A pneumonia, febre, tosse e espirros causados pelo vírus influenza A (gripe) em porcos são muito comuns e podem causar perdas económicas significativas para os produtores. Os vírus da gripe em porcos mudaram significativamente nas últimas décadas com a introdução de vários vírus humanos e de aves. Isto resultou num aumento na complexidade genética viral que fez com que as infecções de gripe sejam particularmente difíceis de controlar. A gripe parece nunca desaparecer em algumas explorações e isso deve-se, não só, ao próprio vírus mas também porque existem grupos de porcos capazes de mantê-lo e espalhá-lo. Um destes grupos são os leitões antes do desmame. Os leitões podem estar infectados, mas não mostrar sinais de doença e, como consequência, são disseminadores silenciosos de gripe. Depois, num desmame, uma percentagem pequena, mas significativa, dos leitões pode ser infectada sub-clinicamente com gripe, o que significa que parecem sãos mas estão a eliminar vírus de gripe nos pavilhões de baterias ou desmame-venda.
Os leitões nascem negativos para a gripe mas, em explorações endemicamente infectadas, aquelas que têm problemas de gripe continuamente, os leitões geralmente são infectados entre o processamento e o desmame e geralmente vemos níveis de gripe que aumentam durante a segunda semana de vida. A presença de leitões positivos para a gripe é maior no desmame e, portanto, os leitões não são apenas uma fonte de infecções por gripe na exploração de mães, mas também uma importante fonte de infecção para porcos de engorda (foto 1).
É necessário compreender como é que os leitões ficam infectados quando ainda estão com a porca para o prevenir e diminuir o risco de propagar a gripe a outras explorações. Mas controlar a gripe durante o periodo anterior ao desmame pode ser muito difícil porque todos os dias nascem novas ninhadas de porcos que são susceptíveis à gripe e que podem aumentar os níveis de vírus nas salas de partos. Ainda que tudo o possível seja feito para proteger o leitão, vacinando a porca e tendo a certeza de que todos os leitões ingerem colostro que os protege, eles poderão ter gripe transmiti-la aos seus irmãos de ninhada e outros porcos que com eles contactem. Isto deve-se a que a protecção que a porca confere ao leitão, conhecida como imunidade materna, não é perfeita. A imunidade materna é importante e ajuda a melhorar o rendimento dos porcos infectados, ajudando-os a superar as suas infecções de gripe e converter-se em leitões robustos. A vacinação das porcas também é importante para reduzir a prevalência de porcos infectados com gripe ao desmame mas, por si só, não é suficiente para desmamar consistentemente porcos negativos à gripe ou porcos com níveis muito baixos de gripe.
Na Universidade de Minnesota, foi sendo medido, durante anos, o impacto dos leitões na propagação da gripe. Num estudo em 52 explorações de reprodutoras suínas nos E.U.A., 23 explorações (44%) deram positivo à RT-PCR de IAV pelo menos uma vez durante um periodo de estudo de seis meses. No momento do desmame, os grupos de leitões destas explorações também deram positivo contra a gripe aproximadamente durante 25% (75/305) do tempo. Em outro estudo, com 34 explorações durante mais de 5 anos, todas as explorações de porcas deram positivo à gripe num momento ou noutro e o nível de infecção por gripe nos grupos de porcos desmamados variou do 7 ao 57%. Mais importante ainda, aproximadamente 28% (427/1523) dos grupos de porcos foram positivos no desmame. Chegando ao desmame quase um terço dos animais positivos à gripe, o impacto destes leitões positivos pode ser tremendo para os outros porcos com os que são alojados quando crescem.
Basicamente, os leitões têm entre 21 e 28 dias para serem infectados pela gripe, dependendo da idade que tenham ao desmame. Então, a pergunta é quando e como os leitões são infectados. O contato directo nariz a nariz é uma das principais rotas de transmissão da gripe, mas outras rotas (aéreas) também são importantes. O nosso grupo estudou as fontes de exposição à gripe dos leitões antes do desmame. Além da transmissão de porco para porco (mistura de porcos) e contacto com a porca, fómites como superfícies de contacto, materiais contaminados e ar podem conter vírus infecciosos.
Uma descoberta recente do nosso grupo foi a detecção de vírus da gripe na pele do úbere das porcas lactantes (foto 2). As porcas que têm leitões lactantes infectados com a gripe provavelmente estarão contaminadas ou infectadas com a gripe. Os leitões infectados provavelmente depositam suas secreções nasais e orais contaminadas na pele da porca. Esta foi uma observação importante que tem implicações para o maneio, uma vez que as porcas que adoptam leitões (isto é, porcas mães adoptivas) podem representar uma fonte de infecção para porcos recém-adoptados. De facto, demonstramos, quer experimentalmente quer em condições de campo, que as porcas mães adoptivas desempenham um papel na manutenção de infecções endémicas por gripe em explorações de reprodutoras. Os leitões adoptados por porcas seleccionadas no desmame tiveram maior probabilidade de serem infectados com a gripe e deram positivo mais rapidamente do que os porcos criados por suas mães biológicas. Esses estudos indicam a importância de entender o impacto das práticas de maneio na transmissão de doenças.
Para terminar, o êxito no controlo das infecções activas de gripe em porcos em crescimento dependerá da capacidade da exploração de porcas desmamar porcos negativos ou porcos que não representem um risco de propagação da gripe ao desmame. Portanto, é extremamente importante que sejam bem compreendidos os factores que contribuem para as infecções de gripe nas explorações de reprodutoras. Para controlar a gripe nas explorações de mães e proteger assim os leitões, será importante aplicar a investigação à exploração e usar novas ferramentas, quando estas se encontrem disponíveis.