
Holanda 56% | 1,553€ | 1,331€ | - 14,29 |
Dinamarca 59% | 1,421€ | 1,239€ | - 12,81 |
Alemanha 56% | 1,597€ | 1,410€ | - 11,71 |
Espanha vivo | 1,327€ | 1,170€ | - 9,69 |
França 56TMP | 1,394€ | 1,261€ | - 9,54 |
Entramos agora na segunda metade de Outubro com a firme esperança de que as descidas possam ser mais reduzidas ou tenham parado por aqui, que haja algumas semanas de estabilização de preços e de equilíbrio no mercado, para que se possa começar a recuperação das cotações que é tão fundamental para todo o sector.